A comunicação interna de uma empresa é um processo de suma importância, uma vez que afeta diretamente a produtividade das equipes. É preciso que todos estejam cientes do que devem e quando devem fazer para que as atividades sejam realizadas da melhor forma possível e, evidentemente, sem confusões ou atritos desnecessários. Estar alinhado quanto às demandas previne conflitos, ajuda a construir ambientes organizacionais mais saudáveis, integra os colaboradores e contribui para que a qualidade de vida do Capital Humano, de forma geral, seja melhor.

No entanto, ainda há muitas empresas que subestimam os benefícios da comunicação no ambiente de trabalho. E isso não está restrito à forma verbal de se comunicar: a linguagem corporal dos colaboradores, por vezes, também é deixada de lado. Acontece que, na atualidade, entende-se que o Capital Humano é o principal bem de uma organização, e que é preciso estar atento a questões como os níveis de engajamento, motivação e saúde mental para garantir que os profissionais estejam produzindo nas melhores condições possíveis.

Nem sempre os colaboradores vão dizer abertamente se estão passando por problemas emocionais, se sentem incomodados com alguma circunstância ou mesmo se estão mal fisicamente. Contudo, quando os profissionais de RH estão atentos aos sinais involuntários do corpo, isso pode ajudar a empresa a lidar melhor com essas condições e oferecer ajuda, caso necessário. Afinal, através de olhares, expressões, gestos e mesmo da postura dos colaboradores, é possível extrair informações preciosas para otimizar o trabalho feito pela gestão, além de trazer humanização para a cultura organizacional da empresa.

Mas, afinal, como o estudo da linguagem corporal pode ajudar as empresas a melhorarem a gestão de pessoas? Esse é o assunto do nosso artigo de hoje. Boa leitura!

 

O que é comunicação não verbal?

Para que um processo comunicacional seja efetivo, é preciso que haja: um emissor (a pessoa que envia uma informação), uma mensagem (o conteúdo da informação) e um receptor (a quem ela mensagem é dirigida). A comunicação se dá quando o receptor entende a mensagem que foi enviada a ele através de um canal à sua escolha – a fala, uma carta ou e-mail, por exemplo. Nesses casos, todas as vias representam formas verbais de se comunicar, ou seja, quando as palavras, oralmente ou escritas, são o canal para que as informações sejam transmitidas.

Com a comunicação não verbal, a lógica é a mesma. Todavia, a diferença é que, como o nome sugere, ela não faz uso de palavras faladas ou escritas. O principal meio para se comunicar, nesse caso, é através da linguagem corporal, uma série de movimentos involuntários feitos pelo próprio corpo que implicam condições psíquicas, como nervosismo, irritabilidade, ansiedade, tristeza, conforto e alegria, dentre inúmeras possibilidades. Não à toa, esse é um dos principais fatores que são observados por policiais na hora de fazer interrogatórios com suspeitos de crimes, por exemplo.

Balançar as pernas, desviar o olhar, colocar a mão nos bolsos são alguns exemplos de gestos que podem ser interpretados a fim de descobrir mais sobre as condições psicológicas do emissor. No entanto, é válido ressaltar que nem sempre esses sutis sinais são compreendidos pelos receptores. É preciso fazer treinamentos específicos para aprender a analisá-los. No contexto corporativo, é interessante que essa seja uma parte do treinamento dos profissionais de Recursos Humanos, por exemplo.

 

A psicologia por trás da comunicação não verbal

Como uma das ciências que estudam o comportamento humano, é natural que, na psicologia, muito se discuta sobre temáticas como linguagem corporal e a comunicação não verbal. Afinal, mesmo gestos aparentemente inocentes e que passam despercebidos carregam motivações para sua manifestação, sejam elas por conta de memórias, traumas ou vivências da pessoa em questão. Esse fato, inclusive, foi relatado no livro O corpo fala: a linguagem silenciosa da comunicação não verbal (1986), dos consagrados psicólogos Pierre Weil e Roland Tompakow, onde eles explicam que a comunicação acontece para além do que é dito. Para os autores, a postura, reações e movimentos involuntários trazem para o processo comunicativo informações tão relevantes quanto o assunto que está sendo tratado em si.

Outro autor que discorre sobre a temática é Joe Navarro em O que todo o corpo fala (2021). Segundo ele, a linguagem corporal de uma pessoa está diretamente relacionada ao seu sistema límbico, um conjunto de estruturas cerebrais responsável pelas respostas emocionais nos mamíferos. Para o autor, quando as pessoas são submetidas a situações das quais têm memórias, a tendência é repetir o comportamento expresso pelo corpo naquele momento. E isso abrange desde vivências onde havia conforto e alegria, como em uma viagem de férias, quanto as que envolvem ansiedade, estresse e irritação. Em suma, de acordo com Navarro, a linguagem corporal de um indivíduo reflete os seus sentimentos, que são engatilhados a partir de memórias passadas.

 

Qual é a importância de conhecer bem a comunicação não verbal?

Estar atento à própria expressão corporal é importante por diversos motivos. Afinal, como mencionamos, essa é uma forma de comunicação e, querendo ou não, por meio dela, as pessoas acabam passando mensagens que influenciam diretamente na forma como são vistas, seja na vida pessoal ou profissional. Em situações que podem gerar estresse, como apresentações para o público ou uma entrevista de emprego, por exemplo, por mais calma que uma pessoa possa parecer, a fisionomia e tom de voz podem acabar entregando seu verdadeiro estado de espírito.

É importante saber como administrar esses sinais, visto que, por vezes, expressar insegurança pode atrapalhar aspectos da vida de uma pessoa. Na hora de fechar um negócio, por exemplo, é fundamental se mostrar confiante. Há carreiras, inclusive, em que saber como administrar o corpo é uma estratégia imprescindível para atrair a atenção dos demais, como acontece com professores, palestrantes e jornalistas. Além disso, observar os sinais do próprio corpo é uma maneira de desenvolver o autoconhecimento e aumentar a inteligência emocional.

Outro aspecto interessante de melhorar a habilidade de interpretar a comunicação não verbal é conseguir analisar o comportamento de outras pessoas e encontrar informações não ditas. Isso é especialmente útil para melhorar o ambiente de trabalho, visto que, como mencionamos, nem sempre os colaboradores expressam verbalmente os seus anseios. Estar atento aos sinais do corpo pode ajudar a identificar quando os colegas estão passando por dificuldades, o que abre espaço para exercer empatia e melhorar o clima organizacional. Especialmente para empresas onde a proposta é um modelo de gestão com foco em pessoas (people centric), é essencial que os profissionais aprendam a interpretar a linguagem corporal.

Além disso, a comunicação não verbal também é relevante nos processos organizacionais. Há setores que podem se beneficiar diretamente dessa habilidade, como as áreas Comercial e de Relacionamento. Afinal, vendedores que sabem interpretar os sinais conseguem conduzir a negociação de forma otimizada, uma vez que têm mais facilidade para identificar, pelos sinais do corpo, qual é o nível de interesse do cliente. Da mesma forma, profissionais que precisam lidar com o público conseguem interpretar o seu estado emocional, o que ajuda a prevenir conflitos desnecessários.

 

Quais são os tipos de comunicação não verbal?

Como mencionamos, existem maneiras distintas de se comunicar sem usar palavras. Dentre as principais, destacamos:

Paralinguagem

Corresponde às estratégias sonoras da fala para além dos vocábulos. Pausas, entonação e ritmo são alguns exemplos, já que também estabelecem processos comunicativos que independem da mensagem transmitida pelo emissor. A paralinguagem tem papel essencial em dublagens e leituras dramatizadas.

Linguagem proxêmica

Está ligada à forma com que uma pessoa utiliza o espaço para se comunicar. Isso vai desde a proximidade com o interlocutor até aspectos como a iluminação em espetáculos, como concertos e peças teatrais. Nesses, inclusive, dominar essa forma de linguagem é fundamental.

Linguagem cinésica

Está especificamente relacionada ao corpo. Expressões faciais, olhares, postura, gestos, movimentos com braços e pernas são formas de estabelecer processos comunicativos não verbais.

Características físicas

Roupas, adereços e aspectos físicos também contribuem para passar mensagens. Essa forma de linguagem é especialmente relevante para filmes, séries e peças teatrais, onde os figurinos são pensados para contar parte das histórias dos personagens.

 

Exemplos de gestos de comunicação não verbal e seus significados

Como mencionamos, a expressão corporal de uma pessoa tem efeitos diretos na comunicação. A partir de gestos involuntários, é possível captar mensagens que ficam subentendidas e, por isso, é preciso estar atento à forma com que um indivíduo se comporta enquanto fala.

O desconforto, por exemplo, é um sentimento facilmente identificável para quem sabe ler os sinais do corpo. Pessoas com o corpo contraído, testa franzida e pescoço “duro” podem estar manifestando involuntariamente que estão passando por dificuldades. Além disso, direcionar o olhar para o chão e evitar contato visual são alguns indicativos de distração, dificuldade de foco, tristeza e desânimo. É sempre bom observar quando esses sinais aparecem, especialmente se são manifestados juntos.

Outro sentimento que gera sinais imediatos na expressão corporal é a ansiedade. De maneira geral, o nervosismo e o estresse aparecem em forma de movimentos bruscos e repetitivos. Balançar as pernas freneticamente, movimentar as mãos, estalar os dedos são alguns exemplos.

Cruzar os braços é um ato que também está relacionado a essa gama de sentimentos, já que muitas pessoas usam esse gesto quando ficam irritadas. Além disso, ao cruzar os braços, o indivíduo adota uma postura defensiva e impõe uma “barreira” na comunicação com o seu interlocutor. É um movimento comum quando a situação é especialmente desconfortável.

Através da linguagem corporal, também é possível identificar sentimentos positivos, como firmeza e autoconfiança. Corpo relaxado e pernas cruzadas são gestos que expressam essa condição. Além disso, andar com a cabeça ereta, os ombros para trás e/ou ter um aperto de mão firme indica postura de poder e pode até mesmo intimidar, dependendo da situação.

 

Como a comunicação não verbal e o comportamento podem influenciar na carreira?

Área comercial

Para além do produto ou serviço em si, há muitos fatores que influenciam diretamente no sucesso ou fracasso de um negócio. Um dos que merecem atenção redobrada é o comportamento dos envolvidos, tanto em termos de linguagem corporal quanto em aspectos particulares que definem cada pessoa. Isso porque a comunicação não verbal é fundamental na hora de apresentar o projeto e convencer o cliente a fechar o negócio. Se ele percebe que o vendedor está inseguro ou não sabe muito bem sobre o que está tentando vender, isso pode fazer com que ele desista do acordo. Da mesma forma, um profissional atento à linguagem não verbal do cliente consegue adaptar suas estratégias comunicativas conforme as reações e a expressão corporal, o que aumenta sua efetividade.

Além disso, é necessário estar atento ao perfil comportamental e adaptar a abordagem para cada pessoa. De acordo com a Metodologia DISC, uma das ciências comportamentais mais importantes do mundo, existem 4 fatores principais de comportamento: Dominância, Influência, eStabilidade e Conformidade. A combinação dos diferentes níveis de intensidade de cada fator DISC define diferentes perfis comportamentais. Para cada um desses perfis, existem estratégias de comunicação e persuasão que funcionam de forma mais eficiente. Para descobrir qual é o estilo comportamental de um cliente e estabelecer uma abordagem direcionada, uma análise aprofundada como o relatório negocial é muito bem-vinda.

Atendimento e relacionamento com o público

Lidar com pessoas não é uma tarefa apreciada por todos, mas pode ser menos imprevisível caso o profissional se atente à expressão corporal do público. Dessa forma, fica mais fácil entender quando um cliente está descontente ou irritado, o que pode ajudar a prevenir situações desagradáveis. Da mesma forma, o profissional consegue identificar quando eles estão mais receptivos e dispostos, o que configura um momento ideal para tentar fazer com que ele continue consumindo o que a empresa tem a oferecer.

Recrutamento e Seleção

Avaliar a linguagem corporal dos candidatos é um dos recursos que ajudam recrutadores a fazer processos de Recrutamento e Seleção mais assertivos. Isso porque, através de gestos, olhares, do tom de voz e até mesmo das pausas durante a fala, há muitas informações subentendidas que fazem a diferença na hora de decidir qual talento se adequa melhor à demanda do cargo. Ao observar a linguagem corporal, os recrutadores conseguem, por exemplo, identificar quais candidatos são mais confiantes, quais demonstram empatia, os que se comunicam de forma mais metódica e responsável e aqueles que podem estar dando informações falsas.

Para realizar processos de R&S otimizados, também é fundamental selecionar a partir do comportamento de cada candidato. Afinal, quando uma pessoa assume uma vaga que utiliza o melhor de suas características comportamentais, a tendência é que ela trabalhe melhor e se sinta mais realizada. Para isso, um bom software de gestão de pessoas, como o Etalent PRO, é indispensável.

 

Dicas para melhorar sua comunicação não verbal

Como vimos, tanto no contexto corporativo quanto na vida pessoal, é de suma importância aprender a interpretar e como se portar para transmitir a mensagem desejada. Por isso, dentre algumas dicas para melhorar a comunicação verbal, destacamos:

Observe atentamente os colegas

Aprender a observar o comportamento das pessoas ao redor é o primeiro passo para desenvolver a capacidade de analisar e interpretar a expressão corporal. Para isso, é interessante ficar atento aos movimentos das mãos e dos pés, para onde uma pessoa direciona o olhar, como ela se senta, se tem uma postura mais relaxada com ombros baixos ou mais rígida e contraída, além do tom que utiliza quando fala. É sempre interessante observar como ela reage em situações adversas, como conflitos ou circunstâncias onde há pressão. Avaliar o que muda na postura conforme o contexto é uma dica preciosa para entender o comportamento.

Faça contato visual

Para criar conexões com o receptor, o contato visual é fundamental. Quando um profissional estiver se dirigindo a um grupo de pessoas, é importante fixar o olhar, de forma alternada, em cada uma delas para mostrar confiança e estabelecer vínculos. Para líderes, essa é uma estratégia indispensável e que não pode ser deixada de lado.

Preste atenção ao tom de voz

O tom de voz é extremamente importante na hora de comunicar qualquer mensagem. É possível, inclusive, dar informações completamente diferentes usando uma frase idêntica, alterando apenas o tom e a ênfase no que é dito. Para ilustrar, pensemos na frase “o meu colega de trabalho é muito inteligente”. Falando isso em um tom linear e sem nenhum tipo de recurso enfático, a ideia que passa é que se trata de um elogio genuíno. No entanto, se alguém diz “o meu colega de trabalho é muito inteligente”, alterando a duração, o tom e dando ênfase na palavra “muito”, é bem mais provável que o interlocutor que esteja sendo irônico do que esteja fazendo um elogio. Nesse caso, com a mesma frase, ele não apenas passa outra mensagem como também indica que pensa de forma completamente diferente do que foi dito. Em suma, é sempre bom ter cuidado com o tom de voz.

Cuidado com a postura

Da mesma forma que devemos ficar atentos à postura das pessoas ao nosso redor, é fundamental que prestemos atenção à nossa. Afinal, saber como adaptá-la em situações distintas é fundamental para que uma pessoa passe a imagem que deseja, o que ajuda a alcançar seus objetivos. Como vimos, a linguagem corporal pode ajudar em diversas áreas no contexto corporativo, e quanto mais cedo os profissionais aprenderem a usá-la em favor próprio, melhor para suas carreiras.

Apesar de ser deixada de lado muitas vezes, a comunicação não verbal é fundamental para otimizar os processos nas empresas e para melhorar as relações na vida pessoal de um colaborador. Ao investir nisso, a organização garante ambientes mais saudáveis, equipes mais sinérgicas e profissionais mais felizes. E vale sempre ressaltar: toda e qualquer empresa é formada por pessoas. Mantê-las satisfeitas e engajadas em suas funções é o primeiro passo em direção a um futuro em que a produtividade e a humanização andam juntas.

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Fernanda Misailidis

Fernanda Misailidis é jornalista e atua como Assessora de imprensa e Embaixadora da ETALENT. Carioca, é apaixonada por artes, ama estar nos palcos e não vive sem teatro.

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