No mercado atual, entende-se que, isoladamente, a aptidão técnica já não é mais o suficiente para garantir a boa performance ou o desempenho de um profissional. Mais do que nunca, o comportamento vem se tornando um fator fundamental na hora de contratar, realocar ou como critério para dispensar os colaboradores. Por conta disso, muitas empresas vêm adaptando seus processos de Recrutamento e Seleção para formar um Capital Humano otimizado, em que a questão comportamental esteja abarcada. Afinal, com o avanço de conceitos como o RH 5.0 e a forte tendência à humanização nas empresas, percebe-se que questões como fit cultural, de valores e até a capacidade de um colaborador de lidar com seus colegas têm efeitos diretos na produtividade e, consequentemente, na rentabilidade de uma empresa.

Isso porque o comportamento de uma pessoa vai além de como ela se porta ou reage a determinados estímulos: ele indica, também, de qual forma ela pode (ou não) colaborar para construir um ambiente saudável. Por vezes, optar por contratar um profissional com menos conhecimento técnico e mais qualidades intra e interpessoais é melhor, em uma perspectiva geral, do que trazer um colaborador com expertise em sua área de atuação, mas que não respeita os colegas. Afinal, dependendo das circunstâncias e do cargo que ocupa, ter apenas uma pessoa assim é o suficiente para minar a experiência de equipes inteiras. Dessa forma, a taxa de turnover sobe, bem como os níveis de estresse e ansiedade. A produtividade, por sua vez, despenca.

Para que os colaboradores tenham bom desempenho, é preciso investir na sua felicidade – e criar ambientes de trabalho seguros e estimulantes faz parte desse processo. Mas isso não pode ser feito sem que as equipes desenvolvam suas competências comportamentais. E uma das mais requisitadas é a empatia, soft skill complexa e difícil de ser desenvolvida, mas que figura como um dos pilares centrais na hora de criar um bom clima organizacional. Por isso, ela é assunto do nosso artigo de hoje. Boa leitura!

 

O que é empatia?

De forma geral, a empatia é uma habilidade interpessoal, ou seja, uma característica que facilita o relacionamento com os demais, que permite compreender os sentimentos, dores e apelos de outras pessoas sem precisar passar pelas mesmas circunstâncias. A palavra está diretamente relacionada ao conceito de alteridade, termo oriundo da filosofia que consiste na capacidade de uma pessoa de se colocar no lugar da outra, não apenas com o intuito de entendê-la, mas como também para vivenciar uma realidade alheia à própria. É um exercício de alteridade e empatia, por exemplo, que um morador de um bairro nobre de uma cidade metropolitana leia um livro como Vidas Secas (1938), de Graciliano Ramos, que relata as condições de uma família nordestina em meio à seca e à extrema pobreza.

A empatia é uma parte essencial da inteligência emocional, uma vez que, a partir dela, é possível melhorar – e muito! – a forma com que se lida com outras pessoas. No ambiente de trabalho, essa habilidade é fundamental não só para prevenir conflitos e estresses desnecessários, como também para incentivar os colegas a estarem sempre melhorando. A empatia ajuda a criar processos de comunicação saudáveis e não-violentos, integra os colaboradores, melhora a sinergia entre as equipes e traz impactos positivos para toda a gestão de pessoas.

Líderes empáticos, inclusive, servem como inspiração e conseguem motivar ainda mais as suas equipes. Os resultados em termos de produtividade e desempenho logo aparecem. Afinal, pessoas felizes e satisfeitas trabalham melhor e poder contar com um ambiente de trabalho saudável é parte fundamental disso.

 

A diferença entre empatia e reciprocidade

Embora a empatia já seja uma pauta frequente no contexto organizacional, sobretudo em empresas que se propõem a ter uma cultura focada em pessoas (people centric), ainda há muita gente que confunde o conceito com reciprocidade. É válido ressaltar, no entanto, que apesar das semelhanças, os termos carregam diferenças consideráveis entre si.

Enquanto a empatia está associada à habilidade praticamente involuntária de se colocar no lugar do outro sem estímulo algum, a reciprocidade está relacionada à ideia de mutualismo, ou seja, a capacidade de uma pessoa de devolver a ação direcionada a ela. E isso pode funcionar tanto para o bem, quando há reciprocidade positiva, quanto para o mal, quando é negativa.

Quando um profissional trata outra pessoa bem e ela age de forma recíproca, ela retorna o tratamento dado pelo profissional. É especialmente na circunstância positiva que as pessoas confundem os termos. Afinal, nesse caso, ao tratar o primeiro colaborador como foi tratado, para muitos, o primeiro profissional “se coloca no lugar do outro”. No entanto, a questão com a reciprocidade isolada é que, caso o tratamento do profissional seja hostil, a pessoa há de devolver da mesma forma. Afinal, ela responde ao estímulo da mesma forma, seja boa ou não.

Com a empatia, é um pouco diferente. Um colaborador empático que é tratado mal pode simplesmente tentar relevar a situação, imaginando que o seu colega teve um dia ruim e pode estar de cabeça cheia. E isso independe de um estímulo específico; a empatia não é seletiva. Em suma, enquanto a reciprocidade está ligada à ação como reflexo, sem necessidade de compreensão, a empatia se propõe a compreender e enxergar através dos olhos dos demais. A principal diferença entre os conceitos está no que os motiva e como são pautadas as relações interpessoais dos colaboradores.

 

Os 3 tipos de empatia

De acordo com o psicólogo Daniel Goleman, autor do livro Inteligência Emocional: A teoria revolucionária que redefine o que é ser você (1995), há 3 tipos distintos de empatia. São eles:

Empatia cognitiva

A empatia cognitiva é a que permite que uma pessoa compreenda o sentimento alheio. Esse tipo tem caráter mais “racional” e é de grande ajuda até mesmo para melhorar processos comunicativos, já que um empático cognitivo consegue entender o que a outra passa sem a necessidade de estar na mesma situação. É o tipo mais comum de empatia e é especialmente útil na hora de solucionar problemas e evitar conflitos.

Empatia emocional

A empatia emocional, também conhecida como empatia afetiva, é mais profunda do que a cognitiva, uma vez que, como o nome indica, se estabelece em um plano emocional. Nesse tipo, uma pessoa tem a habilidade de compartilhar os sentimentos da outra. Há quem tenha essa habilidade tão desenvolvida que consiga até “sentir a dor” alheia. Normalmente, as pessoas que conseguem chegar nesse nível de profundidade criam vínculos ou conexões.

Empatia compassiva

Na empatia compassiva, além de entender e ser capaz de sentir o que outra pessoa sente, o indivíduo em questão age em prol de ajudar a pessoa que esteja passando por dificuldades. Esse tipo é muito bem-vindo em contextos organizacionais, já que ajuda na manutenção das relações interpessoais e faz com que os colaboradores que precisam de ajuda se sintam valorizados. Se, além dos demais profissionais, a liderança também for compassiva, os resultados podem ser ainda mais significativos.

 

A importância de ser empático no ambiente de trabalho

A empatia é uma habilidade imprescindível para que colaboradores de vivências, personalidades e realidades distintas consigam criar conexões, o que é um fator fundamental na hora de criar equipes entrosadas e altamente produtivas. Quando essa habilidade não é incentivada, há mais abertura para que conflitos surjam, uma vez que os profissionais podem acabar se deixando levar por intrigas e competitividade ao invés de serem compreensivos e tentar ajudar os colegas a crescerem.

Nesse caso, há impactos negativos no ambiente de trabalho como um todo, o que afeta diretamente índices como a taxa de rotatividade de profissionais. Afinal, se um profissional puder escolher entre trabalhar em uma empresa que não estimule a empatia e uma que preze pela habilidade e pelas boas relações, ele certamente irá para a segunda. De acordo com essa pesquisa realizada em 2017 pela BusinesSolver, 80% dos profissionais de gerações mais jovens como os millenials deixariam seus empregos caso o novo trabalho tivesse ambientes mais empáticos.

Isso porque um ambiente de trabalho que preze pela empatia tem impactos diretos em outra pauta muito discutida hoje em dia: a saúde mental dos colaboradores. Principalmente após o primeiro ano de pandemia, esse fator se tornou uma prioridade para muitos profissionais. Houve, inclusive, ondas de demissão voluntária em todo o mundo por conta dos modelos de trabalho que não prezaram pela saúde mental e a empatia durante o período, conturbado para praticamente todo mundo. Hoje em dia, observa-se que muitos colaboradores já não estão mais dispostos a encarar condições em que não haja humanização e preocupação com sua segurança psicológica.

Para as empresas, a empatia também rende bons frutos, já que, quando os profissionais constroem laços e se ajudam, o desempenho, motivação e engajamento aumentam. Dessa forma, eles também conseguem trabalhar melhor de forma unificada em prol de um objetivo. Isso sem falar nos ganhos em termos de autoconhecimento e inteligência emocional, virtudes muito úteis tanto na vida pessoal quanto na profissional.

Outro fator curioso sobre a empatia é que ela é tão importante para as relações interpessoais que, na psicologia, há uma série de distúrbios antissociais que têm a falta de empatia como uma das principais características. No livro Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado (2008), a psicóloga Anna Beatriz Barbosa da Silva discorre sobre a definição da psicopatia, que ela explica ter uma relação direta com a incapacidade de sentir empatia pelos demais. A autora ainda informa que esse é um distúrbio extremamente comum, que atinge cerca de 3% da população mundial, mas diferentemente do que prega o senso comum, raramente quem tem psicopatia chega, de fato, a cometer crimes bárbaros e violentos.

Cuidado para não exagerar!

Em excesso, a empatia também pode trazer efeitos negativos. Por isso, é bom sempre ter cautela e não se deixar levar exclusivamente pelo fator emocional. Afinal, quando uma pessoa é empática em demasia, as mal-intencionadas podem acabar tirando vantagem dessa qualidade.

Em um ambiente profissional, isso pode significar realizar entregas sem qualidade, contando que o outro vai relativizar ou mesmo refazer o trabalho com o intuito de melhorá-lo – por vezes, sem nem mesmo se mostrar incomodado com isso.

Aliás, é preciso ter cuidado com as relativizações quando se é empático em excesso. Como gestor, esse traço pode fazer com que o profissional cobre menos e seja menos rigoroso com os demais por saber de suas condições e dificuldades. Também é possível que esse entendimento da condição alheia faça com que o líder passe a proteger os liderados mesmo quando eles precisam, de fato, de advertências e feedbacks negativos.

Em ambas as situações, os resultados não são bons para a empresa. Afinal, dessa forma, o tempo é mal aproveitado e os colaboradores acabam sendo recompensados por atitudes que precisam ser melhoradas, o que os impede de se desenvolverem profissionalmente.

 

7 dicas para desenvolver a empatia no trabalho

Como vimos, a empatia é fundamental para reter talentos e promover o bem-estar corporativo. O desenvolvimento dessa habilidade em uma empresa, no entanto, não acontece da noite para o dia. É essencial que isso esteja previsto na cultura organizacional da empresa, o que exige o investimento em uma série de medidas. Dentre elas, destacamos:

1. Incentivar a escuta ativa

O primeiro passo para desenvolver a empatia é aprender a ouvir. Isso não significa apenas escutar o que uma pessoa diz, mas também demonstrar interesse, interagir e dar espaço para que ela compartilhe sem interrupções, fazendo-a entender que você é um aliado atento. Há muitas pessoas que, mesmo sem perceber, ouvem apenas para rebater o que é dito ou fazem com que tudo acabe sendo sobre elas, no final das contas. Para desenvolver a empatia, é necessário prestar atenção para não deixar que isso ocorra.

2. Criar lideranças empáticas

Para que a empatia seja parte de uma empresa, é imprescindível formar líderes empáticos e inclusivos. Afinal, é importante que essa habilidade perpasse todas as hierarquias para que o estímulo seja feito de forma generalizada. Além disso, gestores empáticos são peças fundamentais para manter a motivação e o engajamento dos colaboradores, o que deixa ainda mais evidente a necessidade de que esses profissionais desenvolvam a competência.

No entanto, é válido ressaltar que nem todo gestor sabe, de fato, como exercer a liderança da melhor maneira possível, respeitando individualidades em relação à vivências, personalidades e perfis comportamentais. Para isso, um workshop como o de Liderança Comportamental, focado em ensinar a praticar a habilidade de forma otimizada e inclusiva, é muito bem-vindo.

3. Desenvolver o autoconhecimento

O autoconhecimento, como o próprio nome indica, diz respeito à capacidade que uma pessoa tem de conhecer a si mesma, incluindo suas forças, fraquezas e como ela reage diante de determinadas situações. Para aprender a exercer empatia, essa também é uma habilidade necessária, visto que ela ajuda a tomar decisões melhores e mais racionais, principalmente em situações adversas.

Desenvolver o autoconhecimento pode ser a diferença entre se irritar com um colega por um motivo que te afeta ou se colocar no lugar dele, uma vez que você entende melhor os próprios limites. O autoconhecimento também é interessante para dosar o excesso de empatia que, como mencionado, pode acabar atrapalhando o fluxo nas organizações.

Desenvolver o autoconhecimento é uma tarefa complexa e precisa ser estimulada por parte das organizações. Para isso, o MyEtalent, programa de coaching on-line focado no autodesenvolvimento, é um grande aliado.

4. Estimular a troca de ideias

A comunicação é muito importante para promover a empatia no ambiente de trabalho. Por isso, estimular o diálogo e dar espaço para que os colaboradores compartilhem suas opiniões, considerações e ideias sem medo de sofrer represálias é fundamental. Estimular a franqueza e considerar os pontos de vista, mesmo quando são negativos, também é um passo importante para identificar falhas, melhorar os processos da empresa e torná-los mais eficientes.

5. Adotar a flexibilidade nas rotinas

Oferecer a possibilidade de rotinas flexíveis no trabalho aumenta a humanização e a qualidade de vida do Capital Humano. Isso porque, dessa forma, cada profissional fica mais livre para exercer suas funções de acordo com a própria demanda e ritmo. A flexibilização ganhou muita popularidade com o home office e o trabalho híbrido, quando foi apontada por muitos profissionais como um dos grandes benefícios dos modelos. Afinal, a rotina presencial impõe horários, além da perda de tempo no deslocamento do profissional até o local de trabalho. Quando há flexibilidade, o profissional pode optar, por exemplo, por tentar se deslocar em horários em que há menos trânsito, ou trabalhar de casa, dependendo da natureza do ofício. Principalmente no caso de colaboradores que precisam gerenciar o tempo para dar conta de outras tarefas, como cuidar da casa ou dos filhos, flexibilizar também é um ato de empatia.

6. Reconhecer o esforço

Para manter a motivação e o engajamento, é preciso aprender a reconhecer o esforço dos colaboradores. Todavia, a importância desse gesto não para por aí: também há implicações em termos de empatia, já que, quando a organização se propõe a reconhecer as conquistas, ela também valoriza o trabalho do profissional. Para isso, programas de recompensa que ofereçam benefícios, como viagens ou prêmios, são bem-vindos.

7. Incentivar a diversidade e a inclusão

A diversidade e a inclusão são fatores fundamentais para empresas que desejam manter a alta performance. Isso porque, quando colaboradores oriundos de realidades econômicas, gêneros, etnias, idades, orientações sexuais se unem para formar equipes, as chances de que tenham grandes ideias é consideravelmente maior do que em times “homogêneos”. Afinal, é justamente das múltiplas vivências e visões de mundo que as inovações surgem. Mas, para isso, é imprescindível promover a empatia no ambiente de trabalho para que haja respeito a todos, independentemente de suas peculiaridades. Só assim, é possível criar ambientes saudáveis e propícios para o crescimento e desenvolvimento.

A empatia é uma soft skill com grande potencial de ajudar a criar ambientes organizacionais saudáveis e altamente produtivos. Por isso, é muito importante que as empresas saibam como incentivá-la e adotem medidas para tal em sua cultura organizacional. Afinal, o desempenho de cada colaborador está diretamente atrelado à sua satisfação e felicidade no cargo. E parte considerável disso é que eles estejam inseridos em meios onde se sintam confortáveis, respeitados e confiem nos colegas. Quando esses fatores se alinham, o sucesso é apenas uma questão de tempo.

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Fernanda Misailidis

Fernanda Misailidis é jornalista e atua como Assessora de imprensa e Embaixadora da ETALENT. Carioca, é apaixonada por artes, ama estar nos palcos e não vive sem teatro.

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