A edição do jornal O Globo deste domingo, 2 de abril de 2017, traz a manchete acima, sem a palavra “como”, que me permito acrescentar neste artigo.
A matéria mostra que, “diante da pior recessão da História do país, cresce o número de jovens que decide abrir o próprio negócio em vez de concorrer a uma vaga com carteira assinada”. Apresenta o resultado do Levantamento do GEM (sigla em inglês de Monitor Global de Empreendedorismo), que mostra que cerca de 1/5 dos jovens de 18 a 24 anos criam suas próprias oportunidades de trabalho, e que há 10 anos era metade dessa proporção.
“Especialistas ressaltam, porém, que ainda falta incentivo nas universidades para estimular o jovem a empreender” adverte o texto.
Ao ler atentamente a matéria, veremos que Tales Andreassi, vice-diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV, e coordenador do GEM, destaca que, não obstante o empreendedorismo constituir uma alternativa à juventude sem emprego na crise, isso não é necessariamente positivo, pois países pobres possuem alta taxa de empreendedorismo. E a crise trouxe o empreendedorismo por necessidade, sem preparar adequadamente os profissionais para a atividade. Faltaria, conforme dizem especialistas, “incentivo” na faculdade para empreender.
Há bastante tempo, temos defendido a tese de que essa falta de “incentivo”, ou capacitação para empreender, não é só uma questão de carência de conhecimentos ou habilidades, mas também de comportamento. Analisemos a pesquisa realizada pelo Sebrae e Endeavor sobre as disciplinas em empreendedorismo na universidade publicada na matéria de O Globo:
Disciplinas de Empreendedorismo na Universidade |
|
Inspiração para empreender | 54,4% |
Introdução ao empreendedorismo | 8,8% |
Criação de novos negócios | 7,6% |
Inovação e tecnologia | 7,0% |
Gestão de pequenos negócios | 6,8% |
Empreendedorismo social | 5,6% |
Não sei | 3,5% |
Negócios familiares | 3,4% |
Franquias |
2,9% |
Essas iniciativas, embora sumamente importantes, tocam nos aspectos cognitivos e práticos, mas não levam em consideração o estilo comportamental do empreendedor, o fator-chave para o sucesso nessa atividade.
O que aborda, de fato, a “inspiração para empreender”?
Como se pode ensinar inspiração sem levar em conta o perfil de cada pessoa: mais especialista ou mais desbravador, mais paciente ou mais auto motivado, mais relacional ou mais retraído?
A universidade e outras instituições podem capacitar um profissional a desenvolver um plano de negócios exemplar, um projeto construído no padrão dos melhores ditames técnicos do ramo, mas isso garantirá o sucesso na vida real, em que os negócios raramente se conduzem como nos manuais?
Cabe aqui uma ilustração interessante, baseada em fatos reais.
O indivíduo trabalha há anos numa empresa e, de repente (mas não tão de repente…), se depara com o “isolamento corporativo”, isto é, o desemprego. Exausto pelo desgaste de anos se dedicando a tarefas para as quais possuía possivelmente qualificação técnica, mas não necessariamente perfil comportamental, decide agora empreender. Afinal, vai ser seu próprio patrão e terá flexibilidade e criatividade liberada, já que conhece tecnicamente seu ramo como poucos. Reúne suas economias e as aplica numa franquia – provavelmente relacionada ao seu setor de domínio – ou não, se outra oportunidade aparecer. Já fez o Empretec do Sebrae, cursou matérias de empreendedorismo em universidades e já sabe como fazer o melhor projeto. Então, chega a vida real, o dia a dia das relações, a falta de um sobrenome corporativo de peso, a necessidade da venda, de bater em portas, de se preocupar com financiamento, o ouvir “não” várias vezes. Sua resiliência é requerida ao extremo. Um ano depois, nosso personagem está sem franquia, sem emprego, sem recursos e com as relações familiares comprometidas, senão com a saúde abalada. Terá ignorado seu estilo e a consciência de que deveria obter sinergia com outros talentos diferentes do seu, que, aliás, também ignora. Uma coisa é gerar um negócio, outra, um pouco diferente, é gerir esse negócio.
O Brasil – conforme edição do dia anterior do mesmo jornal nos relata – possui hoje (nas estatísticas) 13,5 milhões de desempregados, com lenta recuperação. A atividade empreendedora, portanto, assume uma importância sem precedentes neste momento histórico. Portanto, não é só uma questão do desemprego e oportunidades para os jovens, mas para todas as faixas etárias ainda ativas, e que poderiam trazer maior produtividade ao nosso país. Estatísticas mostram que nós, brasileiros, temos 1/5 da produtividade média de um profissional americano. A oportunidade de crescimento nesse campo é descomunal.
Na ETALENT, empresa de tecnologia cujo propósito é alavancar pessoas e organizações através do comportamento, já desenvolvemos, e ainda está em curso, parcerias com o Sebrae e universidades para trazer exatamente à capacitação do empreendedorismo o elemento comportamental, através da identificação dos talentos do indivíduo, correlação com perfis de funções, estratégias de desenvolvimento individual e grupal e facilitação nos processos de mudança.
Sugestão importante e oportuna, em tempo de jovens (ou não tão jovens) candidatos a empreendedores. Leia o artigo Educatividade, a educação do fazer acontecer, escrito por Jorge Matos, presidente da ETALENT. Acesse o website www.etalent.com.br.
A educação empreendedora no Brasil não pode mais prescindir da gestão e desenvolvimento comportamental, sob pena de manter o país na eterna condição de “país do futuro”, que nunca chega, pois se distancia cada vez mais, quanto mais caminhamos.
A era da gestão do comportamento, definitivamente, chegou ao empreendedorismo.
Por Sidney Frattini
Consultor Master da ETALENT desde 2000. Coach Executivo. Professor da FGV Management. Mestre em Administração pela FGV. Especializado em Recursos Humanos e Desenvolvimento Comportamental.
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Hugo Freire
Hugo produz conteúdos para ETALENT. Atuou em gestão corporativa em diversas empresas. Através das ferramentas ETALENT, descobriu seu amor pela Medicina. Foi atrás do seu sonho e hoje é nosso conteudista e correspondente na Rússia.