As relações entre as empresas e o Capital Humano mudaram muito com o passar do tempo. Se, antes, os colaboradores eram vistos como peças em um complexo sistema de produção, hoje, entende-se amplamente que eles são os principais responsáveis pelo sucesso de uma organização. Por esse motivo, empresas altamente competitivas passaram a investir em ações focadas em modelos humanizados de gestão, que garantem ambientes de trabalho mais saudáveis, boas relações interpessoais, equipes entrosadas e, consequentemente, condições propícias para uma boa saúde mental para os profissionais. Afinal, sabe-se que fatores como a produtividade, motivação e engajamento dependem diretamente da satisfação e felicidade dos colaboradores.

Dado o contexto, novas formas de organização de trabalho surgiram, focando principalmente em estruturas mais horizontalizadas. Mas se engana quem pensa que isso ficou restrito às hierarquias nas empresas – o efeito também impactou as lógicas mais tradicionais dos negócios. A necessidade de trabalhar diretamente na sede da organização, por exemplo, passou a ser muito questionada com a popularização de práticas como o home office.

Outra máxima impactada por essas novas perspectivas é a ideia de consumo. Afinal, é realmente necessário que uma empresa tenha um endereço fixo para operação ou apenas usar um determinado espaço é suficiente para manter a produção? A Uber, por exemplo, presta serviços de transporte e não tem carro algum. O mesmo acontece com a Airbnb, que lidera o ramo de hospedagens sem ser dona de qualquer hotel.

A partir da influência das inovações de organizações exponenciais como essas, que investem em princípios disruptivos, gradualmente observou-se a incidência de novas pautas no contexto corporativo, como sustentabilidade, economia, redução de custos, colaboração e compartilhamento de recursos. É a partir desse novo prisma em relação às estruturas de trabalho que aparece o conceito de economia compartilhada, assunto do nosso artigo de hoje. Boa leitura!

 

O que é economia compartilhada?

A economia compartilhada é definida como um sistema social e econômico focado no compartilhamento de recursos. A ideia pode ser aplicada nos mais diferentes âmbitos da vida, como nos recursos físicos – o que inclui processos que vêm ganhando popularidade como coliving -, humanos e até mesmo intelectuais.

No âmbito corporativo, a premissa também está relacionada à ruptura com padrões tradicionais e a adoção de estruturas de organização que abram mão da posse e deem lugar às trocas e aos aluguéis, por exemplo.

Na prática, a ideia propõe uma utilização mais inteligente e eficaz de ativos e recursos por parte das pessoas e, evidentemente, das empresas. O intuito principal é mudar a forma com que as sociedades consomem recursos naturais, uma vez que sua escassez é um tópico cada vez mais recorrente.

Indiretamente, a economia colaborativa propõe um novo modelo de educação ambiental, incentiva a construção de mentalidades atentas ao futuro e sugere uma mudança cultural. E, em tempos em que as discussões a respeito de ESG assumem protagonismo nos principais eventos corporativos, a ideia de um estilo de vida colaborativo se mostra cada vez mais atual.

Apesar do grande apelo ambiental, no meio corporativo, essa estrutura também vem ganhando adeptos pelo grande potencial de lucratividade, obtida a partir de custos menores. De acordo com esse estudo da consultoria PWC, até 2025, a economia compartilhada e os serviços on demand vão gerar mais de US$ 335 bilhões em receitas. O estudo cita que as áreas onde as mudanças serão mais expressivas são as de hospedagens, aluguel de veículos, transações financeiras e streamings de música e vídeo. Já esta pesquisa, realizada em 2018 pelo SPC Brasil, aponta que 88% dos brasileiros já experimentaram alguma modalidade de consumo colaborativo, o que atesta o potencial de expansão da prática.

 

A origem da economia compartilhada

Apesar da popularização mais recente, o conceito da economia colaborativa já está presente na sociedade há muito tempo – basta pensar, por exemplo, no modelo de negócio dos brechós e bazares. Na prática, a ideia é muito parecida: aproveitar melhor e economizar recursos compartilhando e reaproveitando ativos de forma sustentável.

Contudo, a ideia da economia compartilhada propriamente dita surge depois da crise mundial de 2008, que assolou o sistema financeiro de diversos países. No contexto de recessão econômica, pensar em formas de poupar recursos se tornou fundamental não apenas para garantir a lucratividade das empresas, mas também para mantê-las de portas abertas em tempos difíceis. Na época, outras discussões também pautavam o cenário corporativo, como os avanços tecnológicos constantes, a necessidade de conscientização ambiental e a crescente atuação dos millenials, que chegam ao mercado de trabalho com o desejo de inovar. Todos esses fatores, então, acabaram convergindo até que as primeiras ideias que flertavam com o conceito de economia colaborativa apareceram.

Desde então, empresas com modelos de negócios voltados para o compartilhamento vêm ganhando notoriedade no mercado, como a Uber, a Airbnb e a própria Netflix. Projetos de financiamento coletivo, também conhecido como crowdfunding, também foram surgindo nesse contexto. A premissa cresceu ainda mais com a popularização da internet e a melhoria na qualidade da banda larga, o que ajudou a criar um boom na mobilidade e permitir, por exemplo, que os profissionais trabalhassem em suas casas ou de qualquer outro lugar com conexão estável. Assim, as possibilidades para a economia compartilhada também expandiram e, logo, tornou-se possível compartilhar até mesmo os espaços de trabalho, uma prática que foi batizada de coworking.

 

Como funciona a economia compartilhada?

De acordo com Rachel Botsman, autora do livro “O que é meu, é seu: como o consumo colaborativo vai mudar o nosso mundo” (2011) e uma das maiores especialistas no assunto da atualidade, o modelo de economia compartilhada pode ser focado em até 3 sistemas distintos: mercados de redistribuição, estilo de vida colaborativo e sistemas de acesso a produtos e serviços.

Mercados de redistribuição

Quando a proposta é voltada para a redistribuição, a autora explica que a premissa é afetar diretamente a forma com que a sociedade se relaciona com os itens que não estão sendo mais usados. Com a economia colaborativa, jogar fora deixou de ser uma opção, uma vez que o compartilhamento e o remanejamento são sempre possíveis. Serviços como aluguéis, troca e venda de produtos de segunda mão são o foco aqui. Quanto a esse ponto, a ideia é reduzir, reusar, reciclar, reparar e redistribuir.

Estilo de vida colaborativo

Já a proposta de estilo de vida colaborativo é voltada para a construção de uma mentalidade de compartilhamento e redução do consumo. Como mencionamos, isso pode ser aplicado nos mais distintos âmbitos da vida: bens, serviços, espaços, tempo e até o trabalho podem ser compartilhados.

Sistemas de acesso a produtos e serviços

O último ponto mencionado pela autora diz respeito ao acesso a produtos e serviços, que estabelece o foco na proposta de transformar a necessidade da posse para alternativas como empréstimo ou aluguel. E essa ideia está cada vez mais comum. Se, antes, para assistir a um filme, as pessoas compravam videocassetes, DVDs ou blu-rays, hoje, a mesma função é desempenhada por uma série de serviços de streaming por assinatura. Assim, o custo de produção é menor, a acessibilidade aumenta, bem como a portabilidade, uma vez que é possível, por exemplo, assistir direto no celular enquanto a pessoa vai para o trabalho.

 

Quais são os objetivos e benefícios da economia colaborativa?

Hoje em dia, como mostram as pesquisas, é difícil encontrar pessoas que nunca consumiram produtos ou serviços do sistema de economia compartilhada, sobretudo nos centros urbanos. Para muitos consumidores, a estrutura colaborativa é uma forma de ter bons serviços de forma mais prática e acessível, contudo os benefícios para a sociedade como um todo são ainda maiores. Dentre eles, destacamos:

Melhorias nos produtos e serviços

O aspecto inovador deste modelo faz com que as empresas estejam sempre lutando para melhorar seus serviços, uma vez que isso é fundamental para que se mantenham ativas em um mercado altamente competitivo. Para ilustrar o ponto, basta pensar, por exemplo, no quanto os serviços de delivery melhoraram nos últimos 20 anos: hoje em dia, basta um único aplicativo para ter acesso a uma gama de restaurantes que realizam entregas, sem a necessidade de estar com uma lista telefônica nem o cardápio em mãos.

O transporte urbano também foi diretamente impactado com os novos modelos e, agora, as empresas “tradicionais” precisam se reinventar para oferecer serviços melhores para os passageiros.

Em suma, quando surge uma empresa com um princípio disruptivo que faz sucesso, é mais do que necessário encontrar formas de se adaptar para se manter no jogo.

Incentivo ao consumo consciente

Outro fator beneficiado pelo sistema de compartilhamento de recursos é a construção da consciência ambiental na população. Isso porque, mudando a mentalidade para entender conceitos como o desperdício e o consumo desenfreado, fica mais fácil agir criticamente e tomar atitudes em benefício do futuro do planeta. Assim, o reaproveitamento é incentivado, o também ajuda na redução do consumo exagerado.

Democratização do acesso aos serviços

Muitos dos serviços que hoje estão disponíveis em sistemas de economia colaborativa seriam bem caros se fossem consumidos de forma individual. Nesse sentido, o modelo ajuda na democratização e no acesso de pessoas das mais diferentes classes sociais. Iniciativas como o crowdfunding também são bem importantes, uma vez que o financiamento coletivo pode ser a única solução para uma determinada causa. No mundo dos jogos eletrônicos, por exemplo, onde o desenvolvimento de um game é extremamente caro, esse recurso já foi responsável pelo lançamento de vários jogos que se tornaram sucesso.

Diminuição do impacto ambiental e do desperdício

A premissa da economia colaborativa permite reduzir significativamente não apenas os recursos utilizados, como também o impacto do consumo no mundo como um todo. Isso porque, quando não há preocupação em compartilhar bens, uma vez que eles não são mais úteis, as pessoas simplesmente compram outros e descartam os usados. A consequência é mais lixo no planeta e, evidentemente, maior extração de recursos naturais para que novos itens sejam produzidos. Contudo, quando as pessoas são educadas para compartilhar, muito do material é reaproveitado, o que é ecologicamente saudável e reduz o desperdício.

 

O impacto na vida das pessoas: coworking e coliving

Como mencionamos, quando implementada da maneira certa, a economia colaborativa tem um grande potencial de impactar o estilo de vida das pessoas. Conforme a ideia de compartilhamento de recursos ganhou escopo em nível mundial, muita gente passou a reavaliar as próprias atitudes, se reinventando em relação às formas de consumir. Nesse contexto, até mesmo os modelos tradicionais de trabalho se modificaram, bem como ideais já consolidados quanto à moradia, por exemplo. É a partir disso que dois conceitos, comumente associados à economia colaborativa por sumarizar sua ideia, se popularizam: o coworking e o coliving.

Coworking

De forma resumida, o coworking se refere a um modelo de compartilhamento de local de trabalho. Além dos custos com o coworking serem bem menores do que os aluguéis de salas comerciais, esses espaços são especialmente pensados para o trabalho individual e autônomo. Paralelo a isso, eles ainda incentivam o networking entre profissionais e o compartilhamento de informações, o que pode ser bem interessante para que novas ideias surjam.

O conceito se tornou muito popular nos últimos anos, o que fez com que esse fosse o primeiro contato de muitos profissionais com as ideias de colaboração. Atualmente, o coworking é uma das principais tendências do empreendedorismo brasileiro, o que faz com que os espaços próprios para este fim se tornem mais numerosos, principalmente nos centros urbanos.

Coliving

O coliving eleva a premissa a outro patamar: o conceito trata do compartilhamento de moradias. Os ambientes próprios para isso têm quartos separados para cada morador, mas áreas comuns compartilhadas entre eles, incluindo até a divisão das tarefas domésticas. O conceito é bem parecido com o das populares repúblicas estudantis. A questão é que, para os estudantes, morar nessas casas nem sempre é uma opção – por vezes, isso é necessário para que consigam dar continuidade aos estudos.

Quando o assunto é coliving, a ideia é que os moradores da casa sejam um grupo de pessoas que já está estabelecido profissionalmente e que decide adotar esse modelo de moradia para baratear os custos e viver de forma mais sustentável.

 

E nas empresas?

Adotar um modelo de economia compartilhada traz diversos benefícios para as empresas – não apenas em relação à redução de custos, como também em termos de reputação e empregabilidade da marca. Isso porque, quando há preocupação em se adaptar aos padrões de ESG e incentivo ao consumo consciente, a organização passa a atrair olhares de admiração, tanto do próprio Capital Humano quanto de profissionais que não trabalham nela. Do mesmo modo, melhora a experiência do colaborador, que sente que também faz parte de uma causa importante. Com isso, essa empresa se torna mais respeitada e visada por candidatos em processos seletivos, uma vez que constrói uma imagem pública positiva a partir desses valores.

Além disso, seguir o modelo também significa estar adequado às novas tendências do mercado competitivo, o que é extremamente importante para que a organização não seja ultrapassada pela concorrência e perca seu potencial de lucro. Vale mencionar que essa é uma das principais tendências do cenário corporativo, caminhando de forma concomitante à humanização e à aplicação do comportamento nos processos que envolvem a gestão de pessoas.

É interessante notar, inclusive, que a economia colaborativa e o gerenciamento otimizado de Recursos Humanos são muito importantes para poupar recursos e gastos, uma vez que contratar profissionais que não estejam adequados às atividades que exercem pode ser tão custoso quanto o consumo desmedido. Para fazer isso da melhor forma, é fundamental usar um bom software de gestão de pessoas, como o Etalent PRO.

Para além destes pontos, a economia compartilhada pode ser usada para identificar recursos excedentes e encontrar formas de otimizar o uso. Muitas vezes, nem é preciso investir em novos ativos – listando locais, materiais, contatos e conhecimentos que a empresa já possui, é possível criar redes de contatos, fornecedores e clientes, e até mesmo cobrar taxas por esse serviço. Isso sem mencionar que, conectando as pessoas certas, sistemas mútuos de ajuda são criados, além de projetos que beneficiam a comunidade como um todo. Outro fator interessante que a economia compartilhada traz às empresas é a possibilidade de expandir o negócio sem a necessidade de fazer grandes investimentos nem contratar muitos funcionários. Para isso, uma boa utilização da internet e plataformas digitais pode ser o suficiente.

 

Exemplos de empresas que usam o conceito

Como mencionamos, as ideias da economia colaborativa vêm se tornando cada vez mais populares entre as empresas. Alguns exemplos são:

DogHero

A DogHero oferece serviços voltados para pets, sendo o principal deles a hospedagem inteligente. Pensando nos donos, que querem viajar, mas não têm onde deixar os bichinhos, a plataforma recruta pessoas que estão dispostas a recebê-los e cuidar deles em suas casas durante a ausência dos tutores. Além disso, a empresa também fornece opções de pet sitter e passeios para os animais de estimação. Isso tudo feito a partir de uma plataforma que facilita a comunicação entre o dono e o cuidador, e que oferece um sistema de pontuação para avaliação ao final do serviço.

Enjoei

A Enjoei é um exemplo conhecido de economia compartilhada, que funciona como um brechó virtual. O site permite que os usuários vendam on-line produtos usados, como roupas, calçados, acessórios de casa e dispositivos eletrônicos. Por preencher a lacuna do mercado entre quem deseja vender algo que já não tem mais utilidade e alguém que deseja comprar a mesma coisa por valores mais acessíveis, o site é uma boa representação do conceito colaborativo, principalmente por incentivar o reaproveitamento.

Turbi

A Turbi é uma plataforma focada no aluguel de veículos que oferece uma alternativa às locadoras tradicionais. Além do site facilitar o serviço diminuindo a burocracia e abrindo mão da presença do usuário no local para solicitar o carro, a plataforma também foca na agilidade, permitindo que os solicitantes escolham os lugares de onde querem retirar os veículos. Por conta do ideal de “praticidade sem ter que comprar o carro”, a empresa colabora com a premissa da sustentabilidade por meio da colaboração.

A economia compartilhada vem ganhando mais espaço a cada dia no Brasil, seja com princípios disruptivos ou em investimentos coletivos, como o crowdfunding. Por isso, para empresas que desejam manter o alto nível de competitividade, é muito importante manter essas ideias em vista. Afinal, estar sujeito a mudanças e inovações é inevitável no mercado atual, onde os serviços e produtos precisam estar sempre se desenvolvendo para manter a qualidade. Isso sem mencionar a qualidade de vida do Capital Humano, que deve ser sempre priorizada para garantir a produtividade, a felicidade e, por consequência, os resultados.

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Fernanda Misailidis

Fernanda Misailidis é jornalista e atua como Assessora de imprensa e Embaixadora da ETALENT. Carioca, é apaixonada por artes, ama estar nos palcos e não vive sem teatro.

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