A liderança feminina nas empresas é um assunto que vem sendo cada vez mais debatido, embora esse tipo de representatividade ainda esteja muito aquém do ideal. Com o passar das últimas décadas, as discussões a respeito da igualdade de gênero, até então muito restritas aos ambientes universitários, tornaram-se mais populares, o que fez com que as disparidades entre homens e mulheres ficassem ainda mais evidentes, principalmente no contexto profissional. E mesmo que já existam dados que comprovem os bons resultados obtidos por mulheres no comando de suas equipes, elas ainda representam uma baixa parcela dos profissionais que ocupam posições de liderança.

De acordo com uma pesquisa recente realizada em 400 empresas pela Teva Índices e apresentada no Summit ESG, evento on-line realizado pelo jornal Estadão, apenas 14,7% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres. Mesmo que este grupo colabore em pontos importantes como flexibilização, criatividade, inovação e aumento da diversidade, fatores considerados essenciais para que uma empresa mantenha sua competitividade, as mulheres ainda vêm se deparando com empecilhos para chegar às posições de comando em suas organizações.

No artigo de hoje, vamos discutir sobre a importância da presença feminina nos cargos de alta gestão corporativa e como a presença de mulheres talentosas nessas funções vem trazendo bons resultados para as empresas!

 

Liderança feminina no mundo corporativo

Como um dos resultados diretos das lutas do movimento feminista, formado a partir de grupos diversos que defendiam a igualdade de direitos entre os gêneros, a liderança feminina defende que mais mulheres ocupem posições na alta hierarquia das organizações, como em diretorias e cargos C-level. Apesar da ideia ser aparentemente simples de ser implementada, foram necessárias décadas de mobilização para que as mulheres pudessem estar presentes em espaços comumente vetados a elas nas sociedades das décadas passadas, como a política e o próprio mercado de trabalho.

A desigualdade de gênero é uma marca de séculos que ainda se reflete na atualidade. Antigamente, era comum que o gênero de uma pessoa estivesse diretamente relacionado ao seu papel social – o que era reforçado desde criança. Enquanto os meninos faziam atividades que desenvolviam sua força física e eram preparados para a educação formal, já que sua função futura seria a de provedor da família, as meninas ficavam restritas aos afazeres domésticos, como cuidar dos irmãos e da casa – tarefas que eram consideradas inferiores.

Por conta disso, era comum que as mulheres ficassem isoladas, não participassem do mundo externo e nem tomassem decisões que pudessem afetar sua comunidade. Quando finalmente conquistam direitos como o voto e o acesso à educação, começam a se inserir no mercado de trabalho, em cargos como auxiliares, onde permaneceram por muito tempo.

No livro A Dominação Masculina (1995), o sociólogo Pierre Bourdieu descreve esse processo como o fruto de uma cultura onde as mulheres são criadas para ocupar espaços subalternos da sociedade, o que acaba resultando, ainda hoje, em sua baixa participação em algumas esferas sociais.

E, mesmo que na atualidade alguns paradigmas já tenham sido quebrados e as mulheres correspondam a uma parcela importante dos profissionais ativos, algumas pautas que surgem nessas circunstâncias, como a equidade entre salários, que chegam a ser 14% menor para mulheres, além de treinamentos e condições igualitárias entre os gêneros, ainda evidenciam a diferença nos tratamentos dados a homens e mulheres.

A prova dessa condição, infelizmente, são os baixos números, como os apontados por esta pesquisa realizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Segundo os dados levantados, em países em desenvolvimento, 42% do trabalho realizado por mulheres está relacionado a atividades sem nenhum tipo de remuneração, enquanto a porcentagem para os homens é de 20%. Outro dado alarmante apontado pelo estudo é que apenas 48,5% das mulheres fazem parte da força de trabalho desses países. Quanto aos homens, esse número chega a 75%.

O contexto social representa um desafio à parte para as profissionais inseridas no mercado. Discriminação, falta de reconhecimento e de espaço para crescimento, preconceito atrelado ao gênero, além da dificuldade de lidar com as múltiplas jornadas de trabalho, quando ficam responsáveis por lidar com as demandas do cargo, da casa e dos filhos, são algumas das dificuldades enfrentadas no cotidiano dessas mulheres. Isso sem mencionar os constantes casos de assédio em ambiente de trabalho, dos quais as profissionais do gênero feminino são a principal vítima.

Se os desafios para entrar (e se manter) no mercado de trabalho já são grandes para essas profissionais, para ocupar cargos de liderança eles se tornam maiores ainda. Segundo uma pesquisa realizada em 2019 pela Bain & Company em parceria com o LinkedIn, apenas 3% dos líderes empresariais brasileiros são mulheres, número que ganha ainda mais contraste pelo fato de que elas correspondem a quase 60% dos estudantes universitários do país. Nos cargos gerenciais, a porcentagem também é alarmante: de acordo com o IBGE, não chegam a 38%.

Não à toa, um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU no Brasil é a igualdade de gêneros:

Objetivo 5 – Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
5.5 – Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública.

E antes que se pense que essa baixa participação pode estar relacionada ao desempenho dessas profissionais, já avisamos: apesar dessas circunstâncias, os benefícios trazidos por elas às empresas são incontestáveis. Esse é o assunto do nosso próximo tópico!

 

Por que ter mulheres na liderança?

Há muitas formas de responder esta pergunta, considerando as mais diversas esferas e argumentos. De um ponto de vista social, a liderança feminina no mercado de trabalho é importante para combater a discriminação de gênero nas empresas e dar oportunidades para profissionais adequadas que, por vezes, são desconsideradas única e exclusivamente por serem mulheres.

Já em relação aos aspectos econômicos brasileiros, a presença delas em cargos altos e com salários equivalentes aos dos homens resultaria em um aumento expressivo do PIB, já que elas são responsáveis por sustentar financeiramente 45% das famílias brasileiras.

Mas essas não são as únicas dimensões em que as lideranças femininas representam ganhos significativos – dentro de suas próprias empresas, a presença dessas profissionais é benéfica. Em um estudo realizado pelo Peterson Institute of International Economics, ficou constatado que as organizações que aumentaram a presença de mulheres em cargos altos em até 30% viram um crescimento de 15% em sua rentabilidade. Para que esse resultado fosse obtido, foram utilizados dados de mais de 22 mil empresas de 91 países diferentes.

A diversidade entre gêneros é essencial para tornar a visão da organização mais ampla e humanizada, já que passa a adotar perspectivas e vivências de grupos sociais distintos. Desta forma, é possível ter trocas mais ricas e significativas, que impactam tanto os resultados coletivos quanto os individuais. Empresas que possuem equipes executivas que contam também com mulheres têm 14% mais chances de superar seus concorrentes, como aponta a pesquisa realizada pela consultoria McKinsey.

E os bons resultados não param por aí. De acordo com um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), organizações com pelo menos uma mulher em uma posição hierárquica alta têm melhores notas em índices ESG, tanto de maneira geral, quanto nos aspectos ambientais e sociais de forma isolada. Alguns estudos apontam, também, que as mulheres têm desempenho melhor do que homens em posições de liderança, estabelecem padrões maiores de qualidade e que os colaboradores preferem trabalhar com uma delas gerindo suas equipes, como mostra essa matéria da revista Forbes.

Cantora Beyonce dizendo "Eu não sou mandona. Eu sou quem manda".“Eu não sou mandona. Eu sou quem manda.”

 

As características da liderança feminina

Antes que listemos as características mais comuns entre as líderes e gestoras, vale ressaltar que o estilo de liderança é particular de cada um e, por isso, reforçar estereótipos como o de que as mulheres se baseiam em suas emoções e desconsideram a racionalidade quando estão no comando não é razoável. Todavia, entre as características que normalmente se destacam quando mulheres talentosas se sentam em cadeiras de alta hierarquia, citamos:

Liderança horizontal

A liderança horizontal é caracterizada pela ruptura da hierarquia e pela inclusão dos liderados nos processos. Esse modelo encoraja a participação e a colaboração nas equipes, seja através de feedbacks, rodas de conversa, brainstorms ou reuniões. A descentralização do poder é uma marca desse tipo de liderança, bastante popular entre as gestoras.

Valorização da cooperação

A tendência à cooperação também é característica das lideranças femininas e fica ainda mais evidente quando um modelo horizontal de liderança é estabelecido. Essa é uma maneira eficiente de incentivar os liderados a colaborarem entre si e compartilharem problemas e soluções, o que é bom tanto para os resultados individuais quanto os gerais.

Melhora no clima organizacional

Trabalhar em uma empresa com um clima organizacional tranquilo é um benefício que não apenas alavanca resultados como também apresenta impactos positivos na saúde mental das equipes. Em cargos de liderança, as mulheres tendem a prezar por posturas colaborativas e não autoritárias, o que ajuda muito na construção de ambientes de trabalho em que a harmonia e a produtividade são valorizadas. Quando isso faz parte da cultura organizacional da empresa, pode vir a se tornar até mesmo um diferencial competitivo.        

Empatia

Devido à forma com que são criadas e pelo fato de ocuparem espaços de menos prestígio por conta do sexismo na sociedade, as mulheres têm mais facilidade de sentir empatia e se colocar no lugar dos demais. Líderes empáticos conquistam a confiança de suas equipes e conseguem construir boas relações com os liderados, o que é muito valioso para a sinergia e ajuda a melhorar o rendimento.

 

Como aumentar a liderança feminina na sua empresa?

Em longo prazo, existem algumas estratégias eficientes para que o número de mulheres exercendo papéis de liderança seja aumentado em uma empresa. A primeira delas é promover a diversidade na cultura organizacional para que seja receptiva às profissionais e às suas contribuições, ideias e projetos. Possuir uma postura amigável e aberta às considerações das mulheres faz com que elas se sintam mais confiantes para contribuir, principalmente quando consideramos que elas têm de lidar com desafios cotidianos que os colegas homens muitas vezes desconhecem, como o fato de terem suas falas interrompidas com mais frequência.

A segunda estratégia para conseguir esses resultados é incluir políticas que promovam a igualdade de gênero dentro da empresa. Para tal, algumas sugestões são realizar processos seletivos mais inclusivos, ficar atento à quantidade de mulheres presentes no Capital Humano da empresa, desenvolver planos de carreira que evitem a rotatividade destas profissionais e, é claro, oferecer os mesmos salários para colaboradores que desempenhem as mesmas funções, independentemente de seu gênero.

Essa estratégia fica ainda mais eficiente com a utilização do  Assessment Center ETALENT. Através dele, é possível realizar avaliações de desempenho completas e totalmente imparciais em relação ao gênero do colaborador. Assim, pode-se identificar os pontos de maior destaque de cada profissional e garantir que estejam exercendo papéis onde são mais eficientes e produtivos.

Em conjunto com o Etalent PRO, nossa plataforma de gestão de pessoas que avalia os perfis comportamentais e seleciona os mais adequados para determinados cargos, fica mais fácil compreender qual colaborador exercerá melhor uma função e contratá-lo com base nessa informação, independentemente do fato de se tratar de um homem ou de uma mulher.

Outra estratégia eficiente para aumentar a liderança feminina é oferecer mentorias e treinamentos específicos. Se, na empresa, há mulheres exercendo cargos de alto nível hierárquico, elas podem ser mentoras de outras profissionais, para que fiquem cada vez mais capacitadas a assumirem funções semelhantes e tenham o apoio necessário para tal. Além disso, cursos como o Workshop de Liderança Comportamental, onde o foco é treinar líderes para exercerem essa competência de forma mais eficiente e otimizada, também são de grande auxílio para o desenvolvimento dessas futuras líderes.

Por último, mas não menos importante, é extremamente necessário que a empresa se mostre intolerante e irredutível quanto aos casos de assédio e de violência no ambiente de trabalho. Como mencionamos, as mulheres são as principais vítimas desses crimes e, por isso, é crucial mostrar respeito e apoio a elas, além de combater esse tipo de conduta diariamente. Desta forma, o ambiente de trabalho da sua empresa se torna seguro para que elas se desenvolvam tanto no âmbito profissional quanto pessoal.

 

Exemplos inspiradores de liderança feminina

Jacinda Adern

Jacinda Adern, Primeira-ministra da Nova Zelândia
Imagem: Divulgação/Getty Images (Créditos: Hagen Hopkings)

O nome de Jacinda Adern tornou-se muito popular no último ano. Isso porque a Primeira-Ministra da Nova Zelândia se transformou em uma referência mundial no combate à pandemia de coronavírus. Desde o início, Adern implementou regras rígidas de distanciamento social, fechando empresas, comércios e fronteiras, e realizou testagens em massa para controlar o número de casos ativos da doença no país. Os resultados não poderiam ter sido melhores: até agosto/2021, a Nova Zelândia havia registrado menos de 2,7 mil casos e apenas 26 mortes por COVID-19. A pandemia no país encontra-se em estado controlado e, por conta disso, as atividades cotidianas, como ir a shows, bares e casas noturnas, já podem ser realizadas, sem necessidade do uso de máscaras. Os excelentes resultados aumentaram a popularidade da Primeira-Ministra, que foi reeleita em outubro de 2020.

Luiza Trajano

Luiza Trajano, empresária
Imagem: Lailson Santos/VEJA.

Luiza Trajano é um dos grandes nomes do empreendedorismo brasileiro e não à toa. Ela é a grande responsável pela Magazine Luiza, rede que há anos lidera o mercado nacional varejista. A empresa foi a primeira a implantar o serviço de comércio eletrônico e desenvolver, assim, o conceito de loja virtual, o que fez com que Luiza Trajano se tornasse uma das maiores representantes de e-commerce no Brasil. Atualmente, ela é a CEO da empresa e viaja pelo país dando palestras sobre a importância e a necessidade de profissionais mulheres nas organizações.

Malala Yousafzai

Malala Yousafzai, ativista paquistanesa
Imagem: Divulgação/Getty Images (Créditos: EIF & XQ)

Mesmo que ainda seja jovem, a ativista já é apontada como uma das grandes personalidades do século XXI. Malala ficou conhecida mundialmente após sofrer um atentado em 2012, quando se opôs à proibição do acesso à educação para mulheres paquistanesas em uma região dominada pelo talibã. O engajamento por essa causa transformou-a numa grande ativista que, aos 17 anos, conquistou um prêmio Nobel da Paz. Desde então, Malala segue enfrentando os desafios e inspirando pessoas do mundo inteiro.

Apesar dos baixos números e dos muitos percalços do caminho, no artigo de hoje, vimos que a presença feminina em posições de liderança é benéfica e vantajosa não apenas para essas profissionais, como também para as empresas onde atuam. É essencial investir no desenvolvimento delas, seja através de planos de carreira estratégicos ou com um programa de coaching on-line voltado para a mudança pessoal através do autoconhecimento, como o MyEtalent.

Apoiando-as para que se tornem profissionais mais completas e fornecendo tratamento igualitário, será uma questão de tempo até para que a tão desejada equidade entre gêneros seja alcançada no âmbito profissional. E somente desta forma, é possível dar os primeiros passos para um futuro com mais mulheres e menos desigualdades.

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Fernanda Misailidis

Fernanda Misailidis é jornalista e atua como Assessora de imprensa e Embaixadora da ETALENT. Carioca, é apaixonada por artes, ama estar nos palcos e não vive sem teatro.

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