Há vários fatores que determinam os motivos pelos quais as pessoas têm certas atitudes, comportamentos e por que elas pensam da forma que pensam. Muito disso, evidentemente, é moldado a partir das experiências pessoais, percepções e olhares. Há, por exemplo, quem seja naturalmente criativo e que esteja sempre buscando formas de expressar essa característica. Por vezes, pedir para uma pessoa com esse perfil solucionar um problema pode levá-la a caminhos bem diferentes em relação ao raciocínio que alguém com um perfil de pensamento mais lógico teria.

Isso porque a mentalidade, ou seja, a série de conceitos que molda o jeito com que os indivíduos enxergam a vida, é diferente. Isso está relacionado aos processos mentais, às formas de resolver problemas, de encarar as dificuldades e até ao jeito com que uma pessoa se sente diante de determinadas situações. Esse conjunto de manifestações emocionais tem origem na cultura, nos conceitos morais e na predisposição psíquica de cada um.

Nos ambientes organizacionais, esse é um fator a que se deve ter atenção. Afinal, estimular diferentes mentalidades no Capital Humano pode ser uma forma de garantir equipes diversas e com grande potencial para a inovação. Para os profissionais, essa é uma questão importante para manter a motivação com o trabalho e, também, para impulsionar a própria carreira. É a mentalidade de crescimento de uma pessoa que pesa na hora em que ela decide, por exemplo, fazer um curso para desenvolver mais habilidades e, assim, conseguir uma promoção. Da mesma forma, é a crença no sucesso obtido em equipe que faz com que um profissional seja solícito e colaborativo. Tudo isso pode (e deve) ser aproveitado em prol dos objetivos da organização.

É nesse ponto que entra o conceito de mindset, um termo que vem ganhando cada vez mais espaço nas discussões sobre comportamento no ambiente de trabalho. Confira mais sobre o termo no nosso artigo de hoje!

 

O que é mindset?

Em tradução literal, mindset pode ser entendido como “configuração da mente”, o que é um bom indicativo sobre o seu significado. De forma objetiva e generalizada, esse conceito se refere à forma de pensar de uma pessoa. No entanto, o termo trata de camadas mais complexas do que simplesmente a maneira de enxergar o mundo de alguém. Por lidar diretamente com a predisposição psíquica de uma pessoa para determinados eventos e impactar diretamente nos seus comportamentos e atitudes, muitos entendem o conceito como um sinônimo direto de “mentalidade”.

O mindset de uma pessoa é algo subjetivo, moldado a partir da forma com que ela interpreta as informações cotidianas sob sua ótica. Uma pessoa com síndrome do impostor, por exemplo, tem sempre a sensação de que suas conquistas são única e exclusivamente atribuídas à sorte – nunca à própria competência. Apesar de ela ter todas as evidências de que consegue fazer (e de fato faz) um bom trabalho, a forma com que ela interpreta os fatos é distorcida e, por isso, constrói uma mentalidade onde entende que não consegue fazer nada bem, o que traz consequências ruins para ela.

No livro Mindset: a nova psicologia do sucesso (2017), a psicóloga Carol S. Dweck informa que o mindset de uma pessoa é formado a partir de tudo que ela vivencia, vê e ouve, bem como as suas crenças e valores. Além disso, a maneira com que os indivíduos estabelecem a leitura dessas informações afeta diretamente a forma com que levam a vida, tanto para o bem quanto para o mal. No exemplo anterior, a pessoa com síndrome do impostor provavelmente vai perder muitas oportunidades de crescimento por não acreditar na própria capacidade.

Contudo, o contrário também acontece: para a autora, quem busca sempre por desenvolvimento e adota posturas propícias a isso têm chances maiores de atingir esses objetivos. Logo, Dweck acredita que a mentalidade de uma pessoa é um fator determinante para saber se ela vai agir de forma positiva ou negativa diante de uma situação, por exemplo.

 

Os tipos de mindset

Em seu livro, Carol Dweck explica que existem dois tipos distintos de mindset: o fixo e o de crescimento. A autora utiliza os termos para se referir, de forma simples, a dois arquétipos de mentalidades opostos, cada um com suas próprias características.

Mindset fixo

De acordo com Dweck, as pessoas com mindset fixo são aquelas que se comportam como se as capacidades, habilidades e inteligências fossem fatores imutáveis. Esse grupo é mais resistente às mudanças, uma vez que acredita que as qualidades e fraquezas dos indivíduos são questões natas e não podem ser alteradas com o tempo ou esforço. Por exemplo: ou alguém nasce inteligente ou não; ou um colega sabe como resolver um determinado problema ou não. Para essas pessoas, não há muito a ganhar com as tentativas. Aliás, nesse ponto, essa forma de pensar é ainda mais problemática: esse perfil acredita que quem se esforça para fazer algo, no fundo, não tem capacidade para tal, já que, se tivesse, não teria que fazer tanto esforço. Por isso, esse grupo não lida bem com desafios e é bastante comum vê-lo desistindo sem nem mesmo tentar.

Além disso, essas pessoas têm muitas dificuldades em admitir os próprios erros e, consequentemente, de aprender com eles. Afinal, o grupo enxerga as falhas cotidianas como fracasso e, já que a vaidade e o ego são fatores bastante atrelados a essa mentalidade, é comum que, quando os erros ocorrem, esses indivíduos já busquem logo um culpado ou que fiquem se justificando ao invés de fazer melhor.

Outro fator preocupante quanto a esse tipo de mindset é que há uma enorme tendência à acomodação. Da mesma forma que esses indivíduos podem desistir fácil de tarefas que considerem ser além de suas capacidades, eles podem deixar de se desenvolver quando o foco forem as atividades que conseguem desempenhar bem. Afinal, essa mentalidade não objetiva o aperfeiçoamento, já que entende que a perícia em determinadas áreas é fruto de talento natural. Pessoas com o mindset fixo olham para um cantor de sucesso, que se dedicou à música por uma vida inteira e fez dezenas de sacrifícios em nome da carreira, e simplesmente atribuem todas as conquistas ao seu dom natural. Isso quando o motivo não for sorte ou mesmo a intervenção de algum tipo de força divina…

Mindset de crescimento

Enquanto o mindset fixo assume que cada pessoa tem habilidades e competências que as acompanham desde o nascimento e que não há muito o que fazer a respeito, o exato contrário acontece com o mindset de crescimento. Pessoas com esse tipo de mentalidade são mais receptivas às mudanças e acreditam que o potencial pode (e deve) ser desenvolvimento com tempo, estudo, dedicação, erros e acertos. Por isso, elas estão sempre abertas ao aprendizado, às novas experiências, ao desenvolvimento de novas habilidades e, claro, à busca pelo aperfeiçoamento naquelas que já possuem.

Esse grupo acredita que os resultados partem do esforço, não de habilidades natas, sorte ou poderes sobrenaturais. Por isso, normalmente essas são pessoas mais “pé no chão” quanto às próprias habilidades; por isso, buscam o aperfeiçoamento constante e posturas menos vaidosas em relação às atribuições.

 

A importância de conhecer o próprio mindset

Conhecer o próprio mindset é, sobretudo, uma forma de entender como processamos as informações recebidas no dia a dia. É analisando a forma com que reagimos a determinadas circunstâncias que desenvolvemos o autoconhecimento necessário para reconhecer as nossas principais forças e trabalhar as fraquezas.

Ao considerar os conceitos de mindset fixo e de crescimento, percebemos, também, sob qual ótica encaramos a necessidade do esforço e o valor que atribuímos ao desenvolvimento individual. Essa é uma questão fundamental quando o assunto é o crescimento, tanto pessoal quanto profissional.

Nos estudos que conduziram ao livro, Dweck realizou uma série de estudos com crianças e quebra-cabeças para entender como elas lidavam com as dificuldades impostas, além do fracasso e da frustração. A psicóloga utilizou puzzles que foram ficando progressivamente mais difíceis, a fim de observar como o grupo iria reagir às novas circunstâncias.

Para algumas crianças, a possibilidade de desistir nem mesmo era cogitada; elas continuavam tentando, independente do quanto a dificuldade aumentasse. Elas nem mesmo encaravam o fracasso como algo ruim, mas, sim, como uma parte do processo. Já para outros pequenos, a ideia de fracassar fazia com que elas não tivessem o ímpeto de continuar tentando. Nesses casos, a motivação ficava comprometida por conta dos desafios, que eram cada vez mais altos.

Quanto mais cedo observarmos as tendências nas próprias atitudes – sobretudo em relação à frustração e fracasso -, mais fácil fica prevenir a construção de uma mentalidade fixa, em que deixamos de tentar nos desenvolver e melhorar. Sempre vale lembrar que, como mencionamos, os mindsets são formados a partir das nossas vivências e experiências. Adotar uma mentalidade específica muitas vezes está relacionado aos lugares que frequentamos. Quando as relações ou os ambientes organizacionais são tóxicos, essa atitude pode refletir um trauma. Por isso, é importante estar sempre atento: quando uma pessoa está ciente dessas condições, ela fica mais apta a agir e impedir que avance.

 

É possível mudar de mindset?

De acordo com os estudos conduzidos por Carol Dweck, uma pessoa não apresenta um mindset único e exclusivo durante a vida inteira. A mudança é perfeitamente possível, tanto em termos de mentalidades opostas em momentos distintos da vida quanto em relação às atitudes em diferentes circunstâncias num mesmo intervalo de tempo. Digamos que um profissional tenha saído de uma realidade difícil e que tenha conseguido, através do próprio esforço, o que precisava para fundar uma empresa. Como aponta a autora, nada impede que, depois de consolidado no mercado, ele adote posturas arrogantes por acreditar que seu sucesso ateste sua competência.

Ela, inclusive, explica que, dependendo da situação em que nos encontramos, também é possível que adotemos atitudes advindas de mindsets opostos. Uma pessoa que é muito aberta para matemática e lógica, por exemplo, pode ter uma ideia completamente conservadora em relação ao aprendizado de um novo idioma. Para a autora, os mindsets estão diretamente relacionados com a disposição para a aprendizagem e, por isso, podem e devem ser modelados ao longo da vida. Também é válido mencionar que ela não define uma mentalidade como certa ou errada, apenas pontua que a postura aberta para o crescimento costuma render mais frutos, tanto na vida pessoal quanto profissional.

 

Mindset e os perfis comportamentais DISC

Como mencionamos, o mindset de uma pessoa está diretamente relacionado ao seu comportamento. Esse, por si só, é um termo complexo e subjetivo, que serve para definir um conjunto de ações e reações de uma pessoa mediante determinados estímulos. É o perfil comportamental de um indivíduo que define se ele se sente energizado em torno de outras pessoas ou precisa ficar recluso para isso; se está disposto a arriscar ou se prefere condições mais estáveis; se precisa de uma rotina meticulosamente organizada ou consegue lidar com situações de improviso. Essas são algumas situações que representam estilos comportamentais distintos, mas que nem começam a definir a complexidade do comportamento humano.

De acordo com a Metodologia DISC, uma das ciências comportamentais mais importantes do mundo, o comportamento de uma pessoa é formado a partir das relações entre 4 fatores centrais: Dominância, Influência, eStabilidade e Conformidade, cada qual com suas próprias características e, evidentemente, mindsets. É importante ressaltar que todos nós possuímos todos os 4 fatores DISC em algum nível, todavia, a forma e as situações em que os utilizamos é o que vai definir o nosso estilo comportamental.

Dominância

Pessoas com a Dominância em evidência são ambiciosas, assertivas, e têm gosto por encarar novos desafios. Esse é um fator que dificilmente se aquieta diante das circunstâncias, visto que eles entendem que há sempre uma forma de melhorar o que está sendo feito. Contudo, é bom sempre ter atenção, visto que, como esse é um fator muito voltado para a objetividade e obtenção de resultados, as pessoas com alto nível podem acabar colocando os outros em segundo plano. É comum, por exemplo, que eles tenham facilidade para tomar decisões que desagradam os demais sem ficar ressentidos por isso depois.

Influência

A Influência é um fator marcado pela alta sociabilidade, extroversão e dinamismo. São pessoas que gostam de se relacionar e que ganham muita energia através do convívio com outras pessoas. Os Influentes são bons de improviso e podem ter dificuldades para estabelecer rotinas mais pragmáticas e organizadas. A comunicação, no entanto, é uma das grandes forças destes perfis. Como eles não lidam bem com a ideia de monotonia, é comum vê-los tentando ampliar os próprios horizontes.

eStabilidade

Pessoas com alta eStabilidade têm como principais características a paciência, persistência e empatia. Além disso, esse é um grupo que preza pela organização e que tem a responsabilidade como um ponto forte. No entanto, por preferirem condições mais estáveis e terem dificuldades para lidar com mudanças, eles têm uma tendência natural à acomodação, o que precisa sempre ser observado para que não se torne uma questão problemática, que atrapalhe o próprio desenvolvimento.

Conformidade

Já a Conformidade é marcada por um aspecto introspectivo voltado para a lógica e análise. Essas são pessoas que prezam pela racionalidade, ponderação, estratégia e que gostam de tudo feito com qualidade, da melhor maneira possível. Por conta do perfil mais analítico, é comum que sejam bastante curiosos quanto aos assuntos que os interessam, o que facilita o próprio desenvolvimento. Outra característica marcante desse grupo é que eles são especialmente propensos a seguir regras, e isso engloba desde questões que devem ser encaradas com mais seriedade, como as leis, até situações banais de convivência. Uma pessoa com alta conformidade, por exemplo, dificilmente colocará o açúcar em um pote em que está escrito “arroz”.

Cada um desses perfis tem características únicas quanto à percepção de mundo, olhares, formas de se relacionar com outras pessoas e, claro, de encarar o próprio crescimento. São mindsets distintos, com destaques e pontos de atenção que variam de acordo com cada estilo comportamental. Por isso, é fundamental conhecê-los profundamente para aprender a otimizar o que há de melhor em cada um – e ficar de olho no que precisa ser desenvolvido. Para tal, a utilização de análises comportamentais detalhadas é muito importante, bem como um processo bem estruturado de Assessment para avaliar a motivação dos colaboradores e como eles estão utilizando suas características comportamentais nos cargos que exercem.

 

Desenvolva o seu mindset para o sucesso!

Não é segredo para ninguém: a sociedade em que vivemos atribui muito valor aos talentos considerados natos. Como mencionamos, ainda há muitas pessoas que não reconhecem esforço e dedicação como partes importantes do sucesso, preferindo atribuí-lo ao dom, ao acaso ou mesmo à intervenção divina.

Esforçar-se para alcançar os objetivos não garante, de fato, que isso irá acontecer – infelizmente, ainda há muitas razões sociais e econômicas que interferem diretamente no potencial de sucesso de um indivíduo. No entanto, para que haja ao menos uma chance de conseguir, o esforço é imprescindível. Essa é a ideia central por trás da psicologia do sucesso que, não à toa, é o subtítulo do livro de Carol Dweck.

Nesse processo de desenvolvimento mental, é importante não se desesperar com os indícios do mindset fixo – é bem comum que eles apareçam em determinadas circunstâncias, como mencionamos. Além disso, é fundamental estar ciente de que a mentalidade não é algo que muda da noite para o dia. O processo perpassa por posturas, atitudes, comunicação e, evidentemente, o amadurecimento de ideias. Afinal, é preciso aprender a se frustrar e aceitar esse sentimento para, depois, transformá-lo em algo bom.

Dito isso, algumas outras dicas úteis para desenvolver um mindset de sucesso são:

Invista no autoconhecimento

Como o próprio nome indica, o termo “autoconhecimento” se refere a uma gama de processos psíquicos relacionados ao ato de conhecer a si próprio. Desenvolver essa habilidade traz benefícios importantes na vida e na carreira dos indivíduos. Afinal, dessa forma, conseguimos identificar com mais clareza como elas reagem a determinadas situações ou estímulos, o que é essencial para que uma pessoa possa observar, por exemplo, como ela lida com a frustração e os processos de aprendizado. Esse é um passo de muita relevância no caminho de quem deseja mudar a forma de pensar.

Respeite seu próprio progresso

Cada pessoa tem um ritmo próprio. Como mencionamos, mudar o mindset não é algo que simplesmente ocorre do dia para a noite; é um processo de médio a longo prazo, que requer paciência e resiliência. Por isso, é importante respeitar o próprio progresso, mesmo que ele ocorra devagar. Primeiro, admitir que a atitude mental precisa mudar, depois começar a identificar as situações que resultam em pensamentos tóxicos para, só então, começar a fazer algo que efetivamente ajude a postura a mudar. Essa “virada de chave” deve acontecer de acordo com o próprio tempo e não funciona da mesma forma para todos. Mas com esforço e dedicação, o momento chega.

Encare os erros como parte da jornada

Também é importante aceitar os próprios erros e as falhas, aprender com eles, passando a compreendê-los como parte do crescimento, não como motivo para sentir vergonha ou incompetência. Como mencionamos, a sociedade age como se talentos fossem algo nato, que não podem ser desenvolvidos. Contudo, é fundamental trabalhar para se blindar emocionalmente e romper com esse equívoco. Só assim, será possível construir uma relação saudável consigo mesmo e se desenvolver de forma sustentável, sem comprometer a própria saúde mental.

Os mindsets são configurações mentais que expressam a forma com que encaramos as inúmeras situações na vida. De acordo com a psicóloga Carol Dweck, o mindset de crescimento é mais propício a render bons frutos em termos de desenvolvimento pessoal e profissional. Por isso, é muito importante que as empresas conheçam os estilos comportamentais de seus profissionais, bem como suas tendências na hora de encarar dificuldades ou situações de frustração. Esse é um grande passo no caminho de uma gestão humanizada, que faz com que a alta produtividade seja uma consequência direta de um Capital Humano feliz, saudável e motivado.

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Fernanda Misailidis

Fernanda Misailidis é jornalista e atua como Assessora de imprensa e Embaixadora da ETALENT. Carioca, é apaixonada por artes, ama estar nos palcos e não vive sem teatro.

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