O chronoworking, também conhecido como chronotrabalho, é uma tendência que vem ganhando força no mercado. Diretamente relacionada à gestão de tempo, essa metodologia propõe que os profissionais tenham rotinas mais alinhadas com suas preferências e fatores biológicos em prol de um dia a dia com mais qualidade de vida, saúde mental e felicidade no trabalho. Por isso, o método depende de questões como flexibilidade, adaptabilidade e responsabilidade para cumprir as demandas mesmo fora do horário tradicional.
Oriundo do grego chronos, que significa “tempo” em português, o termo veio ganhando notoriedade conforme as discussões sobre rotinas flexíveis ficaram mais evidentes no cenário. A ideia central do chronoworking é propor novas formas de lidar com o ativo mais importante para os profissionais: o tempo. E é justamente o desejo por um cotidiano mais equilibrado entre a vida pessoal e a laboral que rege essa tendência.
Para as empresas, os resultados também são benéficos. Os profissionais conseguem lidar melhor com as próprias demandas, se tornando mais engajados, motivados e produtivos. Entretanto, é preciso ter cuidado, uma vez que o chronoworking também requer organização, autonomia e autogestão para que renda os frutos esperados. Mas, afinal, como implementar o método em uma empresa e quais impactos ele pode trazer na prática? É o que você vai descobrir no artigo de hoje. Boa leitura!
- O que é chronoworking?
- Origem dessa tendência
- Os quatro cronotipos
- Quais são as vantagens do chronoworking para empresas
- E as desvantagens?
- Principais desafios do chronoworking
- Como implementar o chronoworking?
- Chronoworking é uma tendência que veio pra ficar?
O que é chronoworking?
O chronoworking é uma metodologia de gestão de tempo que propõe que os colaboradores trabalhem em horários alinhados aos seus picos de energia naturais. Partindo do princípio de que cada pessoa tem um ritmo biológico, esse modelo defende que as empresas usem os “horários de pico” de cada profissional, a fim de aumentar a produtividade e melhorar a qualidade de vida no trabalho. E isso acontece mesmo que o pico de energia do colaborador não seja no horário comercial, ou seja, das 9h às 18h.
Cada pessoa possui um relógio biológico, que está diretamente associado aos seus momentos de energia. Há quem tenha facilidade para dormir e acordar cedo – e, normalmente, essas são as pessoas que têm mais energia antes do horário do almoço. Em contrapartida, há quem só consiga pegar no sono depois da meia-noite e tenha dificuldades para acordar com disposição. Nesse caso, o mais comum é que o momento de pico aconteça após o almoço, na parte da tarde.
A ideia do chronoworking é que a empresa reconheça essas particularidades, oferecendo modelos de trabalhos flexíveis, que respeitam cada um desses ritmos. Dessa forma, tanto a pessoa matinal quanto a noturna são contempladas e, em ambos os casos, elas trabalham de acordo com suas características biológicas. Na prática, isso significa que elas conseguem ser mais produtivas e precisam fazer menos esforço para se concentrar no trabalho, por exemplo. Por isso, o chronoworking é uma forma de maximizar a produtividade enquanto impacta o bem-estar dos profissionais.
Vale ressaltar, inclusive, que essa metodologia é bem vista tanto pela biologia quanto pela neurociência, uma vez que trabalha com o que é natural para o colaborador. Entretanto, por exigir flexibilidade, é comum que o modelo não seja bem aceito por todas as empresas, sobretudo as que têm culturas organizacionais mais fechadas e tradicionais.
É importante destacar, no entanto, que já existem uma série de estudos que atestam o poder da flexibilidade nas rotinas de trabalho, ainda que algumas empresas sejam relutantes à ideia. Nessa pesquisa conduzida pela International Workplace Group (IWG), com mais de 15 mil participantes de 100 países distintos, por exemplo, ficou constatado que, para 85% dos entrevistados, a flexibilidade impacta diretamente a produtividade. A pesquisa conclui que quanto mais autonomia o profissional tiver sobre sua própria rotina, mais produtivo ele será. E isso inclui o horário em que ele realiza as demandas.
Origem dessa tendência
O termo foi usado pela primeira vez pela jornalista norte-americana Ellen C. Scott na newsletter Working on Purpose. Em uma publicação feita em janeiro de 2024, ela refletiu sobre as tendências que acreditava que iriam se consolidar durante o ano. O post defende que, em 2023, o mundo inteiro começou a amadurecer as discussões sobre jornadas de trabalhos alternativas. Não à toa, uma série de movimentos a respeito da redução da jornada de trabalho tomou conta do cenário de lá para cá.
Dependendo do país, o horário tradicional da rotina de trabalho pode variar. Nos Estados Unidos, por exemplo, é comum que os turnos se iniciem às 9h e finalizem às 17h, durando de segunda a sexta-feira. No Brasil, o cenário mais tradicional é de 9h às 18h, com uma hora para o almoço, e pelo mesmo número de dias. Entretanto, desde o ano passado, empresas de diversos países vêm rompendo com esse padrão. Muitas, inclusive, já adotam a jornada de quatro dias por semana.
Na newsletter, a sugestão de Ellen é que esse momento de ruptura com a rotina tradicional também seja aplicado aos turnos das empresas para que o trabalho seja adaptado às preferências individuais de cada profissional. Afinal, como todos têm um relógio biológico que delimita os momentos de pico de energia, isso também pode ser utilizado para oferecer uma rotina de trabalho mais adequada a cada perfil – ou cronotipo, como ela mesmo chama.
Os quatro cronotipos
Ellen não foi a primeira pessoa a falar sobre cronotipos, no entanto. O termo é oriundo da psicologia e descreve, basicamente, os momentos de pico de energia e cansaço de uma pessoa em um ciclo de 24 horas. De acordo com o livro O poder do quando: Descubra o ritmo do seu corpo e o momento certo para almoçar, pedir um aumento, tomar remédio e muito mais (2017), do psicólogo e especialista em sono Michael Breus, existem quatro cronotipos distintos:
Leões
Costumam acordar por volta das 5h, dormem antes das 22h e têm um pico de energia pela manhã, dando preferência a realizar as tarefas mais pesadas até o meio dia. Eles compreendem 15% das pessoas, segundo os estudos de Breus.
Ursos
Costumam acordar por volta das 7h, dormem por volta das 23h e têm um pico de energia entre 10h e 14h, dando preferência a realizar as tarefas mais pesadas durante esse período. Eles compreendem de 50 a 55% das pessoas, segundo Breus.
Lobos
Gostam de acordar depois das 9h e raramente dormem antes da meia-noite. O pico de energia acontece à tarde, entre 12h e 16h. Eles compreendem entre 15 e 20% das pessoas.
Golfinhos
Têm uma propensão à insônia e um padrão de sono menos definido por conta disso. Entretanto, a janela de produtividade é grande e costuma acontecer entre 10h e 14h.
Quais são as vantagens do chronoworking para empresas
Implementar o chronoworking nas rotinas das empresas traz uma série de vantagens tanto para colaboradores quanto para a organização. As principais delas estão relacionadas à qualidade de vida e bem-estar no trabalho, o que se traduz em ganhos na capacidade produtiva do Capital Humano. Afinal, quando as pessoas cumprem suas demandas em horários os quais estão naturalmente mais dispostas, além de o trabalho ficar menos desgastante, elas conseguem ser mais produtivas. Dito isso, alguns benefícios notáveis são:
Saúde mental em dia
O chronoworking respeita o ciclo biológico de cada profissional, fazendo com que eles consigam lidar melhor com as rotinas e que trabalhem de forma orgânica com as tendências naturais. Isso culmina em equipes com profissionais mais saudáveis mental e emocionalmente. O desgaste, sob essas condições, também fica mais controlado, uma vez que a empresa e as lideranças criam meios para que Capital Humano trabalhe em prol do que lhe é natural. Assim, um ciclo ecologicamente humano é criado e o foco está nas necessidades do profissional.
Prevenção de doenças ocupacionais
Por definição, as doenças ocupacionais correspondem a qualquer tipo de complicações de saúde causadas pelo trabalho e pelas condições que o profissional enfrenta nele. Isso vai desde problemas físicos, como complicações na coluna, tendinites e impactos na visão dada a exposição a telas até condições de ordem mental, como o burnout. De acordo com dados divulgados pela Organização de Saúde Pan-Americana (OPAN), em 2021, 19% de todas as doenças que matam no mundo são frutos da rotina de trabalho. Independente da condição, investir em saúde mental e qualidade de vida é uma forma de prevenir. E é nesse ponto que entra o chronoworking.
Melhorias no clima organizacional
Quando a qualidade de vida no trabalho não é boa, a tendência é que os níveis de estresse, fadiga e esgotamento físico e mental sejam mais altos, o que abre espaço para desentendimentos internos. Entretanto, quando esse fator é priorizado na gestão de pessoas, é comum que aconteça o exato contrário: os ambientes de trabalho sejam saudáveis e os colaboradores, mais colaborativos e relacionais. Por isso, investir em pontos como o chronoworking é tão importante: esse é um exemplo de método que transcende os benefícios individuais e afeta o Capital Humano como um todo.
Employer experience positivo
Employer experience trata da “jornada do colaborador”. O termo diz respeito a uma estratégia de gestão de pessoas cujo colaborador é o centro das ações. Por isso, o conceito inclui uma série de estratégias pensadas para melhorar a rotina dos colaboradores e fazer com que eles construam uma perspectiva positiva da empresa enquanto um lugar para desenvolver carreira. Isso é importante para que o negócio seja visto dessa forma no mercado, consiga melhorar a atração de talentos e, também, para que a produtividade seja um forte da organização. E quanto mais personalizadas e flexíveis as rotinas forem, maiores as chances disso se consolidar.
Retenção de talentos
A retenção de talentos consiste em uma série de estratégias, políticas e práticas de uma empresa, a fim de assegurar a manutenção de seus profissionais. E um dos métodos mais usados para melhorar esses índices é o investimento na flexibilidade corporativa. Como o chronoworking propõe uma independência para os colaboradores trabalharem em horários que façam mais sentido para eles, essa é uma prática aliada na hora de reter talentos. Afinal, dando autonomia aos colaboradores para que eles assumam o controle de suas próprias rotinas produtivas, fica mais fácil deixá-los motivados e engajados.
Melhoria da reputação perante o mercado
Adotar o chronoworking como parte da cultura da empresa também faz com que a ela melhore sua reputação enquanto lugar para trabalhar frente ao mercado. Afinal, colaboradores felizes e satisfeitos em seus empregos compartilham esse sentimento com amigos, familiares e em redes sociais – o que acaba gerando um tipo de propaganda espontânea. O resultado é que a empresa fica conhecida como um bom lugar para trilhar a carreira e, consequentemente, acaba atraindo mais talentos toda vez que abre processos seletivos.
E as desvantagens?
A principal desvantagem em relação ao chronoworking tem a ver com a organização da rotina de trabalho. Entretanto, isso não afeta, necessariamente, o individual – o desafio de verdade é lidar com o coletivo nessas condições. Como os colaboradores começam e terminam de trabalhar em horários distintos, nem sempre é fácil alinhar demandas e fazer trabalhos colaborativos. Esse, inclusive, é um problema comum para empresas que precisam gerir funcionários oriundos de várias partes do mundo, por exemplo.
Por isso, o chronoworking, apesar de muito positivo para as equipes, requer um grande esforço para a gestão de pessoas, incluindo a comunicação e a colaboração. É importante ter estes pontos esclarecidos para que todos consigam trabalhar bem e cumprir as demandas conforme solicitado. Alcançar o consenso pode ser difícil, mas é um esforço que tanto a empresa quanto os colaboradores vão ter que fazer.
Principais desafios do chronoworking
Como vimos, apesar de o chronoworking trazer benefícios consideráveis para as equipes e empresas, na prática, esse processo precisa ser feito com bastante cuidado. Isso se dá porque, mesmo para colaboradores de gerações acostumadas com a tecnologia e a flexibilidade, nesse cenário, é fácil esbarrar em pontos como o desalinhamento de rotinas, o despreparo da gestão e até mesmo a falta de traquejo tecnológico de alguns profissionais. Assim, alguns dos principais desafios do chronoworking são:
Alinhamento de rotinas
Como mencionamos, esse é o principal ponto de atenção para quem deseja implementar o chronoworking nas empresas. Como os funcionários respeitam os próprios ciclos biológicos, é comum que haja discordância em relação aos horários. Quem tem picos de energia pela manhã, por exemplo, pode ficar completamente perdido caso o trabalho dependa de alguém que realiza as funções à noite. Por isso, é fundamental que haja um alinhamento prévio e uma organização para que nenhuma demanda seja prejudicada – e isso é um desafio à parte.
Lideranças despreparadas
Quando a empresa implementa um modelo de trabalho como o chronoworking, é fundamental que ela tenha líderes e gestores preparados para lidar com as adversidades trazidas por esse tipo de circunstâncias. Nesse cenário, o papel desse profissional fica ainda mais importante. Isso porque o gestor se torna um dos maiores responsáveis pela comunicação das equipes. Cabe a ele estabelecer formas para alinhar a atuação dos profissionais, deixar todos a par do que acontece dentro e fora de seus horários, além de criar rotinas para que os ruídos comunicativos sejam os menores possíveis.
Cultura organizacional conservadora
As culturas organizacionais conservadoras são caracterizadas pela manutenção dos valores, tradições, costumes e visão da empresa. Nesse cenário, a inovação não é valorizada, já que essas organizações buscam manter seus hábitos e aprofundar as raízes já criadas. Por isso, elas não são particularmente abertas às tendências do mercado, ainda que tragam bons resultados às empresas. Se o chronoworking for aplicado em um lugar onde a liderança tem essas características, será desafiador lidar com pontos como a flexibilidade de rotina.
Falta de tato com a tecnologia
Nem todos os profissionais têm facilidade para lidar com a tecnologia. No caso da geração Z, que são considerados nativos digitais, esse pode não ser um problema. Entretanto, para empresas que têm profissionais de gerações mais velhas como parte do Capital Humano, a ideia de entrar em horários alternativos e ter se adequar a ferramentas específicas para lidar com isso pode ser intimidadora. Dependendo dos recursos e acordos que forem feitos para o alinhamento das rotinas, as estratégias podem acabar sendo pouco acessíveis para quem tem mais dificuldade. Por isso, a falta de tato com a tecnologia também pode ser considerada um desafio do modelo.
Autogestão
A autogestão é uma soft skill que trata da capacidade de um profissional de gerir a si mesmo. Nesse sentido, a pessoa é responsável por definir a própria rotina, garantindo que suas responsabilidades sejam cumpridas. Nas empresas, isso significa que os profissionais vão conseguir dar conta das demandas no prazo combinado e sem abrir mão da qualidade. E pela definição, já é possível entender por que essa é uma capacidade muito importante para o chronoworking.
A questão é que, nem sempre, a empresa tem um Capital Humano que tenha como forte seja a autogestão. É comum, inclusive, o cenário contrário – equipes que são acostumadas com o acompanhamento próximo e controle dos gestores normalmente têm dificuldades para se adaptar ao modelo. Por isso, sobretudo no momento de transição, esse pode ser um desafio.
É válido mencionar, contudo, que esse desafio em particular tem uma saída simples. Pensando na atração de talentos com essa capacidade para o futuro, é possível realizar processos de recrutamento e seleção focando na autogestão dos candidatos. O Etalent Pro, software de gestão de pessoas voltado para a análise comportamental, permite fazer esse filtro antes mesmo de começar a fase de entrevistas. Além disso, com um processo bem feito de Assessment, que a ferramenta também possibilita, é possível entender quais dos profissionais têm essas características e quais deles precisam desenvolvê-la.
Como implementar o chronoworking?
É bem verdade que, dadas as características, o chronoworking é um modelo de trabalho mais adotado por profissionais autônomos. Entretanto, isso está longe de significar que ele não funciona nas empresas – muito pelo contrário. Os efeitos negativos de trabalhar fora do pico de energia são sentidos pelos profissionais nos escritórios, como mostra essa pesquisa feita pela consultoria norte-americana My Perfect Resume. Realizada com mais de 1500 profissionais do país, 94% alegaram que trabalham em horários em que não têm energia. E as estratégias para lidar com isso incluem tirar um cochilo no expediente (54%), tomar café (42%) e meditar (43%).
Para fazer com que o chronoworking funcione em empresas maiores, é preciso implementá-lo aos poucos; passo a passo. É o que relata Tawn Willians, consultora de bem-estar corporativo, em entrevista à Forbes. Para ela, nas empresas, deve haver uma adoção gradual que comece com pequenos ajustes nos horários e respaldando os resultados em indicadores de desempenho. “Ao identificar melhorias de eficiência durante períodos de tempo específicos, os empregadores podem introduzir incrementalmente opções de agendamento mais flexíveis” explicou.
Alguns relatos de portais estrangeiros também falam sobre estratégias utilizadas para fazer com que a metodologia funcione. Esta matéria da BBC, por exemplo, conta a história de Molly Johnson-Jones, CEO da Flexa, que conseguiu um denominador comum com os colaboradores quando implementou um horário “fixo” de alinhamento, de 11h às 15h, onde toda a equipe deveria estar online. Já o The StartUp Scout também fez uma publicação contando algumas das experiências, como pesquisas organizacionais para entender o horário de pico de energia dos profissionais, além do uso de ferramentas de colaboração de projetos. A partir disso, alguns passos interessantes a serem considerados na hora de implementar o chronoworking são:
Passo 1. Treinar lideranças
Como mencionamos, as lideranças são partes importantes na tarefa de fazer o chronoworking funcionar. Antes mesmo de implementar a metodologia, é importante fazer um treinamento desses profissionais para que eles tenham sucesso na missão de permitir a autonomia e a autogestão dos colaboradores. Afinal, de nada adianta tentar implementar o chronoworking em estruturas empresariais em que o poder seja exercido de forma verticalizada e microgerenciadora. Sem que esse ponto esteja alinhado, dificilmente algo funcionará.
Passo 2. Entender os padrões biológicos e comportamentais
Quando a empresa estiver segura em relação à atuação dos líderes, é hora de entender mais sobre o cronotipo dos colaboradores e seus padrões de perfil comportamental. Para além de identificar os horários em que há mais energia, também é amplamente recomendado conhecer as tendências do comportamento, para que a leitura da situação seja ainda mais completa. De acordo com a Metodologia DISC, uma das ciências comportamentais mais consagradas do mundo, existem quatro fatores responsáveis por determinar o comportamento de uma pessoa: Dominância, Influência, eStabilidade e Conformidade. Entendendo-os, a empresa consegue fazer uma gestão ainda mais flexível.
Passo 3. Fazer testes
Uma vez superadas as primeiras etapas, é hora de fazer testes e colocar o chronoworking em prática. Nessa etapa, é fundamental estar atento aos gargalos comunicacionais para encontrar formas de resolvê-los o quanto antes. Também é importante observar como os profissionais reagem, em termos de produtividade, à ideia de trabalhar de acordo com seus picos de energia.
Passo 4. Analisar o desempenho
Depois de feitos os testes iniciais e passado um tempo, é hora de mensurar os resultados obtidos durante o período. Para que essa etapa ocorra da melhor forma possível, é importante que a empresa já tenha definido, de forma prévia, quais recursos vai utilizar para fazer a avaliação e como isso irá acontecer. Esse momento também é importante para entender como está o alinhamento geral de demandas, e se tudo fluiu mesmo com as diferenças de horários entre os profissionais.
Passo 5. Fazer ajustes e feedbacks
Passados os momentos prévios, é hora de fazer ajustes e pedir feedbacks aos colaboradores sobre as experiências. Os retornos, por sinal, são extremamente importantes para que a empresa consiga aprimorar sua experiência com o chronoworking, visto que os profissionais vão ter uma boa noção do que fluiu no processo e, também, do que precisa estar mais azeitado. A partir dessas considerações, a empresa pode fazer sugestões ou implementar especificidades, como a citada por Tawn Willians. No caso dela, como havia dificuldade de conciliar os diferentes horários dos profissionais, a solução foi encontrar um horário fixo para todos – o que é uma boa sugestão, sobretudo no início.
Chronoworking é uma tendência que veio pra ficar?
Antes de entender se o chronoworking veio para ficar, é preciso refletir sobre as tendências para o futuro do trabalho. De acordo com Future of Jobs 2023, pesquisa realizada pelo Fórum Econômico Mundial, haverá, nos próximos anos, uma série de mudanças radicais quanto ao cenário corporativo. O relatório aponta para o desaparecimento e o aparecimento de novas funções indicam alguns cargos que, provavelmente, serão substituídos pela tecnologia em um futuro próximo, além de apontar quais das competências comportamentais serão necessárias para lidar bem com o cenário que vem se formando.
Dentre alguns pontos mencionados pela pesquisa, é importante ressaltar dois: a demanda por flexibilidade no trabalho e o foco em pessoas. O relatório explica que, conforme a tecnologia evolui, a tendência é que modelos de trabalho remoto sejam cada vez mais utilizados. E isso engloba escritórios virtuais, horários e ambientes flexíveis, além do investimento da autogestão dos profissionais para que eles consigam lidar bem com a ideia de ficarem plenamente responsáveis por suas rotinas. Não à toa, mesmo hoje, modelos de treinamento EAD como o microlearning vêm ganhando adeptos.
A Future of Jobs explica que isso faz parte de uma tendência que busca digitalizar, quase que completamente, os processos que envolvem os negócios. E isso faz sentido, também, quando consideramos as demandas das gerações que estão chegando ao mercado. Para os GenZ, por exemplo, que são nativos digitais, a ideia de executar processos presencialmente, mesmo que não haja necessidade, é o suficiente para que eles rejeitem uma vaga. Esse grupo de profissionais, que vai se tornar cada vez maior conforme chega ao mercado, está tão acostumado a viver em um ambiente digitalizado que, segundo essa pesquisa do Asana, 53% declara não ter um horário fixo para começar ou terminar de trabalhar.
Quanto à geração Z, é importante ressaltar que, além do costume, esse tipo de questão é um desejo. A afinidade com tecnologia faz com que eles valorizem a flexibilidade e que entendam que podem fazer praticamente qualquer coisa em um mundo digital – trabalhar, principalmente. Algumas pesquisas apontam que as rotinas flexíveis são mais importantes para esses profissionais do que o salário, por exemplo. Logo, quando estão em situações em que se sintam presos, a tendência é que procurem por outras oportunidades.
É nesse ponto que entra a outra tendência para o trabalho do futuro: o foco em pessoas. Na prática, isso significa que, cada vez mais, as empresas estão investindo em medidas pensadas para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar dos profissionais. Afinal, hoje em dia, sabe-se que as equipes são mais produtivas quando estão felizes e satisfeitas com suas atribuições – além de ficarem menos doentes. Logo, discussões sobre o propósito no trabalho também vêm se tornando populares. Os profissionais precisam estar em lugares onde se sintam inspirados e percebam que podem fazer a diferença. Hoje em dia, a questão financeira não é mais o suficiente – para esses colaboradores, felicidade, satisfação pessoal e trabalho andam de mãos dadas.
Todas essas discussões estão envolvidas na ideia de chronoworking. Na prática, o modelo de trabalho une a flexibilidade ao bem-estar, respondendo a demandas que estão previstas para o futuro do trabalho. Se, de fato, a tendência vem para ficar, ainda é um mistério – ela depende de como as empresas vão preparar seus colaboradores e os gestores para lidar com o cenário. Entretanto, já é possível dizer que essa é uma prática que traz benefícios tanto para os negócios quanto para o Capital Humano. E quando esses pontos se unem em prol de um objetivo em comum, os resultados extraordinários são apenas uma questão de tempo.
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Fernanda Misailidis
Fernanda Misailidis é jornalista e atua como Assessora de imprensa e Embaixadora da ETALENT. Carioca, é apaixonada por artes, ama estar nos palcos e não vive sem teatro.