Mais de um ano e meio depois do início do período de isolamento social, ainda lidamos com as consequências trazidas pela pandemia de coronavírus. No mundo corporativo, a consolidação de modelos de trabalho distintos foi uma das grandes marcas desse período – o próprio home office era pouco comum aos brasileiros antes que o distanciamento social fosse uma realidade. As discussões sobre saúde mental, qualidade de vida, construção de relacionamentos e redução de custos vieram à tona e, no momento atual, onde, felizmente, mais de 50% da população brasileira está totalmente vacinada, elas voltam aos holofotes. Afinal, aos poucos, a sociedade entra na era pós-pandemia e ensaia a volta à “normalidade”.

Acontece que, por mais que desejemos voltar aos moldes de antes da pandemia, não é possível fazer isso desconsiderando o que vivenciamos durante esse período. E quando o assunto são os modelos de trabalho, isso fica bem claro. Há pessoas que conseguiram se adaptar às tendências e se sentem confortáveis exercendo suas funções remotamente enquanto outras, não. Da mesma forma, há empresas que, mesmo com a possibilidade de retomar a rotina presencialmente, preferem manter os colaboradores trabalhando de casa. E há, claro, quem não tenha essa possibilidade por conta da natureza de suas demandas.

Mas uma coisa é certa: a vivência do período, evidentemente, abriu brechas para que novas possibilidades fossem estabelecidas e o modelo presencial tradicional fosse questionado. E, agora, com a flexibilização das medidas de segurança, dúvidas sobre o futuro do ambiente corporativo começam a surgir. Será que é realmente necessário voltar ao trabalho presencial em todas as funções? É possível manter parte da equipe em casa? Existe um meio-termo? Quais são as opções?

Essas são questões que iremos responder no artigo de hoje, onde falaremos sobre as vantagens e as desvantagens dos modelos de trabalho remoto, presencial e híbrido. Confira!

 

Os modelos de trabalho: o que são, vantagens e desvantagens

Apesar de estarmos mais acostumados com o trabalho presencial, existem outros dois modelos que ganharam notoriedade durante o período de isolamento social: o remoto e o híbrido. Cabe às empresas definirem qual deles se adequa melhor às estratégias organizacionais adotadas. Afinal, cada um deles têm suas vantagens e desvantagens, como veremos nos tópicos a seguir.

Presencial

O modelo de trabalho presencial é tradicional e já está mais do que consolidado: nele, os colaboradores devem se deslocar até o local estabelecido, seja a sede da empresa, escritório, loja, fábrica, dentre outras possibilidades, para exercer sua função. Dentre as vantagens oferecidas por este modelo, estão a possibilidade do estreitamento de laços entre os profissionais, o alinhamento entre demandas de equipes, a comunicação ágil e eficiente, o acompanhamento de atividades com feedbacks imediatos e o reforço da cultura organizacional, além da divisão clara entre o ambiente de trabalho e o ambiente doméstico.

O costume com este modelo, no entanto, não o torna perfeito para todos. Entre as desvantagens comuns ao trabalho presencial, estão a falta de flexibilidade, o tempo perdido em deslocamentos e as despesas geradas pela presença do Capital Humano, como os custos com água, luz, aluguel e alimentação. A fadiga física também é um sintoma comum deste modelo, o que, em longo prazo, pode significar queda de desempenho.

Remoto

Popularizado no Brasil por conta da necessidade de distanciamento social, o formato remoto consiste em um modelo de trabalho em que o colaborador realiza suas atividades fora das dependências da empresa. Quando isso ocorre na casa deste profissional, o processo é conhecido como home office mas, na prática, o trabalho remoto pode acontecer de qualquer lugar onde a realização de tarefas seja possível.

Este modelo é marcado, principalmente, por conta da redução de custos, afinal, manter os colaboradores em suas casas significa menos gastos para as organizações. Mas há outras vantagens atrativas trazidas pela opção, como a flexibilidade de horários, melhor aproveitamento do tempo, descentralização de poder e desenvolvimento de autonomia por parte dos colaboradores. Para os profissionais que conseguem se adaptar a essas condições, esses elementos podem significar ganhos expressivos de produtividade.

Mas, como sabemos, o trabalho remoto não é viável para todos os cargos e nem agradável para todas as pessoas. Entre as desvantagens, estão a falta de eficiência na comunicação, dificuldades de interação, gerenciamento remoto das atividades que, por vezes, perde em agilidade, os desafios em relação à manutenção dos valores da empresa, dificuldades em administrar o trabalho e a casa ao mesmo tempo, em especial para os que convivem com outras pessoas, e o cansaço mental causado pelo isolamento e pelo excesso de telas. Para pessoas com perfis comportamentais mais comunicativos e relacionais, essas circunstâncias podem ser especialmente desafiadoras.

Para melhorar o próprio desempenho sob este modelo, a utilização de pesquisas e análises é sempre muito bem-vinda. Com o Relatório Comportamental do Trabalho Remoto, um aliado fundamental para descobrir como aproveitar as principais características comportamentais durante o home office, essa tarefa se torna mais fácil até para aqueles que têm dificuldades maiores.

Híbrido

O modelo de trabalho híbrido corresponde a um meio-termo entre o presencial e o remoto. Como o nome indica, este formato mistura os dois para tentar abarcar os principais benefícios de cada um e se tornar uma alternativa inovadora que contemple as demandas mercadológicas do momento pós-pandemia. Não há uma regra específica para sua aplicação; isso deve ficar a cargo da necessidade e da estratégia de cada organização. O ponto principal deste formato é que parte das tarefas sejam realizadas presencialmente e a outra parte, de maneira remota.

O trabalho híbrido concentra algumas vantagens comuns aos outros dois formatos, como algum nível de flexibilidade, comunicação ágil, manutenção de sinergia, autonomia e descentralização de poder. No entanto, ele não é completamente eficaz contra algumas desvantagens específicas herdadas dos modelos de referência, já que ainda gera custos para a manutenção de um ambiente organizacional e de deslocamento, e ainda abre espaço para a perda de tempo no trânsito, por exemplo.

 

Por que o trabalho híbrido é o favorito para o pós-pandemia?

Recentemente, a Microsoft conduziu um estudo com mais de 30 mil colaboradores de 31 países diferentes para ajudar a elucidar questões sobre os modelos de trabalho durante a pandemia e seus efeitos futuros. Nesta pesquisa, constatou-se que 70% dos profissionais entrevistados desejavam manter a rotina do trabalho remoto mesmo com a flexibilização das medidas de segurança. Em contrapartida, curiosamente, 65% desejam ter mais tempo presencial com as suas equipes. Esses resultados apontam para duas questões que, de acordo com o estudo, evidenciam as grandes tendências para o futuro: a busca por flexibilidade e o trabalho híbrido.

Apesar do trabalho híbrido não ter surgido durante a pandemia, foi a partir da necessidade de isolamento social que essa ideia se popularizou. Nos primeiros meses, havia muito receio por parte dos gestores em relação à produtividade e performance dos colaboradores no modelo remoto. A dúvida, no entanto, não demorou a se tornar uma certeza: hoje em dia, considera-se amplamente que o home office foi bem-sucedido em pontos estratégicos – tanto foi que, mesmo com a flexibilização, muitos ainda desejam mantê-lo em algum nível.

Isso não quer dizer que o modelo remoto seja perfeito ou que tenha aprovação unânime, no entanto. Longe do escritório, a sinergia e o alinhamento podem ficar comprometidos, visto que a comunicação do dia a dia não acontece da mesma maneira. Segundo Peter Cappelli em entrevista ao Valor Econômico, o profissional que trabalha remotamente tem como “desvantagem ganhar menos atenção, oportunidades e informações”. Além disso, muitas pessoas têm dificuldades em separar o trabalho do lazer quando estão trabalhando em casa, o que pode ser extremamente prejudicial à saúde mental. O espaço disponível também pode ser um problema nesse caso, afinal, há pessoas que não possuem condições ideais para exercer suas funções de forma remota.

Por outro lado, essa nova rotina ressignificou os moldes pré-estabelecidos. A ruptura forçada com o modelo presencial, já consolidado há séculos, fez com que fosse possível enxergar uma alternativa que contemplasse os desejos por flexibilidade e bem-estar no trabalho, pontos que podiam ser deixados de lado, principalmente em organizações mais conservadoras.

O trabalho híbrido ganha força a partir dessas novas concepções, onde entende-se que há uma perda com o trabalho remoto, principalmente no aspecto comunicacional, mas que também há ganhos significativos em relação à flexibilidade, otimização de tempo e diminuição de despesas. Esse modelo de trabalho equilibra os prós e contras, oferecendo formas para lidar com os pontos fortes e fracos do trabalho presencial e do remoto. Além disso, o modelo híbrido segue uma tendência cada vez mais comum no mercado: a utilização massiva de tecnologia. Para muitos, é uma questão de tempo até que este venha a se tornar o padrão nas empresas.

Os números obtidos em estudos recentes corroboram essa visão: de acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria de RH Adecco em 25 países diferentes e com mais de 14 mil pessoas, 71% dos entrevistados desejam trabalhar mais no formato remoto do que faziam em 2019, antes da pandemia ter início. O estudo apontou ainda a preferência específica pelo modelo híbrido: em média, os entrevistados desejam passar 53% da semana trabalhando à distância e 47% do tempo no escritório.

 

Como implementar os modelos remoto e híbrido na sua empresa de maneira eficiente?

Como mencionamos, não são todas as funções que podem ser exercidas de forma parcial ou totalmente remota. Por isso, antes de pensar em como estruturar esses processos em uma empresa, é importante pensar em como organizar a demanda desses cargos de forma a encontrar um equilíbrio. No caso de um modelo híbrido, por exemplo, na hora de organizar a escala, cabe avaliar o que pode ser feito de forma remota e o que precisa acontecer in loco.

Dito isso, destacamos alguns pontos cruciais para pensar na adaptação da sua empresa a esse cenário. São eles:

Tecnologia e recursos

Estabelecer quem será o responsável por fornecer os equipamentos para o trabalho remoto é uma questão contratual e, portanto, varia bastante de situação para situação. No entanto, é fundamental que a organização se responsabilize por adotar ferramentas, aplicativos e plataformas que viabilizem a comunicação, a transmissão de arquivos e documentos e o acompanhamento de atividades. Afinal, esses modelos de trabalho dependem da eficiência desses processos.

Vale ressaltar que, no formato híbrido, é comum que aconteçam escalas e que alguns colaboradores que estejam na empresa precisem se comunicar com os que não estão. Por isso, é importante pensar em soluções que contemplem tanto as necessidades durante o expediente nas dependências da empresa quanto fora delas.

Segurança e proteção de dados

Em tempos pautados no ambiente digital, proteger os dados tornou-se uma questão de extrema importância e cabe à empresa estabelecer formas para tal. Algumas medidas efetivas para esse propósito são a adoção de um antivírus corporativo e de redes privadas virtuais (VPN), além dos cuidados básicos durante a navegação na internet. A utilização de sistemas em nuvem também é interessante; não apenas pela segurança, mas também porque, através deles, os profissionais podem ter acesso aos arquivos e documentos independentemente de onde estiverem, além de terem a possibilidade de compartilhá-los e editá-los em conjunto com os demais.

Gerenciamento de equipes

Nem tudo sobre trabalho híbrido e à distância deve ser a respeito dos recursos e das ferramentas tecnológicas que serão utilizadas. Afinal, gerir parte de uma equipe de forma presencial e a outra, remota, é um desafio à parte. Mesmo em contextos distintos, alavancar os resultados, manter a qualidade e a alta performance nesses grupos deve ser a prioridade, o que estabelece uma situação específica e que necessita de estratégia para que seja bem-sucedida.

O primeiro ponto importante é a adaptação da liderança. É normal que as empresas esperem que seus profissionais consigam se adaptar ao trabalho remoto e que aproveitem todos os benefícios proporcionados pelo modelo. No entanto, se os líderes das equipes não estão capacitados para desempenharem suas funções e exercerem suas responsabilidades à distância, é provável que a equipe como um todo seja afetada. A adaptação a um novo contexto e novas ferramentas também deve ser parte do dia a dia dos gestores.

Nestas circunstâncias, novos meios de acompanhar a produtividade e realizar a gestão de desempenho também devem ser estabelecidos, afinal, nem sempre será possível fazer isso presencialmente. As soluções para essa questão são bastante variáveis: talvez sejam necessárias reuniões mais frequentes, acompanhamento a partir de softwares para a organização de atividades, definição e cumprimento de prazos, dentre outras possibilidades. Cada empresa pode buscar a sua própria forma de realizar o acompanhamento, criando uma rotina para isso.

Outra questão de extrema importância é a comunicação interna quando esses modelos de trabalho são adotados. Como mencionamos, é muito importante que os profissionais consigam se comunicar, principalmente quando não dispõem do ambiente de trabalho para fazer isso de forma ágil e eficiente. Por isso, a melhor maneira de garantir o fluxo de informações é através da criação de um ambiente de trabalho virtual, onde todos tenham acesso ao material necessário para exercer suas funções.

 

A saúde mental

Outro assunto muito presente nessa discussão são os efeitos desses modelos de trabalho na saúde mental dos colaboradores. Nessas circunstâncias, tornou-se cada vez mais comum a incidência da síndrome de burnout, visto que, para os profissionais com mais dificuldades de trabalhar de casa, foi necessário mais tempo para cumprir suas demandas. Segundo o mesmo estudo da RH Adecco citado anteriormente, houve um aumento de até 14% na carga horária e 63% dos entrevistados alegaram trabalhar mais de 40 horas por semana nos últimos 12 meses durante o período.

A consequência, infelizmente, não poderia ter sido outra: 33% disseram sentir uma piora significativa em sua saúde mental. Para os brasileiros, os dados são ainda mais alarmantes: 43% relataram deterioração dos aspectos psicológicos e emocionais. Ao todo, cerca de 40% dos entrevistados admitem a preocupação com a possibilidade do burnout por conta de seu ritmo de trabalho.

Com a retomada aos ambientes organizacionais, mesmo que de forma híbrida, é necessário considerar este impacto. É normal que alguns profissionais tenham mais dificuldades para se comunicar por conta do isolamento e, também, de produzir em seu ritmo normal durante a fase de readaptação. Afinal, os dos protocolos de segurança contra o coronavírus, que devem ser cumpridos à risca, não são a única grande mudança em suas rotinas de trabalho.

 

Os desafios dos gestores nos novos modelos de trabalho

Como mencionamos, os líderes e gestores devem estar incluídos nas rotinas de adaptação para os novos modelos. É importante que esses profissionais mantenham uma boa comunicação com as equipes, acompanhem o desenvolvimento de suas atividades e, claro, entendam as peculiaridades de cada formato de trabalho. Se o remoto e o híbrido são marcados por flexibilidade, não adianta cobrar produtividade como se os profissionais estivessem trabalhando presencialmente, por exemplo.

Nesse cenário, o ideal é criar vínculos de confiança e estreitar as relações para realizar o acompanhamento. Conhecer as características comportamentais de cada colaborador ajuda muito a entender a forma com que eles trabalham, seja presencial ou remotamente. Utilizar um software de Gestão Comportamental como o Etalent PRO para fazer mapeamentos e entender as individualidades é essencial para que isso seja feito da melhor maneira possível. Desta forma, além de fazer bom uso dos aspectos comportamentais de cada colaborador, é possível ajudá-los a lidar com suas dificuldades e aumentar a sua produtividade.

Para entender como usar o comportamento de uma equipe em diferentes cenários, é preciso estar apto a praticar a liderança a partir desses aspectos. Com o curso de Liderança Comportamental, o foco é desenvolver a capacidade dos gestores de exercerem essa competência a partir dos aspectos comportamentais de cada colaborador e, assim, tornar sua liderança mais eficiente, otimizada e adaptável.

Organizar o momento de retomada depois de tanto tempo de isolamento não é tarefa fácil. O modelo híbrido é apontado como tendência e tem sido bem-visto, mas utilizá-lo requer planejamento e envolvimento de todo o Capital Humano de uma empresa. No entanto, vale lembrar que nem sempre essa é a melhor alternativa; existem demandas que não podem ser cumpridas devidamente de forma remota.

É importante que, neste momento, essas questões sejam avaliadas para entender se modelos alternativos de trabalho são viáveis. Afinal, o melhor modelo de trabalho para uma empresa deve, antes de tudo, atender às suas necessidades.

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Fernanda Misailidis

Fernanda Misailidis é jornalista e atua como Assessora de imprensa e Embaixadora da ETALENT. Carioca, é apaixonada por artes, ama estar nos palcos e não vive sem teatro.

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