A princípio o gestor é o sujeito que além de fazer bem suas atividades, teria a capacidade de levar outras pessoas a fazer igual ou melhor que ele próprio. Quem são essas pessoas? Como chegaram lá? Como desafiam seus próprios medos e angústias? Como foram preparados para tais desafios? O que eles pensam? – Foi exatamente para entender como os novos líderes brasileiros estão sendo forjados no mercado de trabalho que as consultorias de recursos humanos ETALENT, LAB SSJ e Clave ouviram, aproximadamente, quatro mil profissionais atuantes em empresas dos diversos setores e portes que estão dando os seus primeiros passos como gestores. E mais: vislumbraram como as organizações podem efetivamente contribuir para aproveitar as suas habilidades e realizar a crítica transição para o estágio de liderança.

Chamou-nos a atenção um fator específico da pesquisa: uma das maiores expectativas de novos gestores é “ter que desenvolver pessoas”. Relevante para 86,6% dos respondentes, a preocupação com o desenvolvimento da equipe persiste nos primeiros tempos na função e se mantém como um dos tópicos mais importantes, mesmo após a transição para o primeiro nível gerencial. Este ponto revela como esses gestores estão afinados com a mentalidade empresarial contemporânea, segundo a qual nenhuma organização deve apoiar-se em gênios isolados que imponham as suas ideias, mas sim em equipes bem formadas que atuem como verdadeiros times. Mas há aqui outro desafio – antes de pretenderem a liderarem os outros, os gestores precisam liderar a si mesmo.

No caso brasileiro, apenas 14,5% dos gestores tiveram algum treinamento formal antes de assumir a sua primeira gestão, o que aponta para a capacidade de improvisação — característica tão tipicamente brasileira. Isto se torna ainda mais claro se colocamos na balança o seguinte: quando indagados em quais recursos buscaram apoio para solucionar as angústias no início de sua experiência como gestores, apenas 21,5% revelaram ter feito algum curso. Em geral, a maioria buscou apoio em seus líderes (78,6%) para aperfeiçoar suas habilidades de gestão. Ou seja: num modelo próximo no qual pautar as decisões do dia a dia.

Em um mercado de trabalho com presença feminina cada vez mais marcante, os resultados da pesquisa não mostraram disparidades relevantes entre homens e mulheres; apenas sutis diferenças quanto a gênero foram observadas. Antes de assumir a primeira gestão, por exemplo, as mulheres (78,1%) revelaram ter mais expectativa de definir claramente suas responsabilidades do que os homens (75,1%). De outra parte, “aprender rápido” é um desafio maior para homens (33,3%) do que para mulheres (24,8%).

Quanto ao processo de escolha para assumir sua primeira gestão, a maioria apontou a indicação do gestor direto (40,9%) como o modo mais comum, contra 7,9% que estavam mapeados e indicados no processo de sucessão formal da empresa. Isto demonstra, sobretudo, duas coisas: entre nós a seleção de novos gestores se baseia na intuição e ainda está em voga a proverbial tendência brasileira para as escolhas pessoais, em detrimento do planejamento e da visão holística, de conjunto.

“Saber lidar com conflitos” aparece como o principal desafio atual para gestores de todos os níveis. No entanto, este aspecto é mais marcante entre gestores novatos (70,2%) do que entre os mais experientes (64,5%). Outros desafios têm maior peso para gestores novatos, quando comparados à opinião dos demais: “Estimular colaboração na equipe” (58,1% novatos contra 54,1% experientes) e “aprender rápido” (32,4% novatos contra 29,0% experientes), entre outros.

Em vista destes e de vários outros fatores revelados na pesquisa, chegamos à conclusão de que as organizações deveriam oferecer diversos tipos de apoio aos profissionais estreantes em cargos de liderança. O primeiro deles tem a ver com a clareza sobre o que o novo cargo exigirá e quais competências o profissional apresenta. Isso porque, com frequência, as pessoas são alocadas em posições para as quais não têm conhecimentos, comportamento e habilidades adequadas. Muitas vezes, são elevadas ao patamar de chefia sem ter competência para tanto, o que gera um ambiente de desconfiança na equipe, que percebe o quanto o fator “mérito” ficou para segundo plano.

É necessário preparar o gestor em todos os principais conceitos relativos à gestão: de pessoas, de negócios — como marketing, finanças, recursos humanos, inovação, comercial — e também de motivação, delegação, desenvolvimento, relacionamento interpessoal, mudanças etc. Oferecer um tutor ou coaching para esse profissional também é fundamental, pois ele servirá para orientar e apoiar o novo gestor nos momentos de dificuldades ou dúvidas, que certamente serão uma constante nesta fase. Além disso, é importante que a organização ofereça acesso a programas de desenvolvimento, utilizando as diversas mídias disponíveis.

Na verdade, não existem fórmulas mágicas para o sucesso, mas ações simples — como a criação de grupos de discussão entre gerentes para avaliar posicionamentos da organização e o monitoramento por parte dos mais experientes — são pontos essenciais para o bom desenvolvimento de um novo gestor.

A pergunta fundamental que os executivos de primeira linha precisam responder não é “o que” traz competitividade organizacional, mas sim “quem”. São as pessoas que dão vida à empresa e elas precisam ter conhecimentos, comportamentos e habilidades adequados aos seus cargos, para poderem gerar os resultados esperados.

Dentro dessa perspectiva um novo corte da pesquisa, considerando os aspectos comportamentais, está sendo analisado e em breve serão apresentados. Até lá!

Por Jorge Matos, Presidente da ETALENT


Hugo Freire

Hugo produz conteúdos para ETALENT. Atuou em gestão corporativa em diversas empresas. Através das ferramentas ETALENT, descobriu seu amor pela Medicina. Foi atrás do seu sonho e hoje é nosso conteudista e correspondente na Rússia.

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