Mesmo que ainda seja recente, o ano de 2020 já está marcado na história da humanidade – infelizmente, por conta de uma calamidade de proporções monstruosas. Como todos sabemos, o período representa o surgimento da pandemia de coronavírus que, no momento em que escrevemos este texto, já datava de um ano e dois meses no Brasil. Durante esse tempo, enquanto procurávamos seguir os protocolos de segurança, notamos que muitas de nossas relações sociais tiveram que mudar e se adaptar às novas exigências. Não é nenhum exagero dizer que foi necessário nos reeducarmos para aprendermos a lidar com essa nova realidade.
O isolamento social é um desafio à parte. Para os que não têm contato com outras pessoas, a medida pode proporcionar uma sensação de solidão interminável. Até mesmo quem nunca ligou muito para companhia de outras pessoas pôde sentir falta do contato humano, um abraço ou de uma conversa olho no olho, sem nenhuma tela para mediar.
Mas se engana quem pensa que estar em isolamento com a família é uma colônia de férias. Com possibilidades restritas de lazer e sem muitas saídas para aliviar o estresse, os conflitos domésticos também marcaram o período. Um exemplo prático desse efeito é o número elevado de pedidos de divórcio constatado em diversos lugares do mundo – como em Xiam, na China, onde houve recorde de casos após o período mais restrito de confinamento, segundo dados levantados pela BBC.
Manter a positividade e a energia durante esse período, no entanto, não é impossível. Há algumas maneiras de aproveitar esse momento para investir nas relações, sejam elas familiares, amorosas ou profissionais. Neste artigo, vamos te mostrar algumas sugestões e dar dicas para superar esse momento difícil de maneira saudável!
Restrições sociais impostas pela pandemia
É comum que a quarentena seja bastante desagradável para quem a vivencia. Estar em isolamento rigoroso significa não poder estar com parentes, amigos ou namorado(a), além de não poder frequentar lugares públicos, o que poderiam ajudar a lidar com o estresse. Somado a isso, ainda há a incerteza sobre quando a pandemia vai acabar, questões econômicas, como desemprego, o medo de contrair a doença ou que algum familiar contraia e o pânico por conta das notícias, além das questões rotineiras, que ganham peso nesse contexto, como o tédio, a monotonia e a falta de atividades físicas.
Uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) constatou que os índices de depressão, ansiedade e estresse aumentaram durante os primeiros meses de pandemia, assim como o número de pessoas que relataram sintomas relacionados às essas doenças.
A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) também fez alertas sobre o aumento nos fatores de riscos de suicídios gerado pela situação atual. Segundo a declaração dada pela OPAS, duas importantes medidas de prevenção durante o período de distanciamento social são as pessoas continuarem se comunicando, seja através de redes sociais, aplicativos ou telefone, e buscarem acompanhamento profissional para identificarem sinais de alerta.
Sem a possibilidade de mudar de ambiente para amenizar o estresse e, por vezes, até mesmo de adaptar a rotina a algo que ofereça satisfação real, as vulnerabilidades emocionais das pessoas aparecem. Os medos, as angústias e a raiva são comuns. Neste momento, desenvolver o autoconhecimento para lidar melhor com as emoções é essencial. Conhecer a si mesmo, respeitar seus limites e conseguir manter-se são em um período tão difícil pode ser a diferença entre sofrer com as novas restrições ou adaptar-se a elas de maneira saudável.
As relações familiares
Um das aspectos mais afetados pela pandemia de coronavírus foi a dinâmica familiar entre as pessoas. Se antes estávamos acostumados a conviver por períodos mais curtos com nossos cônjuges, filhos(as), pais ou quaisquer pessoas com quem moramos, a necessidade de isolamento fez com que o contato se transformasse em algo contínuo. Com o lockdown, há muita gente trabalhando e estudando via internet dentro de suas próprias casas, o que, somado ao estado emocional trazido pelo contexto, pode ser a receita explosiva para o início de uma série de conflitos familiares.
Como na cidade de Xiam, o Brasil também teve alta no número de divórcios. Segundo dados levantados pelo Colégio Notarial do Brasil (CNB/CF), houve aumento de 54% nos pedidos entre abril e maio de 2020 – muitos deles, feitos sob a justificativa de incompatibilidades descobertas durante o período de pandemia.
Outra taxa que teve um crescimento alarmante durante o período de reclusão foi a de violência doméstica. De acordo com o jornal O Globo, no Rio de Janeiro, a alta foi de 50% entre março e maio de 2020. Mas os números identificados ainda estão aquém dos fatos, porque muitas pessoas ainda têm medo de denunciar seus agressores.
Para buscar ajuda ou denunciar casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, você pode ligar para 180, enviar mensagem via WhatsApp para o número (61) 99656-5008 (denúncia anônima).
Apesar dessas tristes constatações, esse período de maior contato e convivência familiar pode gerar bons frutos também. Isolados em casa, os pais têm a oportunidade de se aproximarem dos filhos e estreitar os laços afetivos, conhecendo melhor suas personalidades e podendo, inclusive, ajudá-los a passar por um momento tão turbulento.
Em pesquisa realizada pela Fundação Canadense de Saúde do Homem (CMHF), constatou-se que 60% dos 1.000 entrevistados identificaram mudanças positivas em sua dinâmica familiar durante a pandemia. Nessa nova configuração, as fases das vidas das crianças e adolescentes ficam mais aparentes para os pais, visto que há a possibilidade de não se ausentar por questões de trabalho.
Quando conhecemos a nós mesmos e às pessoas à nossa volta, fica muito mais fácil construir uma relação saudável e respeitar a subjetividade de cada um. Como pai ou mãe, é importante manter o equilíbrio comportamental para ter atitudes que possam ajudar quando necessário. É preciso acompanhar, fazer-se presente e ser referência. Procurar sempre entender e respeitar. Nesses tempos, há melhora nas interações entre pais e filhos, maior quantidade de conversas e mais apoio oferecido, seja emocional ou até educacional, o que cria mais oportunidades para que o núcleo familiar se conheça e melhore seu entrosamento. Basta saber aproveitar!
As relações amorosas
O isolamento social pode ser um processo bastante desagradável para os casais que não moram juntos. Nesses casos, o ideal é que a comunicação seja adaptada para modelos mais seguros durante a pandemia. O processo não é nada fácil, é claro. Mas é bom tentar manter em mente que é possível alimentar uma relação à distância utilizando aplicativos, telefone ou internet.
Em entrevista, o psicólogo Aílton Amélio da Silva, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), afirma que, para os casais que têm boas relações, o distanciamento ajuda a aproximarem-se. Já os que mantêm relacionamentos “esvaziados” tendem a se afastar ainda mais.
A fala do professor também se aplica aos casais que partilham uma casa. O convívio em demasia pode, sim, resultar em conflitos, como vimos com as pesquisas sobre o aumento dos divórcios. Neste período, cabe avaliar a relação e tentar compreender como ela anda. Pensar em questões como a proximidade com o seu cônjuge, a disposição para dar atenção e carinho, seus sentimentos a respeito da relação e o quanto vocês têm a afinidade tornou-se essencial. Mais do que nunca, é preciso olhar para dentro para compreender o que acontece fora.
Estando em casa, fica mais fácil investir nas relações familiares. Com os casais não é diferente. Essa pode ser a oportunidade ideal para tirar um tempo para conversar, se conectar, assistir a um filme ou tomar uma boa taça de vinho juntos. As relações pessoais sempre são beneficiadas quando há entrosamento e respeito entre os indivíduos. Vale a pena usar esse tempo extra para construir relacionamentos mais estáveis e saudáveis – afinal, estar em sincronia com o seu parceiro que está isolado na mesma casa que você é, definitivamente, o melhor dos cenários.
As relações de amizade
De forma geral, a pandemia mudou a forma com que as pessoas se relacionam. Mas com as amizades, em especial, esse processo foi ainda mais brusco. Para os que estavam acostumados a receber os amigos em casa, fazer jantares, festas e outros tipos de interações sociais, as restrições certamente deixaram um vazio na rotina. Agora, precisamos utilizar chamadas de vídeo e aplicativos diversos para nos manter conectados e suprir nossa necessidade social, que se torna ainda maior no isolamento.
Sob esses novos moldes, as redes sociais assumiram papéis distintos. Segundo Adriana Müller, psicóloga e comentarista da rádio CBN Vitória, as plataformas on-line tornaram-se novos locais para os relacionamentos, já que os encontros presenciais estão restritos. Isso trouxe consequências curiosas, como a utilização das redes para avaliar o comportamento das pessoas durante a pandemia. Questões como o desrespeito às regras de isolamento e posições políticas e religiosas têm sido responsáveis pela revisão e, em alguns casos, até o afastamento de amizades. O sentimento de incompreensão tem sido cada vez mais comum, de acordo com a psicóloga.
Assim como nos relacionamentos amorosos, o distanciamento pode servir para estreitar laços verdadeiros de amizade. Mesmo que gostemos de estar em contato com várias pessoas, muitas vezes, o meio em que vivemos não é, necessariamente, de amizades. Gastamos energia tentando nos relacionar com diversas pessoas ao mesmo tempo, mas, nesse momento, a tendência é que isso seja mais focado e limitado a alguns laços específicos.
Nesta matéria do jornal português Público, essa “seleção natural” fica evidente. Nela, os entrevistados relatam que, depois de mais de um ano de pandemia, entendem melhor suas relações e em quem podem, de fato, confiar para passar pelo período.
As relações profissionais
A necessidade de isolamento trouxe consequências diretas ao ambiente profissional – a começar pela implantação do home office. A medida, que já vinha ganhando adeptos mesmo antes da COVID-19, tomou força com o fechamento de escritórios, comércios e outros ambientes profissionais.
Infelizmente, para algumas pessoas, essa nova forma de trabalhar não foi o suficiente para manter o ofício – os níveis de desemprego, que já eram altos, subiram ainda mais. A economia foi afetada e houve cortes salariais. E esse panorama contribuiu para que muitas relações entre chefes e funcionários se tornassem mais tensas. Com o aumento da pressão por mais resultados em menos tempo e os desgastes trazidos pelo isolamento, os conflitos ficaram evidentes.
Mas isso não quer dizer que nada possa ser feito para melhorar a situação – aliás, as crises são boas oportunidades para o nosso próprio desenvolvimento profissional, já que somos estimulados a ser ainda mais certeiros e eficientes.
Diante desse desafio, é importante sempre manter-se equilibrado. Responder um colega de trabalho de forma incisiva, agressiva ou arrogante, ainda que como uma estratégia de defesa, contribui para que o clima seja ruim, principalmente quando consideramos que as pessoas estão mais vulneráveis nesse período. A melhor forma de colaborar é gerenciando o próprio comportamento, a fim de evitar colocar lenha nessa fogueira.
E, sem dúvida, desenvolver o autoconhecimento ajuda nessa jornada, já que, com maior consciência de nós mesmos, nos tornamos mais eficazes quando tentamos nos autogerir. É uma ideia simples: quando descobrimos quais tipos de situações nos estressam, podemos evitá-las ou aprender a lidar melhor com elas, o que resulta em menos negatividade, angústia e, naturalmente, menos conflitos.
Se já tínhamos tendências de negligenciar nossos aspectos emocionais antes mesmo do isolamento, o home office pode tornar isso ainda pior, já que a sensação que temos é que nunca paramos de trabalhar. Nessa matéria do jornal da USP, constata-se uma relação entre o aumento do efeito burnout e a cobrança por produtividade durante a pandemia que, somada a outros fatores, influencia no desgaste e no esgotamento mental.
Oh, meu Deus, eu preciso de ajuda.
Por isso, é essencial saber estabelecer limites para você mesmo, no sentido de suprir as necessidades de lazer e diversão, como também ter momentos de parar para fazer algo que gosta única e exclusivamente porque te fazem feliz. Pequenas atitudes como essas ajudam a manter o equilíbrio e, como consequência, a evitar o esgotamento.
Dicas para manter bons relacionamentos
Cuide de si mesmo
A principal forma de construir estabilidade em relacionamentos externos é investir na sua relação com você mesmo – afinal, nossos conflitos internos sempre refletem nos meios em que vivemos. É importante não ser negligente com suas necessidades e estar sempre fazendo coisas que te deixem feliz para compensar os estresses que você vai ter durante esse período. Uma medida que pode te ajudar a executar essa tarefa é escrever uma lista com esses itens. Esforce-se para tentar realizar alguns deles todos os dias!
Lembre-se de que você não está sozinho
Apesar do isolamento e do sentimento constante de solidão, lembrar que estamos todos no mesmo barco pode confortar. Além disso, procurar manter o contato com pessoas queridas ajuda a suavizar essa sensação. Comunique-se, mantenha suas emoções alinhadas, aceite a vulnerabilidade do momento e, se possível, permita-se dividir o peso com alguém. Afinal, já dizia aquele provérbio popular: “nenhum homem é uma ilha”.
Estabeleça limites entre o trabalho e a vida pessoal
Ao trabalhar, estudar e realizar outras atividades em casa, fica fácil perder a noção do tempo e, por consequência, o equilíbrio. Ter uma rotina desenhada e respeitar seus horários é muito importante para manter a mente saudável durante esse período. Preocupe-se em estabelecer (e cumprir!) seus horários de trabalho e de lazer. E, é claro, considere sempre incluir as pessoas que você ama nessa rotina, sejam seus amigos, seus pais, seu cônjuge ou filhos. Ter um espaço dedicado a eles vai fazer muito bem não apenas para os relacionamentos, mas também para você!
Respeite o tempo e o espaço dos outros
A convivência e o tempo em casa aumentaram, mas a necessidade de ficar sozinho de vez em quando continua a mesma, seja para ver um filme, ler um livro, navegar nas redes sociais ou só ficar quieto com os seus pensamentos. Cada pessoa reage de uma forma à companhia de outras, mas é sempre bom dar espaço e evitar sufocar os demais durante esse período. Isolados, alguns indivíduos tendem a procurar mais formas de se comunicar e, por conta disso, podem invadir o espaço alheio. Esteja sempre atento para evitar essa situação!
Como conhecer o seu comportamento e o das pessoas influencia nas relações sociais
“Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta”
– Carl Jung
A citação de Jung sumariza o conceito de autoconhecimento para a psicologia. Quando nos conhecemos, somos capazes de potencializar o controle sobre nossas emoções, refletir melhor sobre as escolhas e, também, sobre as frustrações. É como conhecer um terreno onde queremos construir uma casa: é preciso saber onde é seguro construir a fundação; caso contrário, podemos ter problemas.
Em tempos difíceis como os dessa pandemia, estar ciente de nosso comportamento e de nossas necessidades faz toda a diferença. Assim, nos tornamos capazes de discernir nossas principais características e utilizá-las da melhor maneira possível, seja para aumentar nossa produtividade no trabalho, melhorar nossas relações ou apenas para lidar de forma mais eficiente com o isolamento social. A compreensão sobre nós mesmos torna claros e visíveis os caminhos que são ecologicamente humanos para nós.
Na ETALENT, estimulamos o autoconhecimento através da Metodologia DISC. Essa é uma das ciências comportamentais mais utilizadas no mundo, que permite mapear o estilo comportamental de cada indivíduo usando informações relacionadas às suas preferências, tendências, modo de pensar, agir e sentir. Com o DISC, é possível observar a existência de diversos perfis organizados a partir de quatro fatores principais: Dominância, Influência, eStabilidade e Conformidade.
Cada um desses fatores possui características específicas que definem o estilo comportamental de uma pessoa. É importante ressaltar que todos nós possuímos os quatro em diferentes níveis de intensidade, e é justamente esse fato que torna possível formar as análises comportamentais. Pensar no estilo de cada um pode ilustrar por que cada pessoa se relaciona de maneira diferente com as adversidades, como a ideia de isolamento social, por exemplo.
A Dominância e a Influência são fatores relacionados à extroversão e comunicação, sendo o primeiro mais focado em resultados e o segundo, em pessoas. Para os indivíduos com altos níveis dessas características, a falta de um ambiente de trabalho com os demais colaboradores pode ser um problema maior do que para os com a eStabilidade e Conformidade como fatores principais. Estas são características de tendências mais introspectivas e que possuem melhor capacidade para se desenvolver sem o contato de outros profissionais. Mas isso não significa, necessariamente, que esse processo seja fácil para eles também.
A eStabilidade, como a Influência, também está focada em pessoas. Mesmo que a necessidade de comunicação não seja tão grande, a falta de interação com outras pessoas pode impedir que coloquem em prática suas características naturais de apoio, empatia e acolhimento. Já a Conformidade, que é mais voltada para processos, pode encontrar mais dificuldades para lidar com um ambiente mais difícil de ser gerenciado como uma casa, principalmente quando há outros moradores em torno. Imagine alguém que se concentre com facilidade e não consiga perder o foco nas tarefas até que estejam terminadas tendo que fazer isso enquanto os filhos correm enlouquecidamente pela sala… Bem mais difícil do que no escritório, não é mesmo?
Ter consciência do próprio comportamento ajuda a entender nossas necessidades e lidar com as pessoas e os ambientes, o que resulta em uma série de benefícios internos e externos. Dessa forma, fica mais fácil respeitar os próprios limites e os dos indivíduos com quem nos comunicamos e convivemos durante esses tempos difíceis.
Na ETALENT, oferecemos as devolutivas comportamentais para ajudar no processo de autoconhecimento e autodesenvolvimento. Essas sessões são feitas com nossos consultores especialistas que, através de uma série de questionamentos e da análise do inventário DISC, fornecem informações valiosas para a compreensão das próprias pessoas sobre seus estilos comportamentais.
Quer saber mais sobre como a ETALENT pode te apoiar no seu processo de autoconhecimento?
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Guia completo da Metodologia DISC
Fernanda Misailidis
Fernanda Misailidis é jornalista e atua como Assessora de imprensa e Embaixadora da ETALENT. Carioca, é apaixonada por artes, ama estar nos palcos e não vive sem teatro.