A recente onda de sucessos do Netflix tem gerado bastante repercussão entre os entusiastas e admiradores de diversas séries e filmes da plataforma de streaming mais querida do momento.
Aproveitando essa onda, resolvemos unir a Metodologia DISC — ciência comportamental consagrada internacionalmente e utilizada em nossos produtos e serviços — a algumas séries que fizeram (e ainda fazem) sucesso nas telinhas, telas e telonas da Netflix.
E a primeira trama escolhida foi Suits, a série dos advogados mais badalados de Nova York (formados ou não) e que já anunciou sua renovação para a nona e última temporada. Vamos lá!
Memória fotográfica ou diploma?
Alerta: esse post contém alguns spoilers, que diferente do equipamento utilizado pelos carros da fórmula I, podem revelar informações de enredo para quem ainda não assistiu a série.
A série escrita por Aaron Korsh pode atribuir muito do seu sucesso pela história da personagem Mike Ross (interpretado pelo ator Patrick J. Adams) e como ele entra no mundo da Advocacia Corporativa, representada pelo outro protagonista e futuro sócio-sênior Harvey Specter (interpretado pelo ator Gabriel Macht) da Pearson Hardman, escritório de advocacia liderado por Jessica Pearson (interpretada pela atriz Gina Torres).
Logo no episódio piloto, o brilhante e carismático Mike (vamos chamá-lo assim a partir daqui) se vê numa sinuca de bico ao precisar urgentemente de dinheiro e aceitar uma “missão” nada segura do amigo Trevor (interpretado pelo ator Tom Lipinski).
No prédio onde deveria deixar uma “entrega especial” com os clientes (até então desconhecidos), Mike apresenta o porquê de ser tão safo e inteligente. Ao perceber, por meio da sua memória fotográfica, que a entrega era uma emboscada da polícia, Mike se desloca do local combinado pelas escadas do edifício, com pressa e sem destino em mente.
Sabendo que os agentes tinham percebido sua presença e que estavam atrás dele, Mike resolve parar numa sala de espera, onde assim como ele, todos os presentes figuravam de terno.
O que Mike não sabia é que do outro lado da sala, Harvey entrevistava potenciais candidatos à vaga de advogado associado da firma. A secretária de Harvey, Donna Paulsen (interpretada pela atriz Sarah Rafferty) convoca então o próximo candidato. Desesperado ao ver os agentes entrando no andar, Mike disfarça e finge ser o próximo.
Bom, o resto a gente não vai contar pra deixar o gostinho de nostalgia a quem já assistiu e de curiosidade para quem ainda não.
Fato é o início de uma incrível jornada de aprendizados, longas conversas (e negociações), dramas, risos, petições, ideias brilhantes no último minuto e muitas, mas muitas referências cinematográficas que ditam o ritmo das personagens de Suits. Aliás, é deles que vamos falar agora!
Mike Ross: Influência e Conformidade
O jovem protagonista da trama, dotado de uma inteligência acima da média e memória fotográfica fora de série. Mike tem um passado e presente complicado: perdeu os pais quando ainda criança, vítimas de um acidente de carro, cuja falta de clareza nas investigações motivaram Mike a seguir no ramo de Direito.
Além disso, Mike precisa cuidar de sua avó — que vive numa casa de cuidados após incidente dentro do apartamento onde morava. Após realizar exames de admissão para outras pessoas (já que precisava de grana para pagar o apartamento e ajudar sua avó ao mesmo tempo), o reitor acaba descobrindo a fraude e Mike perde a vaga na faculdade de Columbia, onde até então estudava Direito
Fora sua história de vida complicada e a resiliência que adquiriu com as adversidades, Mike demonstra muita autoconfiança e um nível de perceptividade incrível para um jovem sem experiência e nem diploma de Harvard — única faculdade que a firma de Harvey busca nas contratações.
Tais características comportamentais, típicas de pessoas com alta Influência e alta Conformidade, são progressivamente bem utilizadas por Mike ao longo da série. Seu carisma e poder de persuasão ao lidar com negociadores e advogados mais experientes, somados ao detalhismo e curiosidade na aplicação das leis, garante a Mike grandes vitórias ao lado de Harvey — dentro e fora dos tribunais.
Mike talvez seja o melhor exemplo de como podemos aplicar o autoconhecimento durante a evolução da carreira, adotando o comportamento ideal para cada situação. Na série, Mike sabe quando aumentar sua Dominância em momentos de pressão por resultados, além de ser completamente leal ao líder e amigo Harvey, característica comum ao fator eStabilidade.
Harvey Specter: Dominância
Nosso outro protagonista, Harvey Specter é daqueles que se recusa a aceitar um não como resposta definitiva. Determinado e ambicioso por natureza, seu foco é vencer e crescer, não importa o desgaste pessoal do processo. Autorreferenciado, Harvey não gosta de depender de ninguém — e quando o faz, deixa claro que seu charme e poder de persuasão não estão ali para agradar e sim para conseguir o resultado que deseja.
Pode parecer egocêntrico e arrogante para os outros (e por vezes, é mesmo), mas na hora de tomar decisões difíceis e entregar resultados, Harvey é o primeiro a assumir as responsabilidades nas intrigas de Suits.
Bem sucedido financeira e profissionalmente, a ascensão rápida na firma é fruto da sua natureza comportamental: sua alta Dominância, fator DISC caracterizado por pessoas com muita iniciativa, focadas e que assumem riscos na busca pelo resultado, tornam o mais novo sócio-sênior da Pearson Hardman um verdadeiro desbravador dentro do escritório.
O talento nato de Harvey ainda é maximizado pelo seu parceiro de casos, Mike. A alta Conformidade do associado complementa o estilo arrojado e objetivo de Harvey, e ambos detém um nível de Influência alto, alavancando as vitórias da firma nas negociações mais complexas e de clientes estratégicos.
Importante notar também o papel do perfil comportamental de Harvey quando o assunto é liderança. Apesar de “pegar pesado” com o seu novo associado durante a primeira temporada, Harvey é cirúrgico na gestão dos casos, passando experiência e maturidade para Mike quando sente que é necessário. Motivar e dar feedbacks pontuais são marcas da boa liderança de Harvey.
Aliás, falando em liderança…
Jessica Pearson: Dominância e Influência
Sócia-gerente da firma que leva seu nome na parede, Jessica é, simultaneamente, a personificação da liderança destemida e cuidadosa que o escritório precisa.
Sempre com uma resposta pronta e calculada na ponta da língua, Jessica sabe passar confiança e carisma aos outros sócios quando precisa de apoio; do oposto, quando é contrariada ou ameaçada, Jessica deixa claro quem manda na parada. Nada é mais importante para ela do que a integridade e crescimento do escritório — o que faz de Jessica uma líder visionária e de competência indiscutível.
Dotada de elegância e autoconfiança ao longo dos episódios, o perfil de Jessica é nitidamente Dominante e Influente — dois fatores DISC típicos de um talento empreendedor. Perfil esse que reflete um comportamento assertivo e voltado para alavancar pessoas.
Não é a toa que Jessica demonstra alta capacidade de gerir a Pearson Hardman, envolvendo os sócios em que mais confia (Harvey e Louis) nos casos de relevância e nas tramas internas.
Aliás, uma dessas tramas envolveu a saída do sócio-nominal Daniel Hardman (interpretado pelo ator David Costabile), cuja reputação havia sido manchada por desviar dinheiro da firma ao manter um caso amoroso com uma das ex-funcionárias. Determinada a manter o status quo de seu poder, Jessica não demora a descobrir, em parceria com Harvey e Mike, uma maneira de expulsá-lo definitivamente da firma.
Mesmo sendo extremamente objetiva nos diálogos e desconsiderando algumas pessoas e casos sem importância em muitas ocasiões, não podemos duvidar de que Jessica faz o que acredita ser melhor para a firma.
Preocupada com a harmonia entre os sócios (principalmente Harvey e Louis, que não se dão muito bem em grande parte da série), Jessica dá aula de como liderar e mentorar seus aliados — além de, é claro, fazer o espectador adorar sua postura firme e sincera na hora de cortar o mal pela raíz — seja no escritório ou nos tribunais.
Donna Paulsen: eStabilidade e Influência
Extremamente dedicada ao trabalho e por dentro de tudo que rola no escritório, Donna é a secretária de Harvey desde que o mesmo trocara seu cargo dentro da Promotoria de Nova York pela Pearson Hardman, acumulando mais de doze anos ao lado do sócio-sênior.
Pensando sempre no que é melhor para a firma e em apoiar Harvey nos casos (até mesmo quando suas decisões são questionáveis), Donna parece ter resposta para tudo e todos. Sua opinião é bem-vinda até nas questões pessoais que a galera da firma enfrenta ao longo dos casos.
De extremo valor para Harvey e o escritório, apesar da postura firme e direta quando precisa (características comuns ao fator Dominância), Donna sabe mesmo é aconselhar as pessoas quando mais precisam. A confiança e serenidade que passa aos outros confirmam sua alta eStabilidade, fator DISC representado por características como senso de planejamento e organização, paciência e consideração, atributos que não faltam a assistente executiva de Harvey.
Com o avançar da série, Donna também confirma ser boa quando o assunto é influenciar e persuadir as pessoas em prol de casos específicos da firma. De ótima comunicação e simpatia (quando precisa, é claro), o fator Influência é outra marca registrada no comportamento de Donna. Não a toa que ela é promovida a Chief Operating Officer no decorrer da série.
A lealdade e o charme de Donna ainda são acompanhados de uma boa dose de perceptividade, característica representada pela presença do fator Conformidade no indivíduo. Seu talento para lidar com pessoas não compromete sua capacidade de ser detalhista e exata quando precisa realizar as tarefas rotineiras da sua posição.
A ruiva favorita dos fãs de Suits pode ser considerada uma verdadeira facilitadora, talento de grande valor nas organizações, já que tem facilidade em comunicar ideias e influenciar decisões, acolher quem precisa e realizar tarefas de teor técnico. Sem contar que Donna é querida por todos: desde Harvey e Mike, até Rachel (sua melhor amiga na série) e Louis, cuja parceria se estende até os palcos de teatro num dos episódios da quarta temporada.
Louis Litt: Dominância e Conformidade
Chegamos ao personagem mais icônico da série quando o assunto é proporcionar esporros memoráveis aos associados da firma (e risadas para a gente, é claro). De forte personalidade, Louis Litt é o outro sócio-sênior da Pearson Hardman. Extremamente competente no que faz, seu amor pelo escritório é tão forte quanto sua paixão por Direito, teatro, gatos e banhos de lama.
Competitivo e focado nos resultados — características predominantes em pessoas com alta Dominância — Louis demonstra certo ressentimento pela predileção de Harvey aos olhos de Jessica, ao mesmo tempo que deseja ver Harvey como um forte aliado (e até mesmo grande amigo) nos casos mais estratégicos.
Enquanto não realiza o seu grande sonho — nada mais nada menos que ter seu nome na parede da firma — Louis gerencia o quadro de associados do escritório com enorme prazer e dedicação. O poder e status da posição são fatores de motivação muito fortes, o que torna o estilo de liderança do sócio-sênior autoritário e controlador, uma postura eficiente em momentos de pressão por resultados positivos nos casos.
Como agradar as pessoas não é o forte de Louis, o briguento advogado concentra seus esforços em garantir que nenhum detalhe processual passe despercebido ao longos dos casos. Onde Louis estiver, o alto nível de qualidade é requisito básico — característica de pessoas com alta Conformidade em seu perfil comportamental. O fato do escritório contratar apenas graduados em Harvard é uma prova disso.
Louis é, sem dúvidas, fundamental para a sobrevivência da firma em diversas ocasiões. Talvez a maior dificuldade para Louis seja o aspecto socioemocional, já que deixa suas frustrações pessoais interferirem seu desempenho no trabalho, apresentando comportamentos negativos como teimosia, agressividade e desconfiança sem motivos. Nada que uma boa dose de autoconhecimento e banhos de lama para resolver os problemas de nosso ilustre advogado.
Rachel Zane: Conformidade e eStabilidade
Encerrando nossa lista, temos Rachel Zane (interpretada pela atriz e princesa real Meghan Markle), a jovem paralegal do escritório conhecida pela grande capacidade intelectual e excelência nos anos de serviço pela Pearson Hardman.
Desde sua chegada à firma, Rachel tem grande estima pelos associados e sócios devido a qualidade e empenho de seu trabalho ao longo dos casos. Filha de Robert Zane, um velho conhecido de Jessica e que também trabalha num dos grandes escritórios de advocacia da cidade, o sonho de Rachel é passar no exame de admissão para Harvard — podendo então advogar pela firma e criar seu nome, sem ser uma sombra do poderoso advogado e seu pai.
Durante a série, Rachel é uma das personagens que mais evolui (ao lado de Mike), aprendendo muito conforme a complexidade e responsabilidade dos casos aumentam. Persistente e paciente — características comuns ao perfil de alta eStabilidade — além de seu apego aos detalhes e perspicácia na hora de visualizar formas diferentes para solucionar problemas complexos — características da alta Conformidade — Rachel prova seu valor a todo instante, mesmo que ainda sem diploma.
A parceira fiel nos casos de Mike e companheira dos happy hours de Donna nos ensina muito quando o assunto é assumir o protagonismo da sua vida. Decidida sobre a carreira que deseja, mesmo não conquistando uma vaga em Harvard numa das temporadas, Rachel vai até Jessica e pede que ela seja uma nova exceção na firma ao cursar direito na faculdade de Stanford.
Ela não só consegue isso, como a firma pagaria sua faculdade ao longo dos anos. Ou seja: se você sabe do seu valor para a organização, demonstre isso e brigue pelos seus sonhos.
O que aprendemos com Suits?
Suits apresenta alguns ensinamentos valiosos ao longo da trama, muito pelo fato das narrativas se passarem dentro de um ambiente corporativo onde os personagens vivenciam problemas como os nossos. Listamos alguns, confira:
1) Não contrate apenas pelo diploma
Apesar de ser uma situação rara na vida real, há pessoas de muito talento e competência no mercado que não seguiram o caminho acadêmico tradicional e fazem sucesso por onde passam. Mike Ross nos prova que apenas conhecimentos vindos de uma graduação não garantem uma carreira de sucesso — muito menos sua contratação.
Investigue a história dos candidatos. Veja se o tipo de inteligência, atrelado às competências socioemocionais da pessoa, são os desejados para a função que deseja recrutar. Lembre-se que conhecimentos e habilidades são mais fáceis de adquirir, enquanto que mudar o comportamento é um processo muito mais difícil.
Mike era uma máquina de leitura e dedicação própria, mesmo sem cursar Direito em Harvard, além da facilidade e engajamento ao aprender as tarefas básicas de um advogado. Não estamos negando a necessidade da formação acadêmica durante a evolução profissional, mas quando seu propósito pessoal se alinha a sua natureza comportamental (caso do Mike) e sua vontade é interminável, tudo fica mais simples e produtivo.
2) Assuma riscos e valores
Toda organização quer crescer, ainda mais no mundo disruptivo atual. Entretanto, mesmo com as melhores tecnologias e recursos ao seu favor, é necessário pessoas corajosas e inovadoras, capazes de assumir riscos quando o contexto do negócio pede.
Temos dois exemplos claros disso na série: Harvey e Jessica. Enquanto o primeiro optou por contratar um jovem sem faculdade, apostando no seu brilhantismo e paixão por Direito, a segunda tomou diversas decisões arriscadas para salvar a continuidade da firma — desde sacrificar seus relacionamentos pessoais até perder a liderança absoluta ao fundir com outra empresa no final da segunda temporada.
Além de assumir riscos, adotar valores entre sua equipe e a organização como um todo é essencial para uma cultura positiva. Lealdade e comprometimento movem a trama de Suits. O que seria da dupla Harvey-Mike se ambos não confiassem um no outro? Mais do que vencer casos e comer bagels enquanto discutem a estratégia do próximo cliente, os dois promovem a lealdade no trabalho. Qual importante valor podemos assumir no nosso?
3) Conheça a sua família
Em diversos momentos da série (principalmente quando a situação apertava), os personagens principais se uniam para discutir o problema e buscar soluções. Era comum o termo “we are family” (nós somos uma família) surgir quando alguém parecia sem esperança de salvar a situação.
Digo isto porque a união entre Jessica, Harvey, Mike, Donna, Louis e Rachel só é possível e efetiva pelo fato de todos se conhecerem bem. Numa das temporadas, quando a firma está prestes a fechar as portas diante de uma ameaça quase irreversível, cada um dos protagonistas assume uma responsabilidade importante para evitar o desfecho negativo.
Quando conhecemos bem a nós mesmos e a quem nos cerca, sabendo as forças e fraquezas de cada um, a sinergia acontece de forma natural. Você conhece 100% a família que o cerca? (sua equipe, a organização, seus amigos e familiares). Mapear o perfil comportamental das pessoas e ter a sensibilidade de como eles interagem pode fazer a diferença nas horas decisivas.
Fale com a gente!
Se identificou com as características de algum personagem? O que achou da série? Conte para a gente nos comentários!
Este é o episódio de estreia da série “DISC e os sucessos da Netflix”. Na próxima semana, teremos o lançamento do segundo episódio.
Aproveite para baixar o nosso Guia Completo sobre a Metodologia DISC e ficar por dentro de tudo que a metodologia representa e como ela pode ajudar seu negócio a crescer.
Suits tem oito temporadas disponíveis no Netflix, e seu retorno para a nona e última temporada está previsto para Julho deste ano, no canal USA Network.
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Gabriel Coutinho
Gabriel Coutinho é UX Writer e graduando em Letras pela UNIRIO. Escritor nas horas vagas e leitor assíduo de tudo que envolve cinema e música. É apaixonado por cachorros, pop punk e The Office. Siga o Gabriel no Medium: @gabriel_martins e no Instagram: @coutinhogabriel