A gamificação é um processo que vem ganhando mais popularidade a cada dia, principalmente quando o assunto gira em torno do bem-estar corporativo. Atualmente, as demandas a respeito de saúde mental e qualidade de vida no ambiente de trabalho vêm ganhando visibilidade.

Como se observa a partir de movimentos como The Great Resignation, os profissionais já não estão mais dispostos a lidar com empresas que ofereçam condições inapropriadas para uma rotina mentalmente saudável. Mais do que nunca, é preciso adotar, já na cultura organizacional, formas de criar fluxos de trabalho propícios para a produtividade sem sacrificar as condições psicológicas dos colaboradores.

Em empresas que desejam manter a competitividade, o tópico já é uma prioridade. Isso porque, ao incentivar a formação de ambientes saudáveis, os colaboradores melhoram os níveis de produtividade, interação, entrosamento, as equipes ganham em sinergia e conflitos eventuais são evitados. Na prática, isso significa que prezar pelo bem-estar corporativo é uma forma de garantir um trabalho bem-feito, realizado em menos tempo e que demanda menos esforço. Isso sem falar que, dessa forma, o esgotamento e o cansaço também são menores e, consequentemente, os colaboradores ficam menos suscetíveis a distúrbios psicossomáticos, como a depressão e a ansiedade.

No entanto, para que isso seja viável, nem só as relações interpessoais devem ser valorizadas: também é preciso adotar práticas que tornem o processo de trabalhar, aprender e se desenvolver menos cansativo. Uma boa forma de fazer isso é a partir de processos de ludificação, capazes de fomentar o aprendizado contínuo de forma dinâmica e divertida para o Capital Humano. É nesse ponto que entra a gamificação, assunto do nosso artigo de hoje. Boa leitura!

 

O que é gamificação?

De forma objetiva, a gamificação se trata de uma metodologia ativa de aprendizagem que utiliza como principal recurso elementos próprios de games. Isso pode envolver desde atribuir narrativas a tarefas monótonas até mecânicas próprias de jogos. Alguns exemplos das que podem ser adaptadas para o contexto corporativo são a necessidade de passar de fases para evoluir, atingir objetivos para ganhar prêmios e bonificações, realizar simulações para melhorar a colaboração entre equipes, construir de rankings ou, em alguns casos, até sistemas de prioridades divididos em missões principais e secundárias.

De acordo com este relatório feito pela consultoria Gartner, a gamificação é um ponto de interesse de diversas empresas que desejam implementar o recurso como forma de inovar a gestão de pessoas. Além disso, os jogos ajudam a melhorar não apenas processos internos como a comunicação e a motivação, mas também a relação com os clientes em si, que se sentem mais entretidos ao consumir os produtos gamificados. Afinal, jogos comumente despertam interesse, curiosidade e dedicação.

Segundo essa pesquisa realizada em 2018 em seis países pela empresa Limelight, as pessoas dedicavam até 6 horas por semana aos jogos on-line. Com a gamificação corporativa, a ideia é que as mecânicas responsáveis por “prender” o público sejam transferidas para processos organizacionais ou mesmo de autodesenvolvimento. Assim, as chances de realizar tarefas sem distrações e em alta produtividade crescem consideravelmente.

Vale ressaltar que investir em gamificação não se trata de fazer com que o Capital Humano passe o dia jogando e se divertindo. O processo está bem longe disso, na verdade… Esse recurso permite usar a tecnologia a fim de compor elementos no ambiente corporativo, de forma a otimizar a aprendizagem e a conquista de metas. Evidentemente, dessa forma, é possível cumprir os objetivos de forma mais lúdica e menos cansativa, mas é importante que o recurso não seja subestimado ou mesmo interpretado como um passatempo no ambiente de trabalho.

 

Os elementos da gamificação

A gamificação é, sobretudo, um recurso muito útil para o engajamento dos colaboradores. Ao aplicar estratégias de jogos a atividades cotidianas, as empresas conseguem tornar até mesmo as tarefas mais maçantes e burocráticas em algo estimulante e que dê vontade de ser feito. E entender como isso funciona não é difícil. Imagine, por exemplo, que um profissional tenha sido escolhido para digitalizar todos os documentos da empresa para colocá-los na nuvem. Certamente, essa é uma tarefa que levará dias para ser cumprida e que não vai ser estimulante para ele. Todavia, caso seja feita com a abordagem de um jogo, onde ele precisa atingir um determinado número de pontos para ganhar uma recompensa, por exemplo, a tarefa fica mais atrativa.

Como mencionamos, o recurso é bastante efetivo na aprendizagem e tem sido utilizado em muitas empresas como uma forma de despertar o interesse dos profissionais em processos de treinamento e desenvolvimento. Afinal, além dos aspectos educativos, a gamificação alia informação e entretenimento, o que, por si só, é capaz de transformar as rotinas dos colaboradores.

Todavia, para que uma prática corporativa seja considerada gamificada, é necessário que ela apresente alguns elementos básicos. Eles são:

Participação e colaboração

Os colaboradores devem querer participar voluntariamente das dinâmicas. Como em um jogo por lazer, de nada adianta querer forçar alguém a fazer parte. Caso isso aconteça, o efeito pode até ser reverso. Além disso, é importante que as atividades promovam a interação entre as equipes;

Regras

A dinâmica deve seguir as orientações da empresa, bem como seus valores. É importante que este ponto esteja alinhado para que as diretrizes fiquem claras e os colaboradores possam segui-las da melhor forma possível. Nesse ponto, vale frisar o objetivo da dinâmica, como fazer parte, o que se deve e o que não se deve ser cumprido, como marcar pontos e como o vencedor é eleito, dentre outras considerações;

Metas

A gamificação corporativa tem objetivos diretamente relacionados aos interesses da empresa. As metas podem variar conforme o contexto. Em alguns casos, podem ser aumento na receita, redução no tempo para realizar determinada demanda ou o desenvolvimento da relação interpessoal dos colaboradores. Seja o que for, é importante defini-las e deixá-las explícitas para todos;

Feedback

Os feedbacks são ferramentas de gestão fundamentais para garantir o sucesso das equipes. É importante que as lideranças expliquem os erros dos colaboradores e os motivos que os levaram a não conseguirem uma determinada pontuação, se for o caso. O contrário também acontece: é importante reconhecer os acertos para que eles continuem acontecendo;

Recompensas

Esse é um elemento fundamental das mecânicas dos jogos. No contexto corporativo, as recompensas podem vir em forma de bonificações, prêmios, convites para eventos, viagens ou dias de folga, dentre muitas outras possibilidades. O importante é que a empresa demonstre seu reconhecimento quanto ao esforço dos colaboradores.

 

Como funciona a gamificação nas empresas?

Unindo os desafios do dia a dia corporativo às estratégias usadas em jogos, o departamento de Recursos Humanos consegue impactar diretamente o comportamento dos colaboradores, aumentando sua motivação e tornando sua rotina de trabalho mais saudável. O cenário ainda pode melhorar, caso o Capital Humano seja especialmente adepto às dinâmicas dos jogos. Nesse caso, também cabe à Gestão de Pessoas observar como os profissionais lidam com as estratégias de gamificação, para refinar ainda mais os recursos utilizados e otimizar a performance.

No mais, a gamificação também oferece outro benefício: habilidades comportamentais, ou soft skills, que acabam sendo estimuladas no Capital Humano por conta das mecânicas de colaboração e superação. Algumas delas são:

  • Determinação: nos jogos, para conquistar um objetivo, é preciso ter paciência e ser persistente;
  • Foco: os games exigem atenção exclusiva ao que está sendo feito, sob pena de ser eliminado da disputa;
  • Engajamento: os colaboradores sabem desde o início aonde devem chegar e se envolvem com os desafios que precisam superar para alcançar o objetivo;
  • Colaboração: aprender a trabalhar em equipe e a confiar nos colegas é parte fundamental do sucesso em um jogo cooperativo;
  • Autoconhecimento: os jogadores precisam refletir sobre as próprias falhas e acertos para traçar estratégias eficazes e concluir seus objetivos.

 

Os principais benefícios da gamificação corporativa

Como mencionamos, a gamificação é um excelente recurso para melhorar a motivação do Capital Humano. Todavia, os benefícios que proporciona vão além desse ponto. Com ações bem planejadas e com o apoio da equipe de RH da empresa, é possível estender as vantagens para os mais variados aspectos e setores da organização.

A primeira é a melhora no desempenho e na performance dos colaboradores, uma vez que a gamificação une a ideia do engajamento aos feedbacks em tempo real. E, como sabemos, profissionais mentalmente saudáveis, satisfeitos e, sobretudo, felizes tendem a produzir mais, melhor e com menos desgaste.

Além disso, a gamificação corporativa impacta positivamente o clima organizacional e as relações interpessoais, uma vez que os profissionais são estimulados a cooperarem; auxilia no aprimoramento das rotinas de trabalho e em sua otimização, além de melhorar a reputação e o employer branding da empresa, ajudando a atrair mais candidatos em processos de Recrutamento e Seleção. O resultado direto de tudo isso são entregas feitas com mais qualidade e produtos finais mais competitivos, o que afeta positivamente o volume de vendas, a rentabilidade e a captação de novos clientes.

Há uma série de empresas que viram seus resultados crescerem a partir da utilização de estruturas gamificadas. A Duolingo, por exemplo, que ensina idiomas estrangeiros através de aplicativos, aumentou a base de usuários para mais de 300 milhões em 2020. A Starbucks registrou um aumento bilionário na receita e atraiu até 25% mais de clientes após implementar o sistema próprio de recompensas com estruturas gamificadas. A M&M’s aproveitou o recurso para garantir melhorias em outro setor: através de um aplicativo gamificado, aumentou exponencialmente seu engajamento nas redes sociais.

 

Como usar a gamificação na sua empresa?

Como mencionamos, o recurso pode ser utilizado para melhorar os processos da empresa em diversas frentes. Dentre as principais, destacamos:

Gamificação em processos seletivos

Em processos de Recrutamento e Seleção, há uma infinidade de formas de explorar a gamificação. Algumas delas podem, inclusive, ser mais próximas de jogos lúdicos como conhecemos fora do contexto corporativo. Em dinâmicas de grupo, é possível utilizar quizzes, rankings e atividades que tenham sistemas de pontuação, para que os recrutadores avaliem o desempenho de cada candidato.

A gamificação pode ser usada, por exemplo, para avaliar as características comportamentais dos candidatos e entender se eles estão adequados para a função que almejam. Um exemplo clássico é observar a capacidade de liderança de uma pessoa que aspira a um cargo de gestão através de jogos em que ela tenha que desempenhar papéis, como role-playing games (RPG) tradicionais. Se o candidato é o líder de uma equipe que deve escapar de um faminto lobisomem, como ele exerce essa função: protegendo a equipe ou sacrificando-a para se poupar? Pode parecer inusitado, mas esse tipo de dinâmica diz muito sobre a postura desse profissional caso assuma o cargo.

Avaliar o perfil comportamental de uma pessoa antes de contratá-la é fundamental para assegurar o seu bom desempenho. Por isso, além de dinâmicas gamificadas, utilizar softwares de gestão de pessoas, como o Etalent PRO, é altamente recomendado. Com ele, é possível realizar o mapeamento comportamental a partir dos princípios da Metodologia DISC e descobrir o talento de cada candidato, bem como suas características mais e menos acentuadas.

Gamificação em treinamentos

Nos treinamentos, a gamificação traz um aspecto muito importante: ela funciona como uma forma de torná-los mais acessíveis e despertar o interesse do Capital Humano. Sabe-se que, nas empresas, umas das maiores dificuldades na hora de treinar profissionais é fazer isso de uma maneira que desperte a curiosidade dos colaboradores e que seja agradável para eles. Principalmente para os que têm rotinas intensas, treinamentos mais tradicionais podem ser considerados maçantes e, dependendo da situação, podem até mesmo ser encarados como algo que atrapalha o fluxo das atividades rotineiras.

No entanto, quando eles são planejados a partir de mecânicas e designs de games, os treinamentos conseguem envolver os colaboradores, incitando sua participação ativa e fazendo com que o processo seja mais convidativo como um todo. Assim, é possível aumentar os níveis de envolvimento do Capital Humano com as dinâmicas e estimular o desenvolvimento de novas habilidades de forma mais saudável.

Gamificação na comunicação interna

Manter uma comunicação interna clara e objetiva também é um desafio para grande parte das empresas. Felizmente, esse é mais um aspecto que pode ser impactado positivamente com a adoção de recursos gamificados. Construindo dinâmicas voltadas para deixar evidentes as metas, objetivos, missão e valores da empresa, fica mais fácil alinhar o Capital Humano sobre o que deve ser focado. Adotando, por exemplo, um sistema de missões como acontece em jogos eletrônicos, as empresas podem definir as metas principais, ou seja, onde estão concentrados os objetivos mais importantes; as secundárias, que também precisam de atenção, mas são menos urgentes; as que devem ser desempenhadas por cada equipe ou setor, e assim por diante. É uma boa forma de manter as prioridades em vista e, ao mesmo tempo, incentivar o engajamento dos profissionais.

Gamificação nos planos de carreira

O plano de carreira é um planejamento de objetivos e metas que devem ser cumpridos por um profissional em um prazo estipulado, além de ações necessárias para tal, para que ele alcance um cargo específico ou conquiste outras aspirações profissionais. Por conta da proposta, é relativamente fácil adaptar um plano e carreira ao formato gamificado. Usando um sistema de tutoriais, pontuações, rankings e a própria ideia de missões, objetivos e prioridades, é possível construir um plano de carreira que soa quase como uma jornada de aventura. Dessa forma, o processo fica bem mais acessível e instiga o profissional a se dedicar ainda mais ao cumprimento das etapas.

 

4 exemplos de empresas que usam a gamificação

Netflix

A Netflix é um exemplo de organização exponencial que está sempre em busca de inovação. Além da gamificação em processos internos, a empresa já trouxe o conceito até mesmo para os produtos finais, com o intuito de torná-los mais interativos para os assinantes. Na Comic-Con de 2015, a empresa utilizou uma plataforma que integrava os celulares do público com uma atividade realizada em uma tela, permitindo que várias pessoas jogassem simultaneamente. A ferramenta ainda continuou sendo usada em eventos, atraindo mais de 15 mil pessoas para as edições dos anos seguintes.

Em 2018, a empresa trouxe o conceito diretamente para os assinantes em uma de suas produções. O filme interativo Black Mirror: Bandersnatch permitia que os assinantes tomassem as decisões em tempo real, o que levava a consequências distintas para o enredo e, evidentemente, para os personagens.

Vivo

Como parte do treinamento de seus serviços, a Vivo decidiu implementar uma plataforma baseada em storytelling para capacitar os seus profissionais. Nela, eles devem criar avatares para interagir com outros colaboradores. Com mais de 8 mil usuários e uma alta taxa de atividade, a plataforma é considerada um sucesso no treinamento e desenvolvimento do Capital Humano.

Extra e Pão de Açúcar

As redes de supermercado, que fazem parte do mesmo grupo corporativo, criaram uma campanha em que os clientes podem trocar selos por prêmios: no Extra, eles podem resgatar facas enquanto, no Pão de Açúcar, o brinde resgatado são panelas. Apesar de essa não ser uma dinâmica digitalizada ou sequer complexa, ela utiliza um recurso muito importante da gamificação: o sistema de coleta e recompensa. Com isso, os clientes ficam mais engajados e motivados para colecionar os selos, que são obtidos a cada R $20 em compras. Além disso, é preciso organizá-los em uma cartela, o que, não à toa, lembra bastante os populares álbuns de figurinhas.

Gerdau

A empresa siderúrgica Gerdau elevou a gamificação a um patamar ainda mais complexo em seus processos internos. A organização desenvolveu um jogo que utiliza óculos de realidade virtual para auxiliar o treinamento de segurança de seus profissionais. Com o equipamento, a ideia é que os colaboradores sejam inseridos em um pavilhão 3D e identifiquem as situações de riscos, classificando-as quanto à periculosidade. No final, eles ainda conseguem visualizar o “gabarito” e têm uma avaliação de desempenho divulgada. Somente na primeira semana, mais de 2,5 mil funcionários da empresa participaram da simulação.

A gamificação tem grande potencial para inovação e melhorias. Como mencionamos, esse recurso é uma boa forma de manter os colaboradores engajados, estimulados e motivados, além de facilitarem a jornada de trabalho, uma vez que transformam atividades muitas vezes maçantes em tarefas mais divertidas. Vale sempre ressaltar, no entanto, que não se trata de implementar jogos de tabuleiro ou videogames no ambiente de trabalho (apesar destas também serem ações interessantes para promover momentos de descontração e relaxamento). A gamificação é corporativa é, sobretudo, uma metodologia de aprendizagem focada em adaptar processos para que se tornem mais acessíveis e atrativos para o Capital Humano.

Toda e qualquer empresa é formada por pessoas. Implementando formas de tornar o dia a dia dos profissionais menos desgastante, as empresas têm retornos significativos em termos de produtividade, desempenho e lucratividade. Afinal, colaboradores felizes trabalham melhor, realizam entregas com mais qualidade e ficam menos suscetíveis a doenças de ordem psicossomática. É assegurando o bem-estar de suas equipes no ambiente de trabalho e com modelos de gestão humanizados que as organizações caminham em direção aos grandes resultados.

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Fernanda Misailidis

Fernanda Misailidis é jornalista e atua como Assessora de imprensa e Embaixadora da ETALENT. Carioca, é apaixonada por artes, ama estar nos palcos e não vive sem teatro.

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