Liderar pessoas exige diversas competências. Uma delas é o profundo conhecimento que se tem de si mesmo e do alcance de suas atitudes. As atitudes do líder refletem diretamente sobre sua equipe, passando a mesma ser o reflexo da liderança. Como professor, consultor e executivo em diversas empresas e por mais de três décadas, tenho comprovado o quanto isso é verdade, bem como, é possível reconhecer as adversidades que o líder precisa superar para levar sua equipe a gerar os resultados pretendidos.

Para efeito deste artigo, vou considerar líder aquele profissional que com ou sem as prerrogativas da formalidade de uma função, exerce influência nas pessoas e as ajuda dar o melhor de si. Também vou considerar que o líder, apesar de tirar o máximo e o melhor das pessoas, as trate com respeito, dignidade e, sobretudo lute incansavelmente para manter suas integridades.

Revisitando os líderes atuais e passados, não posso deixar de colocar no topo da minha lista a figura do Sir Ernest Shackleton, que em 1014 realizou uma expedição de exploração a Antártida e teve seu navio, o Endurance, e toda a tripulação preso nas geleiras, por quase dois anos, mas que heroicamente conseguiu regressar com todos são e salvo a terra firme. Para Sheckleton, nada era mais importante que as pessoas que ele liderava.

Seja em situações extremas vividas pela tripulação do Endurance ou no dia a dia de pressão das organizações, o líder tem papel fundamental e cabe ao mesmo estar preparado para cumprir sua missão. Entre as diversas competências necessárias, neste artigo vamos focar na capacidade de lidar com o ambiente e o autoconhecimento.

Saber fazer a leitura do ambiente é fundamental e algumas situações determinantes. Cabe ao líder entender o contexto ambiental e agir de forma a manejar o ambiente de forma a torná-lo o melhor possível para sua equipe e projeto. Modernidade ou tradição, agressividade ou calmaria são fatores que o líder competente precisa entender e agir em sintonia para ter sucesso. O líder que não consegue se adequar ao ambiente pode se sair mal e levar a sua equipe ao fracasso. Por outro lado, na perspectiva da organização, cabe ao líder, escolher imediatos e equipes que tenham mais probabilidade de sucesso em determinados ambientes e circunstâncias do que em outros.

Liderar os outros pressupõe antes de qualquer coisa liderar e ter o completo domínio de si próprio. Quantos de nós podemos dizer que se conhece na plenitude? Que tem domínio pessoal? Frequentemente, quando falamos de nós mesmos terminamos por fazê-lo de maneira errática e inconsistente. Confundimos causas, sintomas, percepções e sentimentos. Temos dificuldade de ver quem realmente está no espelho. E quanto ao nosso domínio pessoal? Aqui as coisas ainda podem ser piores. Que exemplo damos no dia a dia para os nossos liderados?

O domínio pessoal significa saber lidar com as próprias atitudes e controlá-las para obter os resultados desejados.

Liderar os outros traz ainda mais desafios. Os liderados frequentemente veem os líderes como figuras de autoridades mal resolvidas em suas vidas. Dificuldades encontradas nas relações anteriores com os pais, professores e todas as demais formas de autoridade vivenciadas são projetados no atual líder, que as recebe de herança. Dessa forma há dois tipos de forças: o líder em relação à sua equipe e a equipe em relação ao líder.

Por outro lado, quanto mais os profissionais vão se educando e tendo acesso as informações, a máxima “manda quem pode, obedece quem precisa” fica cada vez mais ultrapassada e o exercício do poder de forma autoritária, vai perdendo espaço. A atividade de liderança será cada vez mais exigente e não deve ser vista como algo natural. Muito pelo contrário, as exigências para o exercício da boa liderança hoje são muitas e em alguns casos bastante complexas.

Ter a atitude correta pressupõe entender claramente o papel do líder e possuir os conhecimentos, comportamentos e habilidades adequados. Esse conjunto, denominamos Cubo de Competência. Conhecer o objeto do seu trabalho, conceitos técnicos e gerenciais, estratégias de negócios etc., é essencial. Desenvolver habilidades de comunicação, relacionamento com pessoas, tomada de decisão e outros, são fundamentais. Finalmente, gostar do que faz e ter prazer em liderar é capital para realimentar e transformar o exercício da liderança em algo produtivo e prazeroso.

Os aspectos comportamentais têm assumido papel central nas minhas análises, entre outros motivos porque acredito firmemente que quando uma pessoa gosta do que faz, ela tende a estudar e praticar mais, fazendo com que se torne mais produtiva no médio e longo prazo.

O comportamento termina por ser o molho necessário ao exercício de qualquer papel e em especial do líder. Vejamos os seguintes exemplos:

Um líder não conhece o seu comportamento e muito menos de suas duas lideradas. Ele não sabe, mas elas são diametralmente opostas do ponto de vista comportamental. Num determinado momento ele demanda de uma algo que seria muito melhor executado pela outra. Ao final de um período esse líder conclui que suas duas profissionais são medíocres. Será? Será que se ele tivesse maximizado o comportamento de cada uma delas, o resultado seria o mesmo? Não será ele o medíocre de não conhecer o perfil de cada uma delas e solicitar algo que faz parte de suas naturezas?

Em outra situação, um líder obteve excelente sucesso com uma equipe, que sem saber tinha características bastante semelhantes as suas. Agora, de frente para uma nova equipe, com um perfil antagônico ao seu, não consegue sequer estabelecer um mínimo de comunicação eficaz e os resultados estão abaixo dos limites mínimos. Parte da equipe já manifestou seu interesse em ir para outra empresa. Quantos líderes estão sendo sucesso por acaso?

Essas são duas situações em que o líder não conhecia o seu comportamento e muito menos de sua equipe, o que invariavelmente acaba em fracasso, ainda que tivesse todos os conhecimentos técnicos e habilidades necessárias.

Não existe uma fórmula secreta que defina como uma pessoa deve agir na liderança de uma equipe e muito menos um único estilo. É necessário que cada um descubra qual o seu estilo primário e de uma forma situacional possa adequá-lo às demandas da equipe.

Os aspectos comportamentais até pouco tempo eram uma caixa preta. A metodologia DISC e os demais estudos a respeito da Gestão do Comportamento possibilitam ao líder ter instrumentos essenciais para o seu autoconhecimento e da equipe que ele lidera. Isso porque, tão importante quanto saber o seu estilo primário de liderança, é conhecer como a equipe prefere ser liderada. Essa relação deve funcionar como uma orquestra que necessita permanentemente de ajustes nos acordes para chegar à perfeição.

Quando temos liderados completamente diferentes dos seus líderes ou quando há heterogeneidade entre os participantes não havendo uma tendência no próprio grupo em si, cabe ao líder entender a situação e ajustar momentaneamente o seu próprio perfil comportamental de modo a atender ou superar as metas definidas. O exercício da boa liderança é resultado de muitos fatores. Acredito e posso afirmar que o autoconhecimento e o domínio pessoal são ingredientes muito importantes para o líder, assim como conhecer com quem se trabalha. Parafraseando Sun Tzu: Se conheces a ti mesmo e a tua equipe, o sucesso será eminente.

Por Jorge Matos, Presidente da ETALENT


Hugo Freire

Hugo produz conteúdos para ETALENT. Atuou em gestão corporativa em diversas empresas. Através das ferramentas ETALENT, descobriu seu amor pela Medicina. Foi atrás do seu sonho e hoje é nosso conteudista e correspondente na Rússia.

Todos os posts do autor