A neurociência comportamental é uma área da neurociência que pode ser aplicada nas rotinas de trabalho para aumentar a produtividade, a felicidade e a satisfação do Capital Humano. Por mais inusitado que isso soe, conhecer as tendências psíquicas dos colaboradores ajuda a empresa a tornar suas experiências de trabalho mais alinhadas com suas características naturais, o que faz não apenas com que o Capital Humano sinta mais prazer ao trabalhar, como também que o seu desempenho melhore. Essa ciência é um dos pilares do autoconhecimento, uma competência que a psicolog
ia define como uma série de processos de desenvolvimento psíquico, amadurecimento emocional, cognitivo e comportamental, que permite que um indivíduo conheça profundamente a si mesmo.
Ainda que muitas empresas desconsiderem sua importância, o comportamento é capaz de afetar significativamente as rotinas de trabalho. Basta uma pessoa em desarmonia com o seu cargo para que o fluxo de um setor inteiro seja completamente comprometido. E nem é difícil imaginar uma situação em que isso aconteça: líderes despreparados, por exemplo, conseguem minar o desempenho de diversos profissionais. Não à toa, segundo esta matéria do G1, 8 em cada 10 profissionais que se demitem fazem isso por conta de seus chefes.
Contudo, o contrário também acontece. Empresas que investem em uma gestão humanizada e baseada no comportamento conseguem alavancar a performance de seus colaboradores. Isso porque, quando exercem funções alinhadas às características de seu perfil comportamental, a tendência é que não haja desgaste e que o apreço pelo trabalho seja maior. E esse investimento também pode ser feito levando em conta questões como sinapses nervosas e a biologia, para além de pontos mais tradicionais da gestão, como percepção, visão de mundo, forma de pensar e adequação comportamental. É nesse ponto que entra a neurociência comportamental, assunto do artigo de hoje. Boa leitura!
- O que é neurociência?
- Áreas da neurociência
- O que é neurociência comportamental?
- A relação entre neurociência comportamental e autoconhecimento
- Neurociência e aprendizado
- Neurociência comportamental aplicada às empresas
- Benefícios da neurociência para organizações
- Neurociência como aliada do RH
- Impactos da neurociência nas lideranças
- Estratégias da neurociência para empresas
O que é neurociência?
Para começar a falar da neurociência comportamental e de como ela impacta as rotinas de trabalho, é fundamental entender primeiro do que trata a neurociência propriamente dita. Esta é uma ciência dedicada a entender o sistema nervoso, incluindo suas funções e relações com os demais sistemas do organismo. Por isso, ela abrange diversas áreas do conhecimento, tais como biologia, medicina, psicologia e até mesmo a matemática. Para este fim, a ciência utiliza diversos métodos de investigação, como observação clínica, experimentação e até modelagem computacional para obter respostas.
O principal objetivo dessa ciência é entender como o sistema nervoso se desenvolve, funciona e se modifica de acordo com a vivência de cada pessoa. Por isso, algumas das temáticas discutidas neste campo são a consciência, capacidade de aprendizagem, formação de memórias, além da linguagem e fala de cada pessoa. Quando uma pessoa desenvolve um trauma sério, por exemplo, é a neurociência que se dedica a entender os impactos daquele episódio no indivíduo, em termos emocionais, psíquicos e físicos. Doenças de ordem psicossomática, ou seja, transtornos psíquicos cujos sintomas também afetam o corpo físico, como a depressão, ansiedade e o burnout, também são objetos comuns de estudo da neurociência.
Por muito tempo, a neurociência ficou restrita somente aos aspectos biológicos. Entretanto, conforme os estudos da área se desenvolveram, outros questionamentos também foram se integrando aos estudos da área. De acordo com o artigo “Tempo de Cérebro” (2013), do neurocientista Sidarta Ribeiro, discussões atuais como o envelhecimento, educação, psicanálise, consciência e até o uso de drogas estão relacionadas à neurociência.
Além disso, a neurociência também se dedica a entender, por exemplo, as capacidades cognitivas de cada pessoa e como isso influencia no seu aprendizado. Isso sem mencionar, evidentemente, o autoconhecimento que ela proporciona, uma vez que trata diretamente da relação entre psique e comportamento. Em suma, a neurociência se dedica a entender como o cérebro funciona e se organiza, para além de como esse funcionamento influencia no comportamento, pensamentos, percepções e emoções.
A evolução da neurociência
Como campo de estudo propriamente dito, a neurociência é uma área relativamente recente: surgiu em 1972, quando foi produzido o primeiro equipamento de tomografia computadorizada. Antes disso, contudo, suas bases já começavam a ser formadas.
Ainda no século XIX, havia importantes estudos sobre o tema. O principal deles é de Santiago Ramón y Cajal, responsável por formular o conceito de neurônio, aspecto fundamental da neurociência. Aliás, até hoje, suas contribuições a respeito do assunto continuam relevantes. Há, ainda, o desenvolvimento do microscópio e de técnicas experimentais que levaram a ciência ao ponto que conhecemos hoje.
Entretanto, a neurociência é um campo multidisciplinar e muitos autores consideram que suas origens são ainda mais antigas. Afinal, a investigação das motivações do comportamento humano é quase tão antiga quanto a humanidade em si. Há quem atribua o início da neurociência a Platão, que já ensinava que o cérebro era o centro dos processos mentais em 387 a.C. Outros filósofos que também fizeram considerações nesse sentido foram Aristóteles e Cláudio Galeno.
Com o passar dos séculos, as discussões evoluíram. Já na Idade Média, temos as contribuições de René Descartes, que considerava o cérebro humano como uma espécie de sistema hidráulico que comandava o comportamento. Em 1906, dois cientistas ganharam o Prêmio Nobel por conta de descobertas relacionadas à neurociência: Camillo Golgi, que descobriu um método para observar os nervos, e o já citado Cajal, com suas pesquisas sobre neurônios.
Outro marco importante para a evolução da neurociência aconteceu em 1950, quando a neuropsicóloga Brenda Milner fez uma série de relatos sobre um paciente que teve um pedaço do hipocampo retirado e que, por isso, passou o resto da vida sem conseguir criar memórias.
Áreas da neurociência
Como uma ciência interdisciplinar, a neurociência se divide em cinco campos distintos de estudos. São eles:
Neurofisiologia
A neurofisiologia se dedica a estudar o sistema nervoso central e o periférico. Para essa ciência, os focos são as funções dos nervos, bem como o comando dos músculos de um corpo. A neurofisiologia se dedica a identificar e prevenir condições originadas por quaisquer tipos de desordem que comecem nesse sistema. A epilepsia e a esclerose múltipla são exemplos de doenças diretamente relacionadas à neurofisiologia.
Neuroanatomia
A neuroanatomia foca na organização e na estrutura do cérebro, medula espinhal, nervos e terminações nervosas. É uma área importante para avaliar os impactos das lesões cerebrais no funcionamento do corpo humano. A neuroanatomia atua de forma concomitante e complementar à neurofisiologia, focando em aprofundar o conhecimento sobre o sistema nervoso.
Neuropsicologia
A neuropsicologia se debruça sobre a análise do cérebro para respostas complexas do organismo, como problemas cognitivos, emocionais e comportamentais. Essa área é a principal responsável por entender o impacto de lesões físicas e traumas cerebrais na personalidade. Afinal, a percepção, as ações, pensamentos, comportamento e até o tipo de inteligência de uma pessoa podem mudar quando ela é submetida a um trauma.
Neurociência cognitiva
A neurociência cognitiva se dedica a investigar a memória e a dinâmica de aprendizado de cada pessoa. Os focos são a percepção e a sensação, uma vez que o processo de aprender também acontece pela experiência. Essa subárea observa as interações entre os cinco órgãos de sentido e a forma com que as informações processadas por eles se consolidam em conhecimento para cada pessoa.
Neurociência comportamental
A última subárea da neurociência é a comportamental, foco deste artigo e da qual tratamos com mais detalhes no tópico a seguir.
O que é neurociência comportamental?
Conforme já mencionado neste artigo, a neurociência comportamental é uma das subáreas da neurociência. Nela, as investigações envolvem a relação entre comportamento e sistema nervoso. Por isso, ela tem como objetivo estudar o que motiva as nossas ações, quais são as bases e as origens do comportamento e de todas as atividades cotidianas. Isso inclui cognição, emoções, capacidade de aprendizagem, intelecto, memória, motivação e até mecanismos cerebrais especificamente ligados ao comportamento. Essa área da neurociência também investiga questões mais “mecânicas”, como andar, comer, falar, dentre diversas outras possibilidades.
A neurociência comportamental busca entender as nossas ações mais complexas, desde as voluntárias até as involuntárias, focando em descobrir como o nosso subconsciente influencia atividades e as emoções humanas. Essa ciência também pesquisa como funciona a memória e a autoconsciência, como se forma a personalidade, como aprendemos e como adquirimos conhecimento. Para explicar os motivos de o nosso corpo reagir de determinada maneira em cada situação, essa ciência se baseia nas terminações nervosas e na estrutura cerebral. Por isso, a neurociência comportamental necessita do auxílio de outros campos de estudo, como a anatomia, a psicologia e a neuropsicologia, dentre outros.
A neurociência é muito importante para estimular o autoconhecimento, para que as pessoas aprendam a lidar com as próprias necessidades e processos internos. Ela ajuda a prevenir transtornos como a depressão e a ansiedade, além de auxiliar na melhora do desempenho cognitivo, social e profissional.
A relação entre neurociência comportamental e autoconhecimento
Observar e analisar o sistema nervoso significa entender como sentimentos e emoções se desenvolvem. Quando uma pessoa consegue compreender suas características comportamentais (originadas pelos processos químicos produzidos pelo seu cérebro), ela passa a se compreender melhor e lidar com as suas necessidades particulares de forma ainda mais eficiente. E para demonstrar como esse processo funciona, vamos usar um exemplo relativamente comum: um profissional com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
De acordo com a Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), o TDAH é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Segundo a ABDA, na infância, o TDAH pode ocasionar dificuldades no aprendizado e nos relacionamentos com outras crianças, professores e os pais. As crianças com essa condição são descritas como “avoadas”, têm dificuldade de concentração, comumente são desastradas e muito agitadas. Já em adultos, esses sintomas se manifestam de forma diferente: são marcados pelo esquecimento, a inquietude, impulsividade e dificuldade em avaliar o próprio comportamento.
As dificuldades de concentração e de foco trazidas por esse transtorno podem ser especialmente frustrantes para os profissionais. Afinal, dependendo do nível, o TDAH pode fazer com que eles percam a noção de tempo, tenham problemas para manter a produtividade e se sintam extremamente frustrados por isso. Contudo, quando uma pessoa entende como o seu cérebro funciona e as respostas dadas a cada situação, ela consegue contornar essa questão com mais facilidade, favorecendo o seu ritmo de trabalho.
É nesse ponto que o autoconhecimento se torna um aliado importante para tornar o ato de trabalhar mais saudável e menos desgastante – afinal, pessoas com TDAH precisam lutar constantemente para manter o foco em suas atividades. Para uma pessoa com TDAH, trabalhar e aprender pode ser bem mais fácil se feito de forma alinhada com seus gostos pessoais, por exemplo. Se ela souber identificar essa necessidade, fica muito mais fácil lidar com a falta de atenção.
O TDAH envolve uma série de processos químicos que são estudados por outras áreas da neurociência. Entretanto, profissionais neurotípicos, ou seja, aqueles em que não há nenhum tipo de desequilíbrio neurológico, também são beneficiados pelo entendimento dos seus processos cerebrais. Dessa forma, eles amplificam sua capacidade de autoconhecimento e, mesmo sem que haja um desequilíbrio, eles conseguem entender melhor suas crenças, traumas, sentimentos, pontos de melhoria e de atenção. O autoconhecimento oferece aprendizado a partir da experiência – ponto fundamental na neurociência.
Aliás, o autoconhecimento também permite, por exemplo, que os colaboradores avaliem se seus valores pessoais estão de acordo com os defendidos pela empresa, se a dinâmica de trabalho é adequada para eles, que tipos de sentimentos são provocados pela rotina, dentre diversas possibilidades oriundas do contexto corporativo. E isso tudo é contemplado pela neurociência comportamental.
Neurociência e aprendizado
Como vimos, a neurociência tem papel fundamental no processo de aprendizado de uma pessoa. Diferentemente do que acontece na psicologia, esse campo de estudo encara a aprendizagem como algo relacionado a fatores comportamentais. A partir de estudos detalhados feitos com o auxílio de ferramentas de observação do cérebro, a neurociência encara a aprendizagem a partir de fatores como a memória, as emoções e a motivação das pessoas, para além das questões químicas propriamente ditas.
Para a neurociência, a aprendizagem se dá por meio de:
- Emoções: Elas interferem diretamente na forma com que as informações são retidas por cada pessoa;
- Motivação: Fundamental para que qualquer processo de aprendizado seja viável;
- Atenção: Indispensável para construir conhecimento e que depende tanto de questões comportamentais quanto químicas;
- Memória: As pessoas associam os novos processos com os conhecimentos já adquiridos;
- Plasticidade cerebral: Leva em conta as modificações do cérebro ao longo do tempo.
Assim, fica fácil entender por que a neurociência é essencial para o aprendizado individual. A partir desses cinco pontos, é possível ter uma noção mais ampla da forma com que cada pessoa retém informações, assim como do que não dá certo.
Há, por exemplo, quem não consiga aprender tarefas em que não tem interesse. Nas escolas, isso acontece o tempo inteiro; há sempre alunos bons em determinada área que não conseguem sequer prestar atenção em matérias das quais não gostam. Para pessoas com esse perfil, é fundamental encontrar uma forma de fazer com que elas estejam mais alinhadas com seus gostos pessoais. Para outros indivíduos, o aprendizado é assimilado com mais facilidade em atividades interativas – e uma abordagem gamificada pode ser uma boa opção nessas circunstâncias e, assim, sucessivamente.
Neurociência comportamental aplicada às empresas
A neurociência é muito importante para o processo de autoconhecimento de qualquer pessoa. Quando o contexto é o cenário corporativo, este panorama não muda. Ter colaboradores conscientes sobre o próprio comportamento e os dos colegas faz com que o Capital Humano crie hábitos mais saudáveis para as relações, identifique pontos de melhorias, além de criar um clima organizacional positivo na empresa. Quando essas questões são levadas em consideração, é possível facilitar o aprendizado das equipes, uma vez que a gestão da organização compreende a melhor forma de fazer com que seus colaboradores assimilem informações. Utilizando memórias, associações, motivação e conhecimento prévio, fica mais fácil criar planos de desenvolvimento mais acessíveis, o que também eleva a produtividade geral.
Sob essas condições, criam-se ambientes de trabalho que respeitam a ecologia humana. Isso significa que a empresa oferece rotinas corporativas adequadas ao comportamento de cada indivíduo – desde os cargos que ocupam até o seu processo de desenvolvimento profissional e pessoal. Dessa forma, pontos como o bem-estar e a qualidade de vida são privilegiados, o que garante rotinas menos estressantes, relacionamentos mais saudáveis e mais positividade no ambiente corporativo.
Também é possível aplicar a neurociência às lideranças, que passam a exercer essa competência de forma humanizada e utilizando a empatia como base. Identificando necessidades, fraquezas e virtudes dos profissionais, é possível geri-los de forma mais eficiente e aumentar o seu potencial produtivo.
Benefícios da neurociência para organizações
Treinamento e Desenvolvimento (T&D)
Como mencionado anteriormente, a neurociência impacta diretamente nos processos de T&D oferecidos pelas empresas. Utilizando esse recurso, é possível desenvolver treinamentos pensando em como cada colaborador retém o aprendizado. Isso vai desde os assuntos que a pessoa tem mais facilidade de assimilar até as competências que precisam ser desenvolvidas. Assim, a empresa consegue adaptar a abordagem e garantir que cada profissional seja treinado da melhor forma possível.
Aumento de produtividade
Com uma rotina adaptada às necessidades e ao comportamento, é comum que o colaborador produza mais e melhor, já que a tendência é que todos os processos fiquem mais fluidos e que ele sinta mais prazer ao trabalhar. A motivação, nesse caso, aumenta drasticamente, bem como a prontidão e a qualidade do trabalho executado por ele. Afinal, ao contrário do que muitas pessoas ainda pensam, o salário está longe de ser a única variável importante para estimular os profissionais a trabalharem – também é preciso que eles se sintam felizes enquanto desempenham suas funções.
Adequação comportamental
A neurociência propõe uma abordagem voltada para o comportamento dos colaboradores e isso pode (e deve) ser usado na hora de alocar os profissionais nos cargos. É importante que a empresa consiga colocar profissionais com características comportamentais adequadas ao escopo do que cada função exige. De nada adianta colocar um colaborador introspectivo e pouco sociável para desempenhar um papel cuja principal função envolva lidar com pessoas, por exemplo. Ele até poderia conseguir com muito esforço, mas o desgaste mental e emocional seria muito maior sob essas condições, o que comprometeria sua saúde mental em longo prazo. É bem mais saudável alocar alguém com esse perfil em tarefas que desempenhe sozinho, sem ter que lidar com pessoas o tempo inteiro.
Comunicação eficiente
A comunicação também é beneficiada pela neurociência comportamental. Afinal, com ela, o RH entende a melhor forma de se comunicar com os profissionais, respeitando sua visão e posicionamento em relação à empresa e garantindo que as mensagens sejam passadas com clareza para todos. Isso é interessante para o alinhamento de tarefas, priorização de atividades, gestão de tempo e até mesmo para a manutenção da cultura organizacional.
Recrutamento e Seleção mais assertivos
Levar em conta a neurociência e o comportamento também permite criar processos de R&S mais assertivos. Isso significa diminuir subjetividades na hora de contratar, como o simples fato de simpatizar (ou não) com um candidato durante as etapas da atração de talentos. É preciso ter em mente o perfil comportamental ideal para a vaga, bem como as competências técnicas e comportamentais necessárias para que a função seja exercida da melhor maneira possível. Nesse caso, o R&S utiliza como pilares o comportamento, as necessidades e o fit cultural com os valores defendidos pela empresa. Vale ressaltar que esse processo fica mais fácil quando há o apoio de softwares de gestão comportamental, como o Etalent PRO, que gera análises e relatórios complexos sobre os comportamentos e as particularidades de cada candidato.
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Gestão de tempo otimizada
A gestão do tempo é a capacidade do indivíduo em planejar suas tarefas diárias, de modo a realizar mais atividades em menos tempo, sempre com foco e atingindo os objetivos propostos de maneira eficaz. Tudo isso pode ser alcançado por meio da neurociência, uma vez que é possível adotar metodologias que forcem o cérebro a gerenciar melhor essas questões. Uma maneira eficaz de fazer isso é incentivando os colaboradores a adotarem certos comportamentos estratégicos até que se tornem naturais, como só concluir uma tarefa por vez, iniciar um trabalho apenas quando o anterior estiver concluído, anotar as atividades já concluídas e seguir cronogramas e prazos rigorosamente.
Depois de um tempo incentivando, essas questões se tornam bons hábitos. O colaborador desenvolve a percepção em relação as suas prioridades, realizando as atividades certas no momento mais adequado. E, seguindo os preceitos da neurociência, é tudo uma questão de vivenciar essas experiências, até que se tornem naturais.
Neurociência como aliada do RH
O setor de Recursos Humanos tem um papel fundamental na estratégia de uma organização, sendo um dos grandes responsáveis por ela. O departamento, que surgiu na época da Revolução Industrial como uma área voltada para a administração de burocracias, assumiu um papel estratégico nas organizações ao longo do tempo. De acordo com Idalberto Chiavenato, um dos nomes mais importantes da administração de empresas, atualmente, o RH funciona a partir de cinco subsistemas distintos; por isso, o RH é um dos setores que mais podem se beneficiar das questões trazidas pela neurociência.
Quando o assunto é neurociência aplicada ao RH, essas considerações vão desde a contratação de novos colaboradores até a jornada dos colaboradores na organização. Saber como os colaboradores pensam e reagem a determinadas situações facilita lidar com os indivíduos no ambiente de trabalho e criar ações contínuas de melhoria do clima, com cursos, palestras, workshops, feiras e eventos de integração.
Além das contribuições para o T&D e R&S, é importante destacar a utilização da neurociência no onboarding, na gestão de pessoas, na retenção de talentos e na criação de um ambiente organizacional saudável.
No onboarding, cabe ao RH entender as particularidades de cada colaborador para realizar com processo de integração ao Capital Humano que faça com que ele se sinta incluído. Isso envolve adequar os comportamentos, dar suporte e fazer com que o novo profissional desenvolva emoções positivas desde o momento em que chega na empresa.
Na gestão de pessoas, o RH deve procurar entender desde a forma com que os colaboradores utilizam seu comportamento e tendências neurológicas nos cargos até os níveis de satisfação e felicidade na empresa. Essas preocupações impactam diretamente na criação de ambientes de trabalho positivos e, consequentemente, na capacidade de retenção da empresa.
Impactos da neurociência nas lideranças
As empresas têm buscado se aprofundar na compreensão do funcionamento mental e de gatilhos emocionais para desenvolver, inovar, engajar e melhorar a performance dos colaboradores. Consequentemente, o perfil dos novos gestores tem sido analisado em relação à personalidade, experiências, fatores mentais e subconscientes. E esse tipo de preocupação vem transformando de conceito de liderança.
Hoje em dia, a formação de um líder não está restrita às suas competências técnicas; ela também envolve tendências comportamentais, motivadores e os mecanismos acionados para suportar as frustrações.
Com essas mudanças, a neurociência auxilia na escolha dos melhores líderes, para que eles formem equipes criativas e colaborativas — proporcionando alto índice de satisfação e compromisso. Consequentemente, os resultados positivos surgem, o que acarreta a ascensão do profissional e das empresas, fator imprescindível para a sobrevivência das organizações frente à competitividade do mundo dos negócios.
Sendo assim, entender cada vez mais o funcionamento do cérebro, sistema nervoso e comportamento possibilita criar lideranças atualizadas, empáticas, que tenham diálogos claros, inclusive nos momentos mais delicados.
Estratégias da neurociência para empresas
A neurociência também pode ser utilizada como parte da estratégia de um negócio, se mostrando como uma vantagem competitiva. Além da aplicação dos conceitos da neurociência na rotina da empresa, a utilização desses conceitos também se aplica a estratégias para o público-alvo da organização.
Algumas estratégias que utilizam a neurociência são:
Neuromarketing
O neuromarketing aplica os conceitos da neurociência no marketing. Utilizando estudos do cérebro, como ressonância magnética e outras tecnologias similares, é possível entender como uma pessoa reage mediante determinado estímulo, observando o funcionamento das suas ondas cerebrais. Uma organização pode usar essas informações para definir, por exemplo, a cor da embalagem de um produto. Com testes, ela descobre qual tom tem mais impacto no inconsciente do consumidor para estimulá-lo a efetuar a compra sem que ele sequer perceba essa dinâmica.
Psicologia positiva
A psicologia positiva é um campo de estudo focado nos elementos que trazem felicidade às pessoas. Essa é uma estratégia importante nos ambientes organizacionais, uma vez que ajuda a fortalecer a mentalidade dos colaboradores frente aos desafios profissionais. Focando em emoções boas e construindo uma perspectiva positiva em relação aos problemas, o Capital Humano fica mais resiliente e se desenvolve autonomia, o que é bem importante para aumentar a produtividade na empresa.
Hacks biológicos
Os hacks biológicos, também conhecidos como biohacking, tem como objetivo exercer uma mudança positiva no corpo a partir do controle e da resposta cerebral. Sentimentos como felicidade, ansiedade e estresse são resultados da química entre hormônios e é possível reagir diretamente a elas. O estresse, por exemplo, pode ser aliviado com altas doses de endorfina e dopamina, hormônios presentes em atividades físicas. Quando uma empresa consegue entender esse tipo de lógica, ela pode reagir fazendo com que seus colaboradores encontrem formas de lidar com sentimentos ruins a partir desses “macetes”.
A neurociência comportamental é uma aliada das organizações na hora de gerir o Capital Humano. Usando estratégias baseadas nos estímulos cerebrais e no comportamento, é possível criar uma jornada do colaborador positiva do início ao fim, em que os profissionais se sintam felizes e realizados por exercer seus cargos – e, consequentemente, mais produtivos. Afinal, as pessoas são o maior bem de qualquer empresa, e é investindo em formas de garantir seu bem-estar e a qualidade de vida que os melhores resultados aparecem.
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Fernanda Misailidis
Fernanda Misailidis é jornalista e atua como Assessora de imprensa e Embaixadora da ETALENT. Carioca, é apaixonada por artes, ama estar nos palcos e não vive sem teatro.
Tema fantástico, parabéns pelo artigo!