O quociente de atitudes (QA) dos profissionais foi ignorado por muito tempo nas organizações, que privilegiavam as habilidades técnicas. Isso porque, por muito tempo, os processos de recrutamento e seleção e a oferta de promoções eram feitos considerando unicamente o conhecimento e o grau de instrução dos profissionais. Não à toa, até hoje, muitas pessoas que acreditam que hard skills como graduações, cursos e especializações são os únicos fatores que contam na hora de manter a empregabilidade alta.
Entretanto, hoje em dia, o cenário é bem diferente. Entende-se amplamente que, para criar ambientes corporativos saudáveis e de alta produtividade, é preciso levar em conta também questões mais subjetivas, como o perfil comportamental, as preferências, âncoras de carreira e as motivações dos colaboradores. Além disso, é importante colocá-los em cargos onde aproveitem suas competências naturais – processo conhecido como adequação comportamental.
Mas afinal, como o Quociente de Atitudes é aplicado na prática? É o que você vai descobrir no artigo de hoje. Boa leitura!
- O que é o quociente de atitudes?
- Outros tipos de quocientes
- A fórmula do quociente de atitudes
- A importância do quociente de atitudes
- O poder da pessoa certa no lugar certo
- 4 dicas para desenvolver o quociente de atitudes
O que é o quociente de atitudes?
O quociente de atitudes (QA) é um termo usado para se referir a uma forma de avaliar a atitude de uma pessoa mediante diferentes aspectos de sua vida. Isso pode ser feito considerando áreas distintas, como trabalho, vida pessoal, capacidade de aprendizagem e até mesmo a forma com que a pessoa se relaciona com outras pessoas. O QA avalia a predisposição de um profissional a agir de determinada maneira de acordo com cada situação.
Por mais que a definição de QA pareça nebulosa, na prática, é bem fácil de entender: o quociente de atitudes de uma pessoa avalia, basicamente, a postura dela frente a estímulos específicos. Quando um desafio surge na rotina de trabalho, por exemplo, alguns profissionais encaram isso como algo estimulante a ser resolvido. Outros, no entanto, podem não partilhar do mesmo ânimo para lidar com a situação. Por fim, alguns deles podem até se sentir frustrados pela ideia de ter que sair da zona de conforto para lidar com a novidade. É nesse ponto que entra o QA – para avaliar a forma com que cada pessoa se comporta a partir daquele estímulo.
O quociente de atitudes é importante para as empresas, embora ainda seja um desafio à parte para a maioria delas. Afinal, muitas organizações ainda não têm clareza sobre o que faz com que uma pessoa assuma uma postura de aberta, assertiva e engajada enquanto outra reaja com frustração e resignação. Entretanto, é importante ressaltar que fatores como a motivação, a felicidade no trabalho, a saúde mental e adequação comportamental são extremamente importantes para uma atitude positiva. Se essas questões estiverem em desequilíbrio, é comum que o resultado seja ruim.
Outros tipos de quocientes
O termo “quociente” é utilizado em áreas do conhecimento diversas, como na matemática e até na psicologia. Por definição, o conceito corresponde ao “resultado de uma divisão”.
Quando falamos de pessoas, existem diversos tipos de quocientes. Alguns exemplos são:
Quociente de Inteligência (QI)
Desenvolvido no início do século XX por Alfred Binet e Théodore Simon, o quociente de inteligência mede a capacidade cognitiva de uma pessoa, comparando-a com a média geral da população. O QI considera pontos como raciocínio lógico, memória, resolução de problemas e compreensão verbal. Pode ser medido a partir de testes padronizados focados em cada uma dessas capacidades.
Quociente Emocional (QE)
O quociente emocional está intimamente ligado à inteligência emocional de uma pessoa. O QE mede a capacidade de gerir as próprias emoções, além de reconhecer e lidar com as de outras pessoas. O conceito foi criado por Daniel Goleman e é muito difundido na psicologia.
Quociente de Habilidades (QH)
O quociente de habilidades busca avaliar o grau de destreza de um indivíduo em determinada atividade. O QH avalia a capacidade cognitiva, capacidades psicossociais, a habilidade para realizar determinada tarefa e até a maestria que um profissional desenvolve em sua área de atuação. Em determinadas atividades, como o artesanato ou esportes, por exemplo, o QH de do profissional é tão ou mais importante do que o conhecimento teórico. O QH de um profissional é um dos fatores que influencia diretamente o seu QA, mas é preciso levar em conta outros aspectos para que se entenda o que leva uma pessoa a agir de determinada forma.
Quociente de Adversidade (QA)
O quociente de adversidade é um indicador que tem como objetivo medir a resiliência de uma pessoa, ou seja, sua capacidade de resistir e prosperar em situações desfavoráveis. Esse indicador foi criado por Paul Stoltz, que estudou mais de 100 mil pessoas a fim de identificar quais eram os fatores em comum entre as que obtinham sucesso. Em sua pesquisa, Stoltz observou que a níveis altos de resiliência eram um ponto-chave para determinar o êxito daqueles profissionais, já que isso estava diretamente relacionado ao modo com que esses indivíduos encaram dificuldades e adversidades – muitas vezes, transformando-as em aprendizagem e crescimento.
Quociente de Criatividade (QC)
O quociente de criatividade avalia a capacidade de um profissional de lidar com determinadas situações de forma criativa, sendo muito importante em situações onde seja preciso inovar e “pensar fora da caixa”. Pode ser avaliado por meio de testes de criatividade e exercícios de resolução de problemas.
Quociente de Aprendizagem (QA)
O quociente de aprendizagem avalia a capacidade de uma pessoa de aprender novas informações e habilidades. O termo se torna especialmente importante em contextos educacionais e de desenvolvimento profissional, onde o foco é a aprendizagem.
Quociente de Liderança (QL)
O quociente de liderança é focado na capacidade de um indivíduo liderar e influenciar outras pessoas. Comum em contextos empresariais, pode ser medido por meio de avaliações de desempenho e feedbacks, costumeiramente sendo usado para identificar potenciais líderes no Capital Humano das empresas.
Quociente de Felicidade (QF)
O quociente de felicidade avalia a satisfação e o bem-estar de uma pessoa. Importante para entender os níveis de satisfação pessoal e profissional, esse indicador pode ser utilizado nas empresas como uma forma de avaliar pontos como o clima organizacional, saúde mental e engajamento dos profissionais para com a empresa.
Quociente de Resiliência (QR)
O quociente de resiliência se refere à capacidade de uma pessoa de lidar com situações de pressão e estresse. É muito usado em contextos de desenvolvimento pessoal. Relaciona-se diretamente com o quociente de adversidade.
Quociente de Adaptabilidade (QA)
O quociente de adaptabilidade expressa a capacidade de adaptação de uma pessoa, sobretudo quando há mudanças na rotina. Considerando que o mercado de trabalho sofre constantes transformações tecnológicas, esse é um conceito muito importante tanto para o presente quanto para o futuro do trabalho.
A fórmula do quociente de atitudes
O QA pode ser expresso em uma fórmula, que sintetiza a capacidade geral de um indivíduo para realizar tarefas e superar desafios.
O QA de uma pessoa se define a partir da seguinte equação:
Em que:
- QI = Quociente de inteligência: trata da capacidade de raciocínio lógico;
- QE = Quociente emocional: envolve a capacidade de gerenciar as próprias emoções e, também, as alheias; e
- QH = Quociente de habilidades: diz respeito à execução e a prática de determinada tarefa.
Na fórmula proposta pela ETALENT, o QA representa o quociente de atitudes da pessoa, ou seja, a capacidade geral de o indivíduo aplicar seus conhecimentos e habilidades na prática, fazendo-se valer de sua inteligência cognitiva, emoções e capacidades específicas.
Como medir o QA de um profissional?
O quociente de atitudes pode ser medido utilizando questionários específicos ou fazendo entrevistas em que os respondentes expressam suas opiniões e sentimentos sobre situações relacionadas ao contexto de trabalho. O resultado dessas avaliações é importante para entender se a atitude de um indivíduo é positiva ou negativa, considerando sempre o contexto em que é avaliada.
A importância do quociente de atitudes
Para as empresas
Conhecer o quociente de atitudes dos profissionais é muito importante para as empresas. Afinal, o QA considera a inteligência cognitiva, a emocional e as habilidades práticas de uma pessoa. Quando o quociente de atitudes dos profissionais é avaliado, as organizações conseguem compreender melhor as atitudes do Capital Humano. O QA diferencia, por exemplo, um profissional que encara desafios como algo estimulante ou um empecilho em sua rotina.
Os resultados do negócio são diretamente beneficiados quando há essa preocupação. Quando adotam uma atitude positiva, os profissionais são mais produtivos, aumentam a capacidade de inovação e se tornam mais adaptáveis frente às mudanças, ainda que elas tragam desafios para os quais eles não estão preparados. Cabe lembrar que, de acordo com a pesquisa Future of Jobs 2023, realizada pelo Fórum Econômico Mundial, uma das competências mais importantes nos próximos anos é a capacidade de se adaptar. De acordo com dados apresentados no estudo, nas próximas décadas, 50% dos trabalhos serão substituídos por robôs ou softwares. Em contrapartida, 65% das crianças de hoje vão trabalhar em cargos que ainda não existem, o que demonstra a necessidade de encarar, de uma vez por todas, a nova realidade.
Para os profissionais
Quando os profissionais adotam uma atitude positiva, ou seja, têm um QA alto, eles são mais proativos e engajados, o que é positivo para o próprio desenvolvimento profissional e para manter uma boa empregabilidade no cenário competitivo.
Por outro lado, quando o QA é baixo, a tendência é o exato contrário: essas pessoas costumam apresentar forte resistência às mudanças, são mais apáticas em relação à rotina e não veem com bons olhos a ideia de se adaptar às novas condições.
Portanto, o QA também é um indicador importante para os profissionais. Pessoas com QA alto conseguem se desenvolver mais, têm mais facilidade para lidar com as dificuldades, têm relações positivas com os colegas – isso tudo resulta em condições de trabalho mais saudáveis.
O poder da pessoa certa no lugar certo
Como vimos, desenvolver um quociente de atitudes alto depende diretamente de pontos como a inteligência cognitiva, emocional e as habilidades desenvolvidas. Entretanto, trabalhar o QA também depende da adequação comportamental, ou seja, a garantia de que os profissionais contratados tenham skills alinhadas àquela função. Alguém extrovertido, por exemplo, deve trabalhar com algo onde possa entrar em contato com outras pessoas, uma vez que isso o energiza e torna seu trabalho revigorante; em contrapartida, uma pessoa introspectiva se sente melhor em cargos onde possa ficar sozinho – e isso também deve ser levado em conta para que tenha um bom desempenho.
Desenvolver uma atitude positiva depende diretamente do quão bem os profissionais se sentem quanto desempenham suas funções. Afinal, não existem pessoas erradas, mas, sim, profissionais ocupando lugares que não são adequados às suas competências naturais – e que, por isso, se sentem desgastados por elas.
Quando alguém é obrigado a “funcionar” diariamente contra as próprias tendências, o estresse é muito maior. Não que seja impossível; quando uma pessoa está determinada o suficiente, ela consegue exercer qualquer cargo, ainda que seja diametralmente oposto às suas preferências. Mas, como o desgaste sob essas condições é inevitável, a questão nesse caso é: a que custo?
Escolher a pessoa certa para ocupar o lugar certo envolve avaliar soft skills, fit cultural, valores e perspectivas, que devem se relacionar à cultura organizacional da empresa. De nada adianta contratar um profissional expert em uma determinada área se o comportamento dele não está adequado ao cargo em questão. A tendência, nesse caso, é que, apesar do alto nível de experiência e conhecimento, com o tempo, ele fique insatisfeito e que sua produtividade comece a cair. Nesse caso, nem mesmo tendo a inteligência (QI) e as habilidades (QH) necessárias, ele vai conseguir desenvolver uma atitude positiva – afinal, é bem provável que ele tenha um desequilíbrio com o quociente emocional (QE) sob essas condições.
Recorrendo a uma analogia, investir na adequação comportamental é como contratar um peixe para nadar. Esse pode parecer um movimento óbvio, mas ainda há muitas organizações que fazem isso esperando que ele suba em uma árvore. Inclusive, é mais proveitoso para a empresa contratar profissionais com menos experiência e conhecimentos técnicos, mas que são adequados aos cargos, do que buscar por pessoas com altos níveis de habilidades, mas sem o comportamento necessário para uma boa performance na função.
Afinal, é mais fácil aprender novos conhecimentos do que mudar comportamentos. É possível aprender a usar ferramentas e plataformas ou falar um idioma com treinamentos, cursos, workshops e palestras; mas como ensinar uma pessoa naturalmente comunicativa a trabalhar isoladamente, sem contato com outros profissionais?
Uma das áreas em que isso fica mais evidente é a liderança das empresas. A falta de adequação comportamental é um dos grandes motivos pelos quais tantas empresas têm lideranças despreparadas. E, frequentemente, isso acontece por conta de uma cultura que reconhece o desempenho de um bom profissional promovendo-o a um cargo de gestão sem que, necessariamente, ele tenha as skills necessárias para isso.
Bons líderes precisam saber inspirar, ter empatia e motivar os seus liderados. Quando um colaborador sem essas características sobre a um cargo assim, a empresa perde dois bons profissionais: esse indivíduo, que vai deixar de exercer uma função para qual está adequado, e um líder, que a organização deixa de contratar no mercado. Não à toa, mais da metade dos brasileiros consideram seus chefes tóxicos, de acordo com essa matéria publicada no jornal Valor Econômico.
Logo, ter a pessoa certa no lugar certo é uma forma de criar um contexto em que os profissionais consigam trabalhar de forma produtiva e plena, sem que haja desgaste e desestímulo. Essa é a situação ideal, onde esses profissionais podem, de fato, manifestar plenamente os quocientes emocional, de inteligência e de habilidades.
4 dicas para desenvolver o quociente de atitudes
Invista no autoconhecimento
O autoconhecimento é uma habilidade que compreende uma série de processos de desenvolvimento psíquico, amadurecimento emocional, afetivo, cognitivo e comportamental, que permite que um indivíduo conheça profundamente a si mesmo. Por meio dessa competência, as pessoas se tornam capazes de entender suas subjetividades, encarar os próprios sentimentos e, consequentemente, têm mais controle sobre suas emoções.
Quando as empresas investem no desenvolvimento dessa habilidade, os colaboradores entendem suas tendências, vulnerabilidades e limites. Por isso, essa é uma habilidade valiosa para quem deseja desenvolver o QA. Afinal, refletindo sobre as próprias atitudes e os motivos pelos quais age de determinada maneira, a pessoa pode entender melhor sua relação com o trabalho e como mudar a mentalidade.
Desenvolva a inteligência emocional
A inteligência emocional está diretamente relacionada à ideia de reconhecer, avaliar, controlar e direcionar as próprias emoções, além de ser capaz de identificar as emoções de outras pessoas. Por isso, essa é uma soft skill valorizada no mercado de trabalho, uma vez que é uma ferramenta importante para lidar com pessoas de personalidades distintas e manter o ambiente corporativo saudável. No desenvolvimento do QA, essa habilidade é importante para avaliar o próprio comportamento, entender como os estímulos externos afetam e, também, para compreender o que é preciso fazer para desenvolver uma atitude positiva mediante as dificuldades.
Tenha atenção ao mindset
Em tradução literal, mindset é entendido como “configuração da mente”, o que é um bom indicativo sobre o seu significado. De forma objetiva, o termo se refere à forma de pensar de uma pessoa. No entanto, mindset abarca camadas mais complexas do que simplesmente a maneira como alguém enxerga o mundo. Por lidar diretamente com a predisposição psíquica de uma pessoa para determinados eventos e impactar diretamente os seus comportamentos e atitudes, muitos entendem “mindset” como um sinônimo direto de “mentalidade”.
Quando o assunto é o quociente de atitudes, é importante levar em conta que existem dois tipos de mindset distintos: o fixo e o de crescimento. De acordo com a psicóloga Carol Dweck, as pessoas com mindset fixo são aquelas que se comportam como se as capacidades, habilidades e inteligências fossem fatores imutáveis. Esse grupo é mais resistente às mudanças, uma vez que acredita que as qualidades e fraquezas dos indivíduos são questões natas e não podem ser alteradas com o tempo ou esforço.
Já as pessoas com mindset de crescimento são mais receptivas às mudanças e acreditam que o potencial pode (e deve!) ser desenvolvido com tempo, estudo, dedicação, erros e acertos. Para ter uma atitude positiva, é importantíssimo aderir ao mindset de crescimento.
Encontrar formas de manter a motivação
Para adotar uma postura positiva, é preciso encontrar formas de manter a motivação, ainda que as condições sejam desafiadoras. Isso requer um certo esforço para não se desesperar em situações desfavoráveis, além de resiliência para continuar tentando e não desanimar. Essa pode ser uma tarefa complexa, sobretudo no primeiro momento, mas é extremamente necessária para que se torne um hábito e mude a postura da pessoa de uma vez por todas.
O quociente de atitudes é um indicador importante para entender como as atitudes de um indivíduo impactam e são impactadas pelo comportamento – e como esses fatores afetam as mais distintas áreas da vida. Desenvolvendo o QA, os colaboradores se tornam mais resilientes e respondem melhor às situações de mudanças e imprevistos. Entretanto, nada disso é possível sem que eles trabalhem os outros “Qs”, aprimorando habilidades técnicas, os conhecimentos, as experiências e a inteligência emocional. Essa é mais uma prova de que o comportamento deve ser considerado o combustível para o sucesso de toda e qualquer organização.
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Fernanda Misailidis
Fernanda Misailidis é jornalista e atua como Assessora de imprensa e Embaixadora da ETALENT. Carioca, é apaixonada por artes, ama estar nos palcos e não vive sem teatro.